Mudanças entre as edições de "Como ser um Cientista Marxista"

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(Dialética Sem Dogma, Robert Havemann)
({ História ⊗ Teoria ⊗ Política })
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Toda essa baboseira serve para inverter a consciência sobre a ciência ao considerarmos o porquê de um trabalhador científico (cientista) pensar o marxismo. A consciência crítica, cujas considerações levam em conta o ambiente social em sua historicidade, teoria e politica, se enxerga agente do mundo por transformá-lo ao descobrir ele. O cientista, então, pode perceber que não é inconsequente à esta transformação, mas, na verdade, transforma a existência independentemente de sua consciência ao contrário que algumas ideologias pensam. Isso não o confere nada mais que <b>responsabilidades</b> sobre sua atuação, tendo que revelar as particularidades dos três conceitos centrais às subseções para si e agir no mundo de forma categoricamente informada e consequente. Ação que põe seu trabalho no foco: em seu universo particular, grandes empresas de jornais científicos o roubam a liberdade acadêmica colocando sua suposta produtividade em termos capitalistas e os centros intelectuais funcionam ainda nos países imperialistas que estruturalmente exploram o sul global e tem visões sobre a existência limitadas por seu privilégio. Ao considerar que seu trabalho não é isolado, mas altamente dependente de uma estrutura econômica e infraestrutura física e social, encontra-se o universo do trabalho social total, no qual ele está inserido e que se torna, também, seu campo de atuação. A sociedade que o permite fazer a ciência não é algo fixo, mas parte da existência contemporânea dele em movimento que ele descobre ao se tornar crítico e transformador. Isso o inclui no fluxo e totalidade da realidade. Longa vida ao materialismo!  
 
Toda essa baboseira serve para inverter a consciência sobre a ciência ao considerarmos o porquê de um trabalhador científico (cientista) pensar o marxismo. A consciência crítica, cujas considerações levam em conta o ambiente social em sua historicidade, teoria e politica, se enxerga agente do mundo por transformá-lo ao descobrir ele. O cientista, então, pode perceber que não é inconsequente à esta transformação, mas, na verdade, transforma a existência independentemente de sua consciência ao contrário que algumas ideologias pensam. Isso não o confere nada mais que <b>responsabilidades</b> sobre sua atuação, tendo que revelar as particularidades dos três conceitos centrais às subseções para si e agir no mundo de forma categoricamente informada e consequente. Ação que põe seu trabalho no foco: em seu universo particular, grandes empresas de jornais científicos o roubam a liberdade acadêmica colocando sua suposta produtividade em termos capitalistas e os centros intelectuais funcionam ainda nos países imperialistas que estruturalmente exploram o sul global e tem visões sobre a existência limitadas por seu privilégio. Ao considerar que seu trabalho não é isolado, mas altamente dependente de uma estrutura econômica e infraestrutura física e social, encontra-se o universo do trabalho social total, no qual ele está inserido e que se torna, também, seu campo de atuação. A sociedade que o permite fazer a ciência não é algo fixo, mas parte da existência contemporânea dele em movimento que ele descobre ao se tornar crítico e transformador. Isso o inclui no fluxo e totalidade da realidade. Longa vida ao materialismo!  
  
Assim, chegamos ao final do surto. Ser um cientista marxista significa usar da lógica dialética para esclarecer a posição contraditória do trabalhador científico na história e da praxis para tornar o trabalho <b>libertador</b>. Exercício: O que isto significa?
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Assim, chegamos ao final do surto. Ser um cientista marxista significa usar da lógica dialética para esclarecer a posição contraditória de trabalhador científico na história e da praxis para tornar o trabalho <b>libertador</b>. Exercício: O que isto significa?
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Ah, <i>porque?</i> Cuz its fun!
  
 
<blockquote>"Esta determinação, pela sociedade, do processo de trabalho em relação a cada indivíduo não é endereçada ao homem em caráter individual, porém o atinge em função de sua situação de classe, origem e posição no contexto da comunidade. Não é feita intencionalmente mas decorre da estrutura do sistema, que prefigura a distribuição das oportunidades, com isso reduzindo a uma faixa extremamente estreita a área da opção em que a liberdade individual se mostraria capaz de dar a cada homem, mediante o trabalho que escolhesse, o destino que desejasse. No sistema em que vigoram rígidas divisões sociais o nascimento é praticamente uma sentença de vida, e com grande frequência, sobretudo nas regiões subdesenvolvidas, também é uma sentença de morte. O poder de adquirir a cultura <i>[FS](a cultura para si; há controle hegemônico sobre a cultura reconhecida socialmente)</i>, que daria ao homem a mobilidade de aplicação de si a um trabalho voluntariamente escolhido, vê-se limitado pela situação de origem do indivíduo. Em tais condições o papel existencial que o trabalho por natureza possui, de ser o princípio da criação de si do homem, está impedido de cumprir-se, porque o indivíduo tem de aceitá-lo passivamente por toda a vida, vindo de uma força exterior que o manieta e contra a qual, não tem possibilidades de reagir. Em vez de contribuir para formar o ser do homem, este se torna destruído no seu ser, isto é, na sua liberdade (de que decorreria o poder de fazer-se a si mesmo), para se tornar o ser produzido pelo trabalho que lhe é imposto. Neste caso, o trabalho inverte o papel que está destinado. Em vez de <i>ser para</i> o homem, este é que é <i>para</i> o trabalho, O atributo converte-se em substância, o instrumento em origem absoluta. Tal é a essência da escravidão, da servitude, da alienação do trabalho"
 
<blockquote>"Esta determinação, pela sociedade, do processo de trabalho em relação a cada indivíduo não é endereçada ao homem em caráter individual, porém o atinge em função de sua situação de classe, origem e posição no contexto da comunidade. Não é feita intencionalmente mas decorre da estrutura do sistema, que prefigura a distribuição das oportunidades, com isso reduzindo a uma faixa extremamente estreita a área da opção em que a liberdade individual se mostraria capaz de dar a cada homem, mediante o trabalho que escolhesse, o destino que desejasse. No sistema em que vigoram rígidas divisões sociais o nascimento é praticamente uma sentença de vida, e com grande frequência, sobretudo nas regiões subdesenvolvidas, também é uma sentença de morte. O poder de adquirir a cultura <i>[FS](a cultura para si; há controle hegemônico sobre a cultura reconhecida socialmente)</i>, que daria ao homem a mobilidade de aplicação de si a um trabalho voluntariamente escolhido, vê-se limitado pela situação de origem do indivíduo. Em tais condições o papel existencial que o trabalho por natureza possui, de ser o princípio da criação de si do homem, está impedido de cumprir-se, porque o indivíduo tem de aceitá-lo passivamente por toda a vida, vindo de uma força exterior que o manieta e contra a qual, não tem possibilidades de reagir. Em vez de contribuir para formar o ser do homem, este se torna destruído no seu ser, isto é, na sua liberdade (de que decorreria o poder de fazer-se a si mesmo), para se tornar o ser produzido pelo trabalho que lhe é imposto. Neste caso, o trabalho inverte o papel que está destinado. Em vez de <i>ser para</i> o homem, este é que é <i>para</i> o trabalho, O atributo converte-se em substância, o instrumento em origem absoluta. Tal é a essência da escravidão, da servitude, da alienação do trabalho"

Edição das 10h37min de 12 de agosto de 2023

Felipe Scalise; 05/04/2023; Santos, SP


Isto é, acima de tudo, um Manifesto!

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Índice

Introdução

Essa página é uma espécie de blog pessoal para a organização da minha leitura marxista e suas possíveis aplicações na intervenção na realidade possibilitadas pela ciência e pela atuação na área de pesquisa e ensino universitário. Em seu fim último, esse é um dos objetivos do marxismo, a práxis (unidade dialética contraditória superada da prática + teoria) pautada numa análise sustentada pelos fatos e pela realidade deduzida de si mesma, conforme observados, ou seja, pelo materialismo determinado pela fenomenotécnica.

Desde sua criação, o marxismo tomou muitos rumos, concretizando-se em acumulativos dias que abalaram o mundo, tanto em seus caminhos revolucionários quanto contra-revolucionários. Também está presente na base do desenvolvimento de outros pensamentos essenciais para a ciência {conhecimento teórico e prático} da revolução e da atuação do homem sobre sua realidade. O alcance da Teoria de Marx é tão amplo que, inevitavelmente, diversas interpretações e correntes apareceram, muitas vezes em desacordo. Aqui, nos limitaremos à crítica teoria, e não entraremos nas diversas práticas militantes que esta conduz (por mais que dialeticamente indevido). Mesmo assim, as opiniões são várias e contraditórias. Felizmente, o próprio marxismo nos dá a solução: Marx tem fé em seu processo por causa da justeza da análise, assim como nós deveríamos, somente após verificarmos, já que estamos tratando de uma ciência!

Assim, qualquer pessoa que quer ser marxista deve ter um dever com a ciência, com a rigorosidade de seus métodos teóricos e com uma análise profunda e justa de idéias contraditórias que escondem verdades cada vez mais profundas, tal é o materialismo dialético. Nem todo cientista é marxista, mas um marxista precisa ser científico!

Digo tudo isso para justificar a existência dessa página, que busca sistematizar e organizar o meu desenvolvimento dentro dessa teoria infinita, como também talvez inspirar alguma alma perdida que se encontra lendo no momento. Lembrarei-vos do que acabou de ser dito. Meu caminho não é o certo, minhas posições não tem validade alguma por si só e tudo é contestável. A interpretação Scaliseana não é a correta, ela é uma projeção (possivelmente falsa), uma faceta de um objeto inconcebível em sua totalidade! Por causa disso, a dialética é a nossa ferramenta de análise, use-a (por favor não de forma hegeliana!)!

Ao mesmo tempo, nada vem do nada, não se pode romper com a ideologia hegemônica sem um salto no escuro, baseado na fé no processo, após considerações sobre a ordem e a estrutura (na concepção Bohmiana). Assim, por mais que relativize a minha e todas posições, essa relativização ainda carrega suas leis que ditam o caminho teórico (e prático) a ser seguido. A história é feita de forma quantizada em indivíduos, carregando a continuidade ruptiva da sociedade e relativizada na subjetivação daquela, encontrada na interação desses dois em concepção e contextualização. Por isso, por meio da eterna análise, caminho, não de forma Browniana, mas de forma viva, ou seja, ordenando e selecionando. A especificidade da minha interpretação é explicitada na próxima seção, com uma breve justificativa de cada elemento que, se levada ao fim, espero livrar-se de dogma ou ideologia {Ver autocrítica 1}.

Aqui, encontram-se as leituras que eu fiz, que eu quero fazer e minhas reflexões sobre elas dentro do campo do marxismo e da produção científica. Espero que possam ser de ajuda para alguém que não sabe por onde começar a estudar o marxismo ou que querem refletir de forma crítica sobre um dos fenômenos mais bizarros da matéria: se conhecer!

Problemática

Aqui, problemática se refere ao conceito de Jaques Martin emprestado (e, portanto, desenvolvido) por Althusser. Este é um uso muito indevido da palavra, que poderia ser trocada facilmente por perspectiva mas o autor precisou incluí-la desta forma.

É necessário deixar explícito de qual lugar teórico parte a minha interação com o marxismo. O Viés é invisível em seu Óbvio. Espero que aqueles que estão fora dele possam ver o que eu não consigo. Enfim:

Eu me considero marxista por causa de seu método praxiomático de pensar o pensamento e sua filosofia política-econômica-social, leninista e trotskista pelas suas contribuições na arte da revolução e nos desenvolvimentos de estratégia e tática (respectivamente) e morenista por suas capacidades organizativas e sua atuação na luta socialista da América Latina.

Atualmente construo o Movimento Esquerda Socialista (MES), uma corrente do PSOL, o partido no qual eu deposito minhas esperanças (no sentido Freireano de esperançar) da construção de luta de classes no Brasil.

Porque ser um Cientista Marxista

Praxis: O conceito de práxis de Marx pode ser entendido como prática articulada à teoria, prática desenvolvida com e através de abstrações do pensamento, como busca de compreensão mais consistente e conseqüente da atividade prática - é prática eivada de teoria

Pautando minha disputa de consciência na capacidade de pensamento crítico e na política subjetiva inerente a todo sujeito, sinto a necessidade de convencer meus iguais o porquê de um cientista preocupar-se com o marxismo e aderir a este em sua intervenção do mundo. Muitos revolucionários (talvez por um "dever" com a revolução, por uma falta de autoconsciência ou, quem sabe, por causa de ego) não veem a necessidade de justificarem sua atuação no mundo e sua disputa de consciência se limita à autoafirmação, cuja "certitude" da linha supostamente trará a adesão de outras pessoas. Isto é insuficiente, e deve fazer parte da nossa contínua autocrítica.

Para mim, existem três razões principais que tornam o marxismo não só não-ignorável, como também necessário para todes os cientistas: razões históricas, razões teóricas e razões políticas.

História – Fato: O Marxismo Ocorreu e Decorre

O impacto do marxismo e suas ideias no mundo é inegável. Revoluções aconteceram e continuam acontecendo na base da interpretação marxista da sociedade em sua infraestrutura, estrutura e superestrutura. A historicidade do marxismo é algo que deve ser considerado critica-profundamente por todes que se dizem cientistas. Conforme compreendemos a ciência em seu contexto social (com sua estrutura centralizada), determinada de formas diversas inter-relacionadas com outros aspectos da sociedade, percebe-se a necessidade de uma Teoria que englobe esses fenômenos e os dê totalidade. Está é a problemática do marxismo – sua utilidade pode ser verificada empiricamente.

Visões simplistas da história muitas vezes tiram o ser humano de seu protagonismo no destino, no processo histórico do qual ele é objeto e que é objeto de sua subjetividade. No entanto, essa relação dialética fica clara com o marxismo e a acurácia desta análise transparece em diversos momentos e recortes da experiência humana. Alguns livros de Marx e de autores de revoluções são exemplos claro disso, o marxismo era o método deles e desvendava, de forma eternamente complexa e contraditória, as leis que carregavam a sociedade de um ponto ao outro. O fluxo cibernético do destino, a determinação mútua do ser humano e sua história. Recomendo a leitura do 18 de Brumário de Luís Bonaparte, por Marx, e A História da Revolução Russa, por Trotski como exemplos claros disso.

Similarmente, o marxismo ainda decorre. Isto é, nós continuamos inseridos numa sociedade alienadora, cujas relações sociais verdadeiras são obscuras e a ideologia ("uma realidade que é deduzida, não de si mesma, mas da idéia" -Engels) reina neste campo. Aderir ao marxismo, se propor entender o mundo em sua ciência, é descobrir este véu e tentar enxergar as verdadeiras leis pelas quais a sociedade segue o rumo que segue. Também é estar ativamente disposto atuar nela, de forma embasada, para construir em direção da libertação do ser humano.

Portanto, a história nos dá dois motivos para sermos marxistas: o passado demonstra a validade do método, com seus soluços como qualquer ciência, mas que já se provou nas inúmeras vezes do que a sociedade buscou se compreender na sua atuação sobre seu futuro. O presente, também nos dá razões, já que vivemos as contradições da contemporaneidade, que jamais podem ser vistas com receio, ou pior, com descaso, mas que devem se abrir ao cientista como a maior oportunidade de entender o mundo, entender-se no mundo, e agir categoricamente sobre este. No futuro, que faz parte da história só idealmente, encontramos razões para sermos otimistas críticos, como diria Paulo Freire, buscando nossa consciência crítica-transitiva, dele tirando, eternamente, nossa poesia.

Teoria – O Que Faz Ciência e O Que a Ciência Faz

Nota: O grande [Pinto] faz um trabalho bem melhor em todos os aspectos deste tópico. Recomendo imensamente a leitura do Ciência e Existência dele para um desenvolvimento dialético da teoria da ciência que eu sou simplesmente incapaz. Enfim, ficam as reflexões ;)

Muitos cientistas passam sua vida sem parar para pensar cientificamente sobre a ciência. Não existe hipocrisia acadêmica maior, pois não há objeto mais necessário de se analisar que a ferramenta pela qual analisamos o mundo. Algumas obviedades são tão capilares que precisam ser explicitadas: a ciência é um fenômeno da matéria, isto é, a matéria se organiza em relação à informação sobre si por meio do pensamento humano. Esse é o ponto mais inédito da vida conhecida atualmente. Portanto, quando pergunto "o que faz a ciência" a resposta é simples externamente e imensamente complexa internamente: a matéria em seu formato humano-social faz ciência. O que isto implica, como qualquer leitor de Marx pode ver, é que o marxismo deve ser a ferramenta conceitual desse desenvolvimento analítico, pois trata-se de uma relação cibernética, contraditória e, dessa forma, altamente dialética e materialista!

( ͡° ͜ʖ ͡°)

A outra pergunta posta no título, "o que a ciência faz" é menos clara e mais difícil de responder. Ao meu ver, está é uma questão ainda muito aberta, com diversas linhas filosóficas e empíricas que disputam a narrativa sobre este fenômeno. Posso dizer, talvez conflituosamente, que o objeto da ciência é a objetividade. A ciência busca verdade e caminha em direção de um conhecimento humano cada vez mais próximo da realidade da natureza, em sua capacidade de transpor para o plano subjetivo o que é real objetivamente. Infelizmente nunca achei resposta mais satisfatória, e isto diz muito, pois se baseia em conceitos improváveis por enquanto, como a existência da realidade ou da nossa capacidade de verdadeiramente observá-la. A leitura materialista, no entanto, pressupõe a existência da natureza a priori, ou seja, a realidade existe antes e para além do homem. Por nossa inteligência e cognição, podemos desvendá-la (será? rs). {Ver autocrítica 2}. Mesmo assim, e aqui está uma das belezas do marxismo, o desenvolvimento de uma teoria melhor está conectada à prática, e vice-versa. Fez-se práxis! Somente descobriremos o que a ciência faz, de verdade, conforme fazemos ciência, e é empírico que a ciência é feita e que nisso existe a autoconsciência desse processo, afinal, aqui estamos! Quando perguntamos "o que a ciência" faz, já há marxismo no momento em que escolhemos a ciência para obter a resposta por ser a melhor ferramenta para o trabalho!

Algum leitor pode sentir falta da filosofia da ciência nessa seção. A relação entre filosofia e ciência é muito central ao marxismo. Marx parte de filósofos como Hegel e Feuerbach para chegar numa ciência da história. Stalin separa (bem porcamente) o materialismo histórico e o materialismo dialético, um conceito de maior valor quando desenvolvido por Althusser ao falar sobre a ciência da história e a filosofia desta ciência, respectivamente. Ainda não está claro, para mim, qual é a resolução dialética dessa unidade complementar entre filosofia e ciência, mas as conexões entre esses dois não poderia ser mais gritante: filosofia da ciência e ciência da filosofia! Marx propõe ambos no seu método, em constante determinação mútua e combinada.

Por fim, ineditamente neste texto, vou trazer os aspectos estruturais a tona: a produção científica está inserida na sociedade capitalista e, portanto, reflete as características desta. O cientista contemporâneo é um trabalhador intelectual, cuja exploração também cria mais-valia e que interage com as contradições do modo de produção vigente. Ao pensarmos um pouco sobre como a ciência é produzida, por quem e para quem, como ela é difundida e socializada (ou não), e quão bem ela alcança todos os seres humanos e a intervenção deles no mundo, o capitalismo se mostra como um câncer tentaculoso que explora, à benefício da burguesia, todos os processos científicos. Até o imperialismo, superando os pesadelos mais macabros de Lenin, aparece, para mostrar suas presas como sempre. Essa exploração se consolida numa limitação da própria autocompreensão científica, como também no desenvolvimento pleno desta prática humana, como acontece com outros aspectos e fenômenos da sociedade. Nota-se que esta conclusão não parte do marxismo, mas que, na verdade, a análise crítica da ciência em seu estado atual aponta diretamente para as contradições que nos levam ao marxismo. A razão teórica para um cientista ser marxista é, também, porque a teoria científica da ciência revela os próprios limites estruturais capitalistas!

"Todo trabalho científico está vinculado à atividade econômica do país. Pode dizer-se que configura um ramo da sua economia, e portanto tem de reger-se pelas concepções, pelas leis que o grupo social que detém o comando da economia impõe como válidas para a obtenção de bens de consumo. Por conseguinte, a mudança na situação da produção da ciência só pode ter lugar pela alteração das condições sociais da produção social. Deste modo, o cientista, o pesquisador, que, sentindo as deficiências do ambiente para a execução de seu trabalho, quiser vencê-las, terá de lutar, em seu campo de pensamento e ação, contra as formas de produção econômica da sociedade a que pertence."


- AVP, Ciência e Existência

Política – Não Existe Carga Neutra Próxima da Barbárie

O ser humano em sociedade faz política. A ciência é inconcebível fora do contexto social que a confere acúmulo, continuidade e, prioritariamente, síntese. Portanto, não se é possível pensar nem ciência sem política, nem política sem ciência (essas palavras de ordem foram usadas pelas turmas 31 e 32 em sua mobilização contra Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, e deram o nome da gestão da qual eu fiz parte do Centro Acadêmico Favo22). Assim, começa nosso importante e árduo trabalho de considerar a ciência dentro do campo político no qual ela se desenvolve. Recomendo uma leitura antes, do texto Ciência e Política por professores do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Por mais que não tão aprofundado quanto eu gostaria em partes de sua tese, esse artigo busca esclarecer as contradições de uma ciência que não é consciente de sua influência política no mundo e da influência do mundo político sobre si.

Contemporaneamente, vivemos na autofágica hegemonia neoliberal que afirma o pior hábito do cientista: a auto-concepção de um ser além do mundo, um observador neutro e completamente sóbrio dos vícios da sociedade, empírico no seu pensamento e completamente objetivo. A cristalização do falso mérito. Nisso, esse cientista-deus ainda comete erros como homem, mas, ao servir seu propósito maior na prática científica, ele supera todo viés, pois há uma verdade maior e, quem sabe, eterna a qual ele se aproxima. Ironizo aqui essa ideologia apodrecida pois contra esses tipos de "fatos" só nos resta o deboche (a forma de discurso mais dialética em sua crítica, mas isso é um desenvolvimento para outro dia).

Já expliquei na última subseção sobre como a ciência está inserida na sociedade, enfaticamente na lógica de produção capitalista. Os efeitos que decorrem dessa insuficiência é uma ciência limitada, que não cumpre seu fim último absoluto – descobri-lo! Trazendo a discussão para o regime hegemônico do neoliberalismo, precisamos falar da posição reacionária sobre a polarização da nossa época, que se encontra no conflito entre a esquerda, comunista ou não, e o ressurgimento da extrema-direita organizada e influente. O que é dito, é que esses extremos são contra produtivos ao desenvolvimento pleno da sociedade, que eles antagonizam e lutam de forma destrutiva, acabando com o livre debate das ideias. Esta é uma posição que só é mantida dentro das relações sociais veladas pela ideologia neoliberal, que busca manter o status-quo de individualização que reproduz, de sua forma inédita, porém com o mesmo conteúdo, a exploração dos trabalhadores pelos donos dos meios de produção. Portanto, precisamos partir de algo mais profundo, buscando a origem e dinâmica da polarização. Ao observar-mos a realidade e enxergar nela a miséria, a exploração, a injustiça e, no limite, a falta de auto-determinação do destino da grande maioria dos sujeitos humanos (todos, na verdade, após a elevação dessa contradição), chegamos na conclusão da luta de classes e suas implicações.

Estas são implicações cruéis, inaceitáveis a qualquer um que considere os seres humanos como iguais em suas diferenças e diferentes em suas igualdades, e não há nada que indique o contrário senão pseudo-ciências eugenistas, elitistas e racistas. A polarização está aí: qual a verdadeira hierarquia da sociedade atual (estrutura) e se defendemos ou combatemos ela (política). Marx, analisando a estrutura econômica que dá a base para essa superestrutura, cujo conteúdo justifica, mesmo que falsamente, a primeira, deduz que o capitalismo é um Sujeito antagônico ao homem e sua liberdade. Portanto, como afirmei no subtítulo, não existe neutralidade perto da barbárie. Devemos lutar contra ela no momento que ela se torna aparente, tanto contra aqueles que desenvolvem linhas políticas de extrema diferenciação entre as pessoas, como os proto-fascistas do século XXI, quanto contra aqueles que usam de todo aparato para fingir um mundo justo que, objetivamente, não somente não é, mas cujas relações de exploração garantem as injustiças. Não só isso, e este é o cerne do combate ao neoliberalismo, fingir não ser influente ou complacente é em si apoiar toda a barbárie que nos cerca. A ciência, inserida de forma vital na reprodução e desenvolvimento de toda sociedade, precisa de uma auto-consciência crítica de seu lugar, papel e dever, e isto se dá pela consciência dos indivíduos que a constroem, os cientistas!

{ História ⊗ Teoria ⊗ Política }

Tendo feito o trabalho de particularizar as manifestações do marxismo relevantes à ciência nesses três tópicos centrais, é importante também realizar a combinação deles numa totalidade. Esse procedimento requer uma mudança de perspectiva conceitual para obter-se uma visão mais ampla do problema que revela os objetos em interação externa que não é nada mais que sua transformação interna aparente na externalidade conceitual (espero que isso fique mais claro a seguir). As razões históricas, teóricas e políticas, nessa mudança de perspectiva, se interiorizam para descrever a razão desses objetos conceituais, aqui entendida como as leis de sua transformação interna! Isso quer dizer que a novo ponto de observação é aquele de processo da realidade, bem descrito por nossa ciência e consciência dela. Assim, essa subseção se ocupa em colocar em movimento o que acabou de ser exposto em sua imediatez, algo que só pode ser feito quando consideramos a interação dialética entre eles (por isso o uso do produto tensorial (símbolos e sua magia)).

Vieira, mencionado acima, nos ensina que expor a dialética requer não pensar nas contradições, mas pensar por contradições. Portanto, postulo aqui que o ponto contraditório requerido para esta exposição é o ser humano: lente reflexiva central que separa o mundo subjetivo e o mundo objetivo, no qual a conceituação acontece e cuja capacidade de fazer trabalho proposital e informado pela reflexão, faz mediação desses dois universos para garantir suas necessidades e expandir suas possibilidades conscientemente. No entanto, isso revelaria somente a teoria e parte da história, o que é insuficiente. Acontece que o ser humano não pode ser entendido em sua totalidade isolado, muito pelo contrário, a existência do ser humano pressupõe seu coletivo: a sociedade. Vale dizer também que a sociedade pressupõe o ser humano (por enquanto hehehe) e assim chegamos na conclusão que o ponto contraditório postulado é duplo e único, o ser humano e sua sociedade em determinação recíproca, ampliando nossa análise ao resto da história e à política, como também conferindo à teoria outro nível de complexidade. Diga-se de passagem que, por mais que essa exposição siga a linearidade, a realidade não é esta. De fato, ideias não são fenômenos individuais, mas um acordo entre mentes pensantes (em movimento), a interação entre diferentes aparelhos cognitivos mediados pelo o que objetivo. É bom lembrar que estas são condições biológicas de reprodução e sobrevivência que chegam em sua superação conforme o ser humano obtém racionalidade (exemplo de dialética objetiva).

Agora, partindo do ser humano-social (ou ser social-humano!) e combinando os particulares numa totalidade abrangente podemos voltar à ciência. Estamos numa etapa específica da humanidade, esta entendida como um processo histórico acompanhada pela forma com a qual o humano entende e interage com o mundo externo teoricamente e como a sociedade se organiza, tanto em sua afirmação de estruturas sociais quanto a negação destas, politicamente. Para fechar a equação, nos resta somente entender que é por meio do trabalho, aqui visto como interação com o mundo intencional e representativa da finalidade da sociedade (ou média ponderada das finalidades dos indivíduos), que o ser humano garante reprodução da existência da humanidade, reciprocamente transformada por seu trabalho no mundo! Trabalho e cultura como mediadores entre o ser humano, suas intenções e o mundo, fechando um circuito humanizador. O ser humano se apropria das leis e do funcionamento da realidade objetiva para garantir suas necessidades de forma continuamente mais efetiva e tornar possível suas vontades. Conforme este processo vai ganhando método e (auto)consciência, a racionalidade que segue lhe confere caráter científico. Ademais, este processo retorna tanto ao sujeito quanto ao objeto, alterando-os: o mundo se torna cada vez mais humanizado, refletindo sua imagem idealizada pelo ser humano, enquanto este também se descobre e se encontra numa realidade cada vez mais modificável. O produzido produtor do que o produz.

Ao considerarmos a etapa que estamos, por mais que seja inédita, é simultaneamente apenas ponto particular da história. Uma de suas particularidades é, de fato, a ciência disponível e existente. Com sua capacidade de criar verdades subjetivas eternamente superadas e sempre presentes, ela se torna necessariamente o informativo do trabalho; o condicional da finalidade! Abre-se a dialética. A transposição do objetivo ao subjetivo é, de fato, sempre incompleta e com contínua auto-superação. Independentemente, considerando a ciência especifica deste momento, podemos chegar à consciência crítica que, ao obter movimento, se torna transitiva também. Isto não é nada mais que se apropriar da superação inerente de qualquer fase científica, o que requer conferir conteúdo histórico, teórico e político ao entendimento dela, fechar a dialética subjetiva. Esta conexão entre o trabalho e a ciência se torna ainda mais relevante ao entender que o trabalho científico é o descobrimento da realidade ao mesmo tempo que é alterado, às vezes qualitativamente, pelo o que é descoberto. A existência em sua forma científica não é somente o que é ou não descoberto, mas sobre o que é 'descobrível': o obscuro faz parte da existência consciente humana, fecha-se a dialética objetiva.

Toda essa baboseira serve para inverter a consciência sobre a ciência ao considerarmos o porquê de um trabalhador científico (cientista) pensar o marxismo. A consciência crítica, cujas considerações levam em conta o ambiente social em sua historicidade, teoria e politica, se enxerga agente do mundo por transformá-lo ao descobrir ele. O cientista, então, pode perceber que não é inconsequente à esta transformação, mas, na verdade, transforma a existência independentemente de sua consciência ao contrário que algumas ideologias pensam. Isso não o confere nada mais que responsabilidades sobre sua atuação, tendo que revelar as particularidades dos três conceitos centrais às subseções para si e agir no mundo de forma categoricamente informada e consequente. Ação que põe seu trabalho no foco: em seu universo particular, grandes empresas de jornais científicos o roubam a liberdade acadêmica colocando sua suposta produtividade em termos capitalistas e os centros intelectuais funcionam ainda nos países imperialistas que estruturalmente exploram o sul global e tem visões sobre a existência limitadas por seu privilégio. Ao considerar que seu trabalho não é isolado, mas altamente dependente de uma estrutura econômica e infraestrutura física e social, encontra-se o universo do trabalho social total, no qual ele está inserido e que se torna, também, seu campo de atuação. A sociedade que o permite fazer a ciência não é algo fixo, mas parte da existência contemporânea dele em movimento que ele descobre ao se tornar crítico e transformador. Isso o inclui no fluxo e totalidade da realidade. Longa vida ao materialismo!

Assim, chegamos ao final do surto. Ser um cientista marxista significa usar da lógica dialética para esclarecer a posição contraditória de trabalhador científico na história e da praxis para tornar o trabalho libertador. Exercício: O que isto significa?

Ah, porque? Cuz its fun!

"Esta determinação, pela sociedade, do processo de trabalho em relação a cada indivíduo não é endereçada ao homem em caráter individual, porém o atinge em função de sua situação de classe, origem e posição no contexto da comunidade. Não é feita intencionalmente mas decorre da estrutura do sistema, que prefigura a distribuição das oportunidades, com isso reduzindo a uma faixa extremamente estreita a área da opção em que a liberdade individual se mostraria capaz de dar a cada homem, mediante o trabalho que escolhesse, o destino que desejasse. No sistema em que vigoram rígidas divisões sociais o nascimento é praticamente uma sentença de vida, e com grande frequência, sobretudo nas regiões subdesenvolvidas, também é uma sentença de morte. O poder de adquirir a cultura [FS](a cultura para si; há controle hegemônico sobre a cultura reconhecida socialmente), que daria ao homem a mobilidade de aplicação de si a um trabalho voluntariamente escolhido, vê-se limitado pela situação de origem do indivíduo. Em tais condições o papel existencial que o trabalho por natureza possui, de ser o princípio da criação de si do homem, está impedido de cumprir-se, porque o indivíduo tem de aceitá-lo passivamente por toda a vida, vindo de uma força exterior que o manieta e contra a qual, não tem possibilidades de reagir. Em vez de contribuir para formar o ser do homem, este se torna destruído no seu ser, isto é, na sua liberdade (de que decorreria o poder de fazer-se a si mesmo), para se tornar o ser produzido pelo trabalho que lhe é imposto. Neste caso, o trabalho inverte o papel que está destinado. Em vez de ser para o homem, este é que é para o trabalho, O atributo converte-se em substância, o instrumento em origem absoluta. Tal é a essência da escravidão, da servitude, da alienação do trabalho"


- AVP, Ciência e Existência

Tradição Socialista na Ciência

Uma breve lista de cientistas que adotaram e desenvolveram as ideias de Marx e do socialismo:

  • Albert Einstein (1879 – 1955)
  • Vladimir Fock (1898 – 1974)
  • Robert Havemann (1910 – 1982)
  • Mario Schenberg (1914 – 1990)
  • David Bohm (1917 – 1992)
  • Yuri Orlov (1924 – 2020)

Livros

Nesta seção se encontram o compilado dos livros que eu li que são relevantes para o tópico proposto na discussão. Além de listá-los, também inclui diversos comentários sobre ele, provindos da minha leitura e das minhas reflexões que desenvolveram-se em conjunto. O formato desses comentários é muito livre e depende muito do conteúdo do livro como também meu estado mental na hora da escrita, portanto é caótico. A melhor coisa é ler o livro por conta própria. Eu provavelmente ainda tenho esses livros, então se alguém quiser algum volume emprestado, me encontre ;).

O Capital: Crítica da Economia Política, Karl Marx (incompleto)

Não sou muito aprofundado no O Capital, por falta de tempo e densidade da leitura. Também não me sinto capaz de comentar muito sobre o livro. Portanto, fica o link para o meu fichamento dos capítulos que eu ler. Recomendo que todos fichem O Capital, mas com calma e tempo que essa leitura demanda.

Afterword to the Second German Edition (1873)

Class struggle between capital and labour is forced into the background, politically by the discord between governments and the feudal aristocracy [...]

The peculiar historical development of German society therefore forbids, in that country, all original work in bourgeois economy, but not the criticism of that economy. It can only represent the class whose vocation in history is the overthrow of the capitalist mode of production.

Marx treats the social movements as a process of natural history, governed by laws not only independent of human will, consciousness and intelligence, but rather, on the contrary, determining that will, consciousness and intelligence

[The European Messenger of St. Petersburg; May Number, 1872; pp. 427-436]


The dialetic method according to Marx:

  1. Method of representation must differ in form from that of inquiry
    • appropriate the material in detail;
    • analyse its different forms of development;
    • trace their inner connection.

      after done:

  2. Actual movement can be adequately described
  3. If done successfully (that is, the life of the subject-matter is ideally reflected as in a mirror), then it may appear as if we had before us a mere a priori construction.
  4. The ideal is nothing else than the material world reflected by the human mind, and translated into forms of thought.
  5. Because it regards every historically developed social form as in fluid movement, it takes into account its transient nature not less than its momentary existence; it lets nothing impose upon it; it is, in its essence, critical & revolutionary.

Livro 1: O Processo de Produção do Capital

Educação Como Prática de Liberdade, Paulo Freire

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Leitura: Dezembro 2022

Seguem minhas anotações

  • a educação é a afirmação da liberdade
    • somente por meio da conscientização das massas populares enquanto sujeitos políticos e construtores culturais que se pode atingir a verdadeira democracia.
  • visão paternalista das elites
    • "a-luno" --> sem luz ==> elaboração de uma educação não libertadora
  • "a democracia como a liberdade é um dos temas históricos em debate e sua efetivação vai depender das opções concretas que os homens realizem"

    • esta visão é alheia à ideia de uma mudança de estruturas que transcorre de modo inapelável --> derivação mecanicista do marxismo
  • populismo: a ascensão popular não apenas se realiza por sua via institucional como é frequentemente estimulada através do Estado, a ambiguidade do regime populista entre mobilização democrática e manipulação aparece como característica central
  • homens igualmente livres e críticos
    • aprendem no trabalho comum de uma tomada de consciência da situação que vivem
  • a educação se antecipa a uma verdadeira política popular e lhe sugere novos horizontes.
  • o homem temporaliza-se --> existe no e com o mundo
    • transcendência humana:
      • transitividade de sua consciência
      • reconhecimento de sua condição de ser inacabado
      • descoberta de sua temporalidade
  • desumanização: acomodação ou ajustamento
    • a visão de si mesmo e do mundo não podem absolutizar-se
    • --[contrapõe-se]-> integração resulta da capacidade de ajustar-se à realidade acrescida de transformá-la ==> nota fundamental: criticidade
  • minimizado e cerceado, acomodado a ajustamentos que lhe sejam impostos, sem o direito de discuti-los, o homem sacrifica imediatamente sua capacidade criadora
  • a partir das relações do homem com a realidade, resultantes de estar com ela e de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele dinamizando o seu mundo --> vai dominando a realidade --> vai HUMANIZANDO-A
    • o homem é o fazedor da realidade
    • salienta-se a necessidade de uma permanente atitude crítica

[F]: Autoria Minha

(portanto é mais brisa que qualquer coisa útil)

  • "revolução permanente"
    • dada uma época de transição, qual é o papel da vanguarda da esquerda?
  • visões paternalistas de direção supérflua são contrárias ao próprio marxismo
  • uma esquerda que se propõe desenvolver um novo modelo de sociedade não pode ser contrária à conscientização e, portanto, à participação democrática absoluta das massas nos processos revolucionários
  • nas épocas de transição, o regime antigo alonga-se, buscando permanecer enquanto o novo consubstancia-se
    • visões mecanicistas deste processo não são condizentes com a realidade material da mudança
      • o homem em busca de sua liberdade tem que ser sujeito político, não objeto de manobra
  • cabe à vanguarda guiar a política da mudança. No entanto, não pode-se perder em nenhum absolutismo
    • aposta na natureza política inerente do indivíduo e das massas --> mediados pelo mundo
    • desenvolvimento dialético para com o proletariado. Agregado ao método, precisa estar presente o constante diálogo com o povo e suas experiências. Somente assim presenteia-se à esquerda a oportunidade de síntese materialista e metodológica
  • o erro neste processo, seja pela cautela excessiva para não perder o protagonismo da direção, tanto quanto pela cegueira dogmática provinda de um desvio ideológico, ou seja, que tem ideais abstratos como princípio, só acaba em derrota, seja no populismo, oportunismo ou autoritarismo.
    • portanto, afirmo que os valores da vanguarda devem estar pautados nas virtudes de humildade de seu conhecimento e confiança em seu método

o socialismo é

  • construção sintética e coletiva COM AS MASSAS
  • libertador não somente no que promete, mas em suas responsabilidades!

(fim da minha intervenção pessoal)

  • a radicalização, que implica no enraizamento que o homem faz na sua opção que fez, é positiva porque preponderantemente crítica
    • amorosa, humilde e comunicativa
  • o homem radical na sua opção, não nega o direito do outro de optar
  • não pretende impor sua opção
    • dialoga sobre ela
    • está convencido de seu acerto, mas respeita no outro o direito de também julgar-se certo
    • tenta convencer e converter, e não esmagar seu oponente
  • quando o oprimido legitimamente se levanta contra o opressor, é a ele que se chama de violento, de bárbaro, de desumano, de frio
  • a sectarização é uma matriz preponderantemente emocional e acrítica
    • é arrogante, antidialogal --> reacionária
    • o sectário se põe diante da história como seu único fazedor --> como seu proprietário (dogma e a propriedade da verdade)
      • para a esquerda: antecipar a história

[F]: é um dever com a dialética se perceber!

  • a verdadeira esquerda deve, como sujeito, com outros sujeitos, ajudar e acelerar as transformações, na medida que conhece para poder interferir
  • em sociedades alienadas --> incapazes de projetos autônomos de vida buscam nos transplantes inadequados a solução para os problemas do seu contexto
  • utopicamente idealistas <---> pessimistas & desesperançosos
  • a sociedade que se conhece --> sujeito
    • projetos, planos, resultantes de estudos sérios e profundos da realidade
  • otimismo crítico ==> esperança
  • a atitude subversiva à libertação do povo é essencialmente comandada por apetites, comandada por apetites, conscientes ou não, de privilégios (ver burocratização do PC)
  • o grande perigo do assistencialismo está na violência de seu antidiálogo
    • impõe ao homem mutismo e passividade

[Simone Weil]: a satisfação desta necessidade (responsabilidade) exige que o homem tenha de tomar a miudo decisões em problemas, grandes ou pequenos, que afetam interesses alheios aos seus próprios, com os quais, porém, se sentem comprometidos.

Anti-economicismo Freireano: "É preciso, na verdade, não confundirmos certas posições, certas atitudes, certos gestos que se processam, em virtude da promoção econômica – posições, gestos, atitudes que se chamam tomada de consciência – com uma posição crítica. A criticidade para nós implica na apropriação crescente pelo homem de sua posição no contexto. Implica na sua inserção, na sua integração, na representação objetiva da realidade. Daí a conscientização ser o desenvolvimento da tomada de consciência. Não será, por isso mesmo, algo apenas resultante das modificações econômicas, por grandes e importantes que sejam. {F: as modificações econômicas não são somente 'grandes' ou 'importantes, como diz Freire, mas necessárias. A forma da produção determina as superestruturas possíveis, é a realidade que abrange as possibilidades do homem em sua criação, auto-descobrimento e relação para-com o mundo. Mesmo assim, ainda é válida a critica, pois a estrutura não é a ciência da mudança} A criticidade, como a entendemos, há de resultar de trabalho pedagógico crítico, apoiado em condições históricas propícias."

Formações Econômicas Pré-Capitalistas, Karl Marx

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Introdução de Eric Hobsbawnm

Editora Paz e Terra S/A, 1977

Título original: Pre-Capitalist Economic Formations (1964)

Leitura: Janeiro 2023

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Sociologia da Ciência, múltiplos autores

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Editora da Fundação Getulio Vargas, 1975

Título original: Sociology of Science (1970)

Leitura: Janeiro 2023

Esse compilado de artigos vem de diversos autores e foi promovido pela UNESCO. Todos os artigos seguem uma visão positivista da sociologia da ciência, o que me pareceu como cientistas sociais considerando as dinâmicas internas da ciência, sem parar para olhar de forma crítica o contexto que as determinava e a implicação desses, salvo um. Ladislav Tondl salva este livro ao nos introduzir ao seu artigo: Situações de Conflito em Comunidades Científicas. Será nesta obra, 24 páginas das 190 que eu vou focar a minha reflexão. Não é como se os outros artigos (listados abaixo) não fossem bons, ou úteis, mas somente Tondl nos interessa por sua análise e síntese do processus científico, seu flerte com a cibernética e sua visão totalizadora de um cientista completo, ou seja, inserido e ator na sociedade democratica. Veja:

"Para conseguir resultados satisfatórios, os próprios cientistas precisam estar envolvidos amplamente nas condições políticas e sociais. Isto não significa, esencialmente, aceitar 'empregos', 'honrarias', ou 'altos encargos do Estado', mas representar parte ativa e direta na investigação de todos os problemas sociais importantes, como membro da intelectualidade científica e, naturalmente, o direito (grifo meu) de tomar iniciativas, mobilizar a opinião pública, etc."

O que torna a parte de Tondl essencial, no entanto, é como ele coloca a ciência diretamente contra o dogma e o monopólio do poder. Ladislav, conforme constrói sua visão científica, vai contrapondo esta com os vícios de ideologias que se afirmam na manutenção de seu controle e poder. O autor nos mostra que essa prática humana, cada vez mais complexificada, carrega dentro de si a resposta para os desvios do caminho revolucionário genuíno. Lembrai-mos que o marxismo é científico, que ele parte do materialismo para criticar a e atuar sobre a realidade, no entanto, ao ser feito por homens, como qualquer ciência, ele é falível. Da mesma forma, os mecanismos que garantem o progresso científico podem ser o que salvam esse rumo, ou seja, a pluralidade de opiniões, o embate aberto de ideias (não no sentido liberal, mas ideias de homens livres de opressão e que não implicam, jamais, em exploração) e a comprovação empírica de hipóteses. O marxismo morre conforme verdades eternas nascem, não deixemos falecer!

La formación de los cuadros, Vladimir Lenin

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Reconpilación de articulos y discursos

Editorial Progreso, 1975

Leitura: Janeiro/Fevereiro 2023

Este livro é uma coletânea de discursos, cartas e escritas feitas por Lenin de 1914 até o fim de sua vida, conforme o estado operário se consolidava. Desta forma, temos em nossas mãos uma verdadeira fotografia documental, que permite a análise própria dos posicionamentos dessa figura central ao desenvolvimento teórico marxista, da ciência e arte revolucionária e tão amplamente apropriado pelos diversos donos da verdade. O tópico específico desta obra, carregado de variantes formas por cada texto, é sobre a formação de quadros, ou seja, das pessoas que tem a capacidade e formação de direção das massas, que constroem o partido enquanto também disputam a consciência da base. Lenin sabia da importância dessas pessoas e, portanto, sua formação, por serem a ponte entre a teoria marxista e a prática revolucionária. Hoje em dia estamos rodeados por partidos comunistas cuja distância das pessoas comuns, presas em suas rotinas trabalhais, não poderia ser mais gritante. A práxis é o critério da verdade, e o nosso dever é manter ela assim.

Gosto muito da definição do centralismo democrático trazida na introdução do livro. Ela é muito bem sintetizada, sem carregar os vieses clandestinos ou exagerados necessários pela conjuntura de sua aplicação na época, mas que hoje formam a base de muitas práticas desmedidas de comunistas estéticos. Enfim, define-se

El centralismo democrático presupone la preparación y adopción colectivas de decisiones, con libertad de crítica y de discusión de las medidas que traza el partido. Todas las cuestiones relacionadas con la dirección del partido son resueltas por mayoria de votos. Además, el cumplimiento de los acuerdos adoptados por los congressos del partido es obligatorio para los comunistas. De esta forma se aseguran la unidad de acción, la unidad de voluntad y la educación de los militantes en espíritu de rigurosa disciplina de partido. La importancia de la democracia consiste en que ofrece a cada comunista la possibilidad de participar activamente en todos los asuntos del partido y formarse como un guía auténtico de las massas.

É importante ressaltar que Lenin acreditava que o partido deveria ter estrutura democrática de baixo para cima, que fica claro ao consideramos o dever deste partido: guiar a classe à sua missão histórica. Somente uma visão paternalista removeria as massas, representadas pelos quadros atuantes em suas respectivas esferas, dessa sua missão ou sua capacidade de (re)conhecê-la. Para mim, a verdadeira relação dialética entre o partido e as massas é que, enquanto o partido traça o caminho revolucionário pautado em sua estratégia e teoria, ele é determinado democraticamente pelos quadros das massas, organizados pela direção do partido. Isto é, as massas se dirigem (obviamente de forma secundária, para não cairmos nos vícios anarquistas) por meio da interpretação e análise conjuntural, centralizada no partido. Desvios dessa relação tem implicações materiais nas revoluções, que tomam direção contrária, uma doença dos comunismos (portanto a necessidade da leitura de Freire por quadros e direções!).

Dialética Sem Dogma, Robert Havemann

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Zahar Editores, 1967

Título original: Naturwissenschaftliche Aspekte philosophischer Probleme (palestra); Dialetik Ohne Dogma? – Naturwissenschaft und Weltschauung

Leitura: Fevereiro/Março 2023

Robert Havemann não é muito conhecido nos círculos que seu conhecimento brilha. Químico de formação, ele escreveu esse livro sendo abertamente comunista, para tratar da filosofia da ciência e a dialética ali encontrada, da sua visão de 'moral socialista', e comentar sobre a situação com o socialismo de sua época, anos 60. Alemão, comunista, quase preso por nazistas, liberado pelo Exercito Vermelho, comunista de novo, dessa vez no governo, e, depois sofre tortura psicológica e perseguição política pela produção desse texto (num governo socialista). Importante dizer que esse livro é inicialmente publicado como uma coleção de palestras, chamadas Aspectos Científicos de Problemas Filosóficos. Talvez ele tenha falado sobre a dialética de forma contra-revolucionária...

Metade desse livro trata de problemas científicos, a outra, de problemas socialistas. Obviamente essa é uma divisão burra e simplista minha, pois as coisas se conversam: no método. Havemann tem um talento imenso em sua redução de problemas em Unidades Dialéticas Contraditórias, que eu, carinhosamente, chamo de UDCs. Por esse meio, ele toca seus alunos como um maestro, que, além de assistir, aparecem no final na transcrição de seus seminários. Havemann é verdadeiramente muito bom em trazer as diversas contradições relevantes para a decomposição dialética de diversos problemas e questões que ele apresenta. Ele argumenta que a dialética tem um potencial grande em seu uso nas ciências da natureza (Naturwissenschaft) além de caracterizar um pouco essa visão. O livro menciona diversas vezes o livro de Engels, "Dialetics of Nature", que eu ainda não li, mas que eu já vi sendo criticado em alguns textos e espaços. Mesmo assim, este serve somente como uma inspiração primordial, que ele supera, trazendo a tona diversos fenômenos, tanto científicos quanto sociais contemporâneos a ele.

A física quântica é o material central de seu desenvolvimento científico, sobre a qual ele busca encontrar uma solução filosófica para a teoria que foge tanto de sua significação, até hoje. Dentro do universo de Marx, onde a filosofia e a ciência se conversam e o materialismo reina, não há nada mais temível que uma ciência sem filosofia, que redefine em incerteza nossa capacidade de determinar nossos conceitos teóricos para com a realidade. Como descreve o físico Elio Conte (que só fala brisa, mas aborda este conceito de forma interessante):

"There are stages of our reality in which we no more can separate the logic (and thus cognition and thus conceptual entity) from the features of “matter per se”. In quantum mechanics the logic, and thus the cognition and thus the conceptual entity-cognitive performance, assume the same importance as the features of what is being described. We are at levels of reality in which the truths of logical statements about dynamic variables become dynamic variables themselves so that a profound link is established from its starting in this theory between physics and conceptual entities."

Mas não precisamos temer, ele também nos dá esperança no processo, ou melhor, transformação dialética:

"Finally, in this approach there is not an absolute definition of logical truths. Transformations , and thus … “redefinitions”…. of truth values are permitted in such scheme as well as the well established invariance principles, clearly indicate"

De forma parecida, Havemann nos dá esperança da superação das limitações conceituais e da exaustão de algumas teorias por meio da dialética, sem dogma, óbvio! Já no começo ele posta a seguinte questão: A Filosofia Tem Ajudado as Ciências Naturais Modernas na Solução de Seus Problemas?

Análise Crítica Da Teoria Marxista, Louis Althusser

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Zahar Editores, 1967

Título original: Pour Marx (1965)

Leitura: Março/Junho 2023

Nota: Mesmo durante a leitura, como também depois dela, senti uma certa tendência no Althusser que não me agradava. O autor claramente demonstra conhecimentos avançados e profundos sobre o marxismo, mas sua síntese teórica, política e lógica deixa a desejar muito (lembrando que esta é uma obra de sua juventude acadêmica). Com o tempo fui acumulando críticas de outros autores marxistas sobre ele e consigo formular melhor meu entendimento contraditório de Althusser. Enfim, isso é dito para contextualizar os comentários abaixo, que variam entre concordância e discordância mas sem algum fio lógico rigoroso de fato. Por isso, desculpem a confusão e os erros que seguem :)

De acordo com o meu dirigente, eu deveria ler alguns livros do Marx e do Lenin antes de ler esse. Por mais que eu tenha acordo, e provavelmente volte para esse livro depois dessas leituras mencionadas, o autor me prendeu fortemente com sua forma de pensar o marxismo, e por isso escolhi continuar. Althusser foi um dos primeiros pensadores que eu vi abertamente tentando esclarecer o entendimento do marxismo em si, tanto para Marx, que ele separa em Jovem e Maduro, quanto para os alunos do mestre, como ele foi e como nós possivelmente somos. A compreensão de Marx requer esforço crítico, pautado na história e no contexto ideológico no qual os pensadores estão inseridos. Isto informa a problemática deles, a dinâmica do que e como o pensamento 'problematiza', quais questões ele levanta e como seus objetos internos estão organizados, colocados opostos um ao outro e desenvolvem a razão do autor – para o marxismo, percebemos rapidamente que os objetos se contradizem e que a razão, portanto, é dialética. Althusser escreve esse livro no século 60, um momento de muito abalo para os marxistas, seguindo o 'culto de personalidade' e a morte de Stalin, o dirigente que, ao meu ver, contribuiu para a prisão do desenvolvimento teórico marxista numa dialética mecanicista estatal, aparelhada para a manutenção do poder burocrata e contra-revolucionário. Em contra-partida, a interpretação humanista sobre Marx, apoiada sobre seus textos antigos (ou seja, jovens) que começaram a aparecer também são parte da crítica do autor, como vestígios Feuerbachianos que o marxismo supera somente quando ele se torna algo independente da Ideologia Alemã – ele está buscando algo mais embasado em seu desenvolvimento marxista. Ainda há esperança, em 30 anos cai o muro de Berlin (olhe o código e quem policia a polícia).

Althusser supera esse dilema ao afirmar que o marxismo tem que ser estudado de forma marxista, ou seja, apliquemos a teoria marxista para desenvolver nossa compreensão dela. A cibernética desse processo não está perdida na concepção do autor, muito pelo contrário. Ele cria esta tese entendendo muito bem como esse é um processo praxiomático que exponencialmente ganha potência. Para dar algum ponto de partida e permitir uma análise filosófica de Marx, ele utiliza dos conceitos de problemática para "designar a unidade específica de uma formação teórica" e cesura epistemológica, para "pensar a mutação da problemática teórica da fundação de uma disciplina científica". Nos é muito útil que o autor decide tão explicitamente e cedo no livro falar sobre as ferramentas centrais à sua análise, além de seu objeto: o desenvolvimento do marxismo marxiano e suas implicações no desenvolvimento do marxismo marxista. É um tópico muito importante, pois dá ao teórico marxista uma base firme ao olhar de maneira critica a própria história do pensamento. Com o método explicitado, podemos também questionar algumas suposições do autor, que, na minha opinião, por mais que faça contribuições inquestionáveis, inéditas e essenciais para a compreensão da Teoria, ainda caí em suposições ideológicas e carece em dialética em algumas de suas conclusões. Nota-se que Althusser retoma criticamente muitas de suas posições em seu livro 'Crítica e Auto-Crítica, além de ser muito comentado por outros teóricos marxistas como Ruy Fausto (Marx: Lógica e Política - Tomo I) e Adolfo Sánchez Vázquez (Ciência e Revolução).

Resumindo os conteúdos do livro, podemos chegar à seguinte lista:

  • Um método marxista para aprender o marxismo, com ênfase nos conceitos de problemática e cesura epistemológica
  • A divisão dos trabalhos de Marx de acordo com sua problemática filosófica e a implicação disto na leitura moderna marxista
  • Contraposição da dialética hegeliana com a dialética marxista e o conceito autoral de sobredeterminação
  • A dialética materialista e as contradições na estrutura com dominante
  • Apresentação de um humanismo socialista

Prefácio

No prefácio, está posto tudo mencionado acima, além de um contexto histórico e de necessidade prática dos desenvolvimentos que o autor traz. Esta prática de situar-se num dado contexto social e econômico é essencial para qualquer autor que queira lidar com as contradições inerentes ao seu posicionamento. Mesmo assim, Althusser muitas vezes é ideológico sobre sua crítica à ideologia (principalmente àquelas que precedem Marx e o formam como pensador enquanto ele as supera, por mais que o autor discordasse do uso desse termo (Aufhebung)). O que o autor faz muito bem, contudo, é descrever como Marx pensa sua filosofia enquanto desenvolve sua ciência sobre a história. Considerando o conhecimento como pré-condição da formulação científica das idéias, isto é, de forma que elas se apropriem da objetividade da realidade, nota-se que este pré-condicionamento é uma função do tempo conforme descobrimos e desvendamos mais (da história da humanidade, por exemplo) e também uma função da própria ciência sendo formulada, já que novos métodos de análise e pesquisa surgem e com eles verdades mais profundas. Assim, ao reconhecer isto no desenvolvimento metodológico e filosófico de Marx, Althusser identifica uma cesura na vida de Marx, contextualizando toda sua obra em torno desta:

"Foi ao fundar a teoria da história (materialismo histórico) que Marx, com um só e único movimento, rompeu com a sua consciência filosófica ideológica anterior e fundou uma nova filosofia (materialismo dialético)"

Ele ainda adverte que essa cesura dupla e única implica numa possível confusão entre a ciência e a filosofia, que causam muitos "materialistas" a declararem a morte da última em glorificação da segunda, um problema que Althusser reconhece e critica. Disto e com algum detalhamento das obras de Marx e sua posição na história do pensamento marxiano, Althusser busca trazer seu ponto final:

"que a leitura de Marx tenha, portanto, por condição prévia uma teoria marxista da natureza diferencial das formações teóricas e de sua história, isto é uma teoria da história epistemológico, que é a própria filosofia marxista".

Isto é um círculo dialético onde o próprio marxismo é o objeto do marxismo, uma teoria que ineditamente se define dialeticamente – não apenas como ciência da história, mas também como filosofia, capaz de dar conta de si! É por isso que a dialética serve de lógica para o método marxista, não é algo explicativo como muitos marxistas pensam, mas o próprio desenvolvimento do pensamento. Portanto, não basta utilizar dela para entender o marxismo, mas para desenvolver o entendimento e a própria teoria. É tudo dinâmico no pensamento dialético, pois a compreensão está em movimento.

I - O "Manifestos Filosóficos" De Feuerbach

O primeiro capítulo do livro busca divorciar Marx da problemática humanística inconsciente de Feuerbach. Não me aprofundarei muito, mas é importante dizer que Althusser considera A Ideologia Alemã como a ruptura consciente e definitiva de Marx com a filosofia e a influência de Feuerbach e, por extensão, de Hegel. O autor consegue contextualizar muito bem Marx como um pensador de seu tempo, isto é, atravessado pelas ideologias então presentes e dominantes, que ele tão bem combate depois para conscientemente superá-las. Althusser também expõe os limites ontológicos de Marx antes de sua ruptura, como ele apenas aplicava um método de problemática limitada e inconsciente sobre si (ética à inteligência da história humana). Mesmo assim, e aqui começa minha crítica, ao dizer que Marx "não fazia mais que aplicar a teoria de alienação [...] antes de estendê-la" e depois que, ao aderir à uma nova problemática, que "pode muito bem integrar certo número de conceitos da antiga, mas em um todo confere uma significação radicalmente nova.", Althusser divide a história num antes e depois conceitual e, portanto, inexistente. Não acho que ele faz errado, pois as conclusões teóricas tiradas disso são essenciais para a interpretação da vasta obra acumulada de Marx, porém o cerne dialético da questão está na ruptura e o que essa cisão implica no novo. Ou seja, a problemática de Marx é criada no contexto de insuficiência ideológica das ferramentas presentes ao Jovem Marx teórico. Com elas, ele pôde analisar o mundo e desenvolver-se tanto como hegeliano quanto feuerbachiano, por si só, contraditoriamente. Ao contrapor-se com essa contradição, a necessidade de uma problemática que se conheça torna-se aparente, e assim começa a morte da ideologia. Este processo no entanto, não é desconexo, muito pelo contrário. Ao vermos formas que transformam-se incompreensivelmente, procuremos supra-dimensões que as revelam não místicas, mas científicas! No campo teórico, foi o que Marx fez, superando (por mais que Althusser questione isto) a ideologia de seu tempo para, partindo de princípios científicos para criar a teoria que permite a inteligência de sua própria gênese.

O que Althusser carece, ao meu parecer, é verdadeiramente conseguir enxergar o pensamento marxiano e o desenvolvimento deste enquanto movimento dialético. Isto é, a discretização de Marx requer reunificação dialética com a continuidade histórica dos materialismos. O marxismo é deduzido de forma marxista por Marx também, não neguemos seus desenvolvimentos abstratamente.

II - Sobre o Jovem Marx

Neste capítulo, Althusser busca expor certos problemas (políticos, teóricos e históricos) de certas linhas marxistas do seu tempo, que ele considera humanistas e revisionistas. Por mais que ele faça críticas certeiras àqueles que buscam conferir validade teórica absoluta aos manuscritos que precedem a própria cisão de Marx com a filosofia ideológica nas quais ele foi formado, o autor parece não conseguir aplicar uma análise verdadeiramente processual do desenvolvimento do materialismo histórico e do materialismo dialético. No seu foco de ruptura, Althusser esquece que há continuidade. Ele faz muito bem em dizer que o futuro não valida o passado, ou seja, que não pode-se olhar para Marx validando suas posições passadas por causa da validade de suas posições futuras - a integridade de Marx é um ideal hegeliano. Ainda sim, o passado é validado em seu processo de tornar-se futuro: as ideias que permitiram o surgimento do Marx maduro eram dele Jovem.

Althusser traz uma frase de Hoeppner que vale a contemplação:

"Não se deve olhar a história da frente para trás, e procurar do alto do saber marxista germes ideais no passado. É necessário seguir a evolução do pensamento filosófico a partir da evolução real da sociedade"

O que eu acredito, é que só podemos olhar a história de frente para trás e que qualquer tentativa de inversão disso há de ser dialética. Desta forma, temos a capacidade de enxergar o processo dos objetos que estamos analisando, seja esta a história ou o pensamento filosófico de Marx. Para mim, Althusser somente nega o Jovem Marx abstratamente para salvar o marxismo do humanismo, mas neste ato, nega o próprio processo de entendimento dialético do marxismo. Ruy Fausto faz essa critica melhor, trazendo a ideia da interversão do anti-humanismo em humanismo e também do homem, até hoje, estar somente suposto.

Ciência e Existência, Álvaro Vieira Pinto (leitura atual)

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problemas filosóficos da pesquisa científica

Editora Paz e Terra S/A, 1985

Leitura: Junho 2023 - atual!


Meditações deste livro: a exigência de formação da consciência do pesquisador, o conhecimento como fator histórico, as ideias como bens de produção e bens de consumo, a dialética na natureza e no espírito, a importância do conceito de totalidade, a finalidade social da linguagem, a contradição fundamental do processo de hominização, a historicidade intrínseca da ciência, a ingenuidade das concepções metafísicas, a função da sociedade na teoria do conhecimento, a cultura como produto do processo-produtivo, o problema histórico da evolução da cultura, determinismo e finalidade, os grupos sociais que detêm o poder de ditar as finalidades da pesquisa científica, a finalidade como propriedade das elites, condições que impõe a exigência do raciocínio formal ao dialético, a lógica formal como lógica da ciência clássica, caráter existencial do pensamento dialético e a necessidade de comunicação, a superação da contradição entre lógica formal e dialética pelo critério da política existencial, o papel social da prática que se torna critério de verdade científica, a importância das relações de trabalho, a alienação do trabalho, caráter existencial da relação entre homem e máquina, a fase atual da automatização, o caso especial da realidade subdesenvolvida, a natureza dos instrumentos culturais, pesquisa e liberdade, o aspecto ético da criação científica, o cientista como trabalhador assalariado, caráter ideológico do conhecimento científico, o conceito de totalidade e a relação da consciência do país atrasado com a das áreas metropolitanas, a necessidade de rejeitar o pensamento econômico ou político alienado, relações entre a consciência e o método, definição da consciência crítica, o trabalho alienado como obstáculo à realização da liberdade do homem, relação entre o particular e o universal, o homem como ser submetido ao desafio do mundo, o desenvolvimento das ideias como reflexo da situação existencial, o significado humano da situação, a finalidade última do homem, etc., etc.

O meu texto estará organizado da seguinte forma:

palavras chave que servirão de nódulos conceituais serão apresentados como seções seguidos de

--> comentários do autor, indicados por setas

  • anotações minhas em cima do que é trazido por Vieira

É importante notar que no livro, por ser altamente dialético em sua análise e síntese, esses conceitos não só se conversam, mas estão em determinação recíproca contraditória, um entendimento central!

Conhecimento enquanto Processo

A Ciência

Dialética e Lógica Dialética

Marx: Lógica e Política. Tomo I, II e III, Ruy Fausto (leitura atual)

Investigações para uma reconstituição do sentido da dialética

Editora brasiliense, 1983 (Tomo I); 1987 (Tomo II)

Editora 34, 2002 (Tomo III)

Leitura: Julho 2023 - atual!

Introdução

A) Dialética marxista, humanismo, anti-humanismo, historicismo, antihistoricismo

B) A apresentação marxista da história

Artigos

Lenin without dogmatism, Joe Pateman

2019

https://doi.org/10.1007/s11212-019-09325-6

O dogma é a morte do pensamento crítico, é a crença cega e o culto. O dogmatismo é a sistematização do dogma, do qual fazem parte a censura, verdades absolutas e que resultam no mecanicismo e no culto de personalidade quando consideramos essa doença no comunismo, conforme a história nos mostrou. Pelo fim dos grandes homens, cuja adoração para além de suas contribuições desvalorizam o verdadeiro processo coletivo e plural que é o socialismo (UDC: unidade & totalidade).

Space, Time and the Quantum Theory Understood in Terms of Discrete Structural Processes, David Bohm

1966

http://www7.bbk.ac.uk/tpru/DavidBohm/PS15_DB_Space_time_Kyoto.pdf

A Genealogical Perspective on the Problematic: From Jacques Martin to Louis Althusser, Jean-Baptiste Vuillerod

Livro: Thinking The Problematic

2020

https://doi.org/10.1515/9783839446409-005

O Materialismo Histórico-Dialético e a Educação, Marília Freitas de Campos Pires

1997

https://doi.org/10.1590/S1414-32831997000200006

On Contradiction, Mao Tse-tung

1937

https://www.marxists.org/reference/archive/mao/selected-works/volume-1/mswv1_17.htm

Algumas Reflexões Sobre a Historiografia Contemporânea da Ciência, Shozo Motoyama

1975

https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/133167/129267

Citações Úteis

"O pensamento consiste tanto em decompor analiticamente os objetos representados na consciência em seus elementos como em unir os elementos conexos numa unidade. Sem análise não há síntese"

– Friedrich Engels

“We have busied ourselves and contented ourselves long enough with speaking and writing; now at last we demand that the word become flesh, the spirit matter; we are as sick of political as we are of philosophical idealism; we are determined to become political materialists.”

– Ludwig Feuerbach

“Seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica.”

– Paulo Freire

"Para Marx, o progresso é algo objetivamente definível, que indica, ao mesmo tempo o que é desejável. A força da crença marxista no triunfo do livre desenvolvimento de todos os homens não depende do vigor das esperanças de Marx neste sentido, mas na pretendida justeza da análise, segundo a qual é neste rumo que o desenvolvimento histórico finalmente conduzirá a humanidade."

– Eric Hobsbawm

"por dura que seja, no entanto, uma derrota é apenas uma derrota; não é a morte. E as derrotas das dialéticas podem sempre vir a ser, dialeticamente, aproveitadas pelos dialéticos"

– Leandro Konder

"El camarada Stalin, llegado a Secretario General, ha concentrado en sus manos un poder inmenso, y no estoy seguro de que siempre sepa utilizarlo con la suficiente prudencia. Por otra parte, el camarada Trotski, según demuestra su lucha contra el CC [Comitê Central (nota de Scalise)], con motivo del problema del Comisariado del Pueblo de Vias de Comunicación, no se distingue unicamente por dotes relevantes. Personalmente, quizá sea el hombre más capaz del actual CC, pero está demasiado ensoberbecido y deja llevar demasiado por el aspecto puramente administrativo de los asuntos"

"Do not debase our revolutionary science to the level of mere book dogma, do not vulgarise it"

– Vladimir Lenin

"A lógica desempenha, pois, o papel de mediação entre o sistema de filosofia, concebido na máxima generalidade, e a teoria da ciência e da pesquisa científica."

"A ciência é uma criação do homem, que descobre a possibilidade de transpor para o plano subjetivo o que é real objetivamente. O homem ao criar a ciência descobre que a cria, ou seja toma consciência da unidade destes aspectos contrários: sua penetração no âmago da realidade, pela praxis da pesquisa, e a simultânea transposição em conceitos universais, em proposições e teorias, dos conhecimentos particulares que vai adquirindo um a um. A lei, enquanto expressão formal, é um produto do pensamento, mas reflete, tal como esse pensamento em geral, a apenas a regularidade entre eles, mas a regularidade entre eles, mas a própria possibilidade de um pensamento, que se desenvolve historicamente até o ponto de se tornar capaz de constituir-se em consciência e conhecimento metódico dos fatos."

– Alvaro Vieira Pinto

"Bolshevism had absolutely no taint of any aristocratic scorn for the independent experience of the masses. On the contrary, the Bolsheviks took this for their point of departure and built upon it. That was one of their great points of superiority."

– Leon Trotski


Crítica e Auto-crítica

Caso alguém encontre alguma utilidade desta página, mesmo com suas limitações já mencionadas, eu gostaria que esta pessoa tivesse a oportunidade de interagir e criticar. Contestar, refletir e sintetizar é o que nos permite crescer em nossas concepções. Fica aqui, portanto, este espaço, onde pode ocorrer essas discussões e o diálogo de posições contrárias que ditam o rumo dialético das ideias.

Crítica

  1. Do filme, Captain Fantastic:
Ben: Ask her what she thinks of the working people creating an armed revolution against the exploiting classes and their state structures ?
C.F. Well, Marxists can be just as genocidal as capitalists.
Ben: Or whether or not she's a dialectical materialist and accords primacy to the class struggle ?
C.F. Avoid Marxism. Or telling her you're a Trotskyite.
Ben: Trotskyist. Only a Stalinist would call a Trotskyist a Trotskyite. And I'm not a Trotskyist anymore. I'm a Maoist.

Auto-crítica

  1. Inicialmente, a contextualização da minha visão marxista tinha somente caráter negativo, porém, após conhecer a leitura de Žižek sobre Lenin, percebi a necessidade de também ser afirmativo.
  2. Após leitura sobre o materialismo, que continua em andamento, percebi certas tendências idealistas que precisavam ser contraditas. Meu lado cientista me ensina a interpretar o mundo de forma eternamente relativa em conexão com os modelos e limites do alcance do conhecimento em qualquer etapa da consideração sobre o mundo, enquanto meu lado materialista, emprestado de Lenin, principalmente, indica que não pode-se cair nos limites empirocríticos, de reduzir o reflexo da matéria em si, e não de entendê-los na totalidade da matéria. Quando lembramos que estamos internos da totalidade da realidade, que somos parte do fenômeno que observamos, que observar é um fenômeno em si, cria-se a necessidade da existência da matéria e, portanto, do materialismo. Assim, as reflexões trazidas sobre a existência da realidade e sobre nossa capacidade de observá-la, se tornam dialéticas. Vivam as contradições da matéria pensante, das lentes que conceituam e a dinâmica da informação!



[ EM {eterna} CONSTRUÇÃO ]