Mudanças entre as edições de "Como ser um Cientista Marxista"

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Entendamos a autoconsciência proporcionada pela análise científica da ciência. A ciência progride de forma metodológica, criticamente lidando com os limites de seus próprios métodos e procurando maior aprofundamento na realidade. Ao mesmo tempo seu objeto é alterado com sua própria análise – o inquérito científico sobre algo proporciona novos dados e informações que podem transfigurar o objeto estudado radicalmente. Isto fica claro conforme refletimos sobre o progresso das noções ontológicas e funcionais do universo. <i>The proof is in the pudding</i>. Disso, se torna importante notar que é por meio da prática que as questões científicas são comprovadas. Seja em experimentos ou, mais generalizadamente, na praxis do ser humano sobre o mundo, percebe-se maior controle e previsões aproximadas dos fenômenos. Lembremos que a praxis está embutida na ciência, a pesquisa metodológica sobre a realidade que usa da realidade como régua verídica. Assim, por meio de praxis para com a realidade, a ciência se transforma continuamente, chegando ao fim a utilidade dos paradigmas formais e rígidos herdados da revolução científica. Podemos também dizer que nesse momento de crise de paradigma, surge a autoconsciência científica.  
 
Entendamos a autoconsciência proporcionada pela análise científica da ciência. A ciência progride de forma metodológica, criticamente lidando com os limites de seus próprios métodos e procurando maior aprofundamento na realidade. Ao mesmo tempo seu objeto é alterado com sua própria análise – o inquérito científico sobre algo proporciona novos dados e informações que podem transfigurar o objeto estudado radicalmente. Isto fica claro conforme refletimos sobre o progresso das noções ontológicas e funcionais do universo. <i>The proof is in the pudding</i>. Disso, se torna importante notar que é por meio da prática que as questões científicas são comprovadas. Seja em experimentos ou, mais generalizadamente, na praxis do ser humano sobre o mundo, percebe-se maior controle e previsões aproximadas dos fenômenos. Lembremos que a praxis está embutida na ciência, a pesquisa metodológica sobre a realidade que usa da realidade como régua verídica. Assim, por meio de praxis para com a realidade, a ciência se transforma continuamente, chegando ao fim a utilidade dos paradigmas formais e rígidos herdados da revolução científica. Podemos também dizer que nesse momento de crise de paradigma, surge a autoconsciência científica.  
  
Refletindo sobre si, sobre o conhecimento ou estatuto gnoseológico do pensamento, a ciência supera seus limites mais uma vez, desta vez epistemologicamente. O observador absoluto é colocado em xeque, o determinismo é questionado, as partes não parecem compor um todo. Relativiza-se estes conceitos chaves de forma que a ciência precisa se entender como investigadora do mundo e as contradições presentes nesta posição. É necessário superar a imagem comum e enxergar a realidade como ela é: contraditória.
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Refletindo sobre si, sobre o conhecimento ou estatuto gnoseológico do pensamento, a ciência supera seus limites mais uma vez, desta vez epistemologicamente. O observador absoluto é colocado em xeque, o determinismo é questionado, as partes não parecem compor um todo. Relativiza-se estes conceitos chaves de forma que a ciência precisa se entender como investigadora do mundo e as contradições presentes nesta posição. É necessário superar a imagem comum e enxergar a realidade como ela é: contraditória. Daqui, podemos pautar um paradigma verdadeiramente emergente. Todo conhecimento é um conhecimento humano. Mesmo nas ciências naturais, que tem como seu objeto a natureza, seu determinante é o conhecimento que o ser humano tem, sempre partindo do conhecido para avançar sobre o conhecível, eternamente reduzindo o não-conhecido. Esse é o movimento de humanização da natureza e da produção do ser humano de si mesmo dentro de um universo dado <i>a priori</i>. Trazendo a discussão para Marx (via Vázquez), podemos enxergar a unificação das ciências naturais e das ciências humanas, no sentido dialético. Há unidade entre o ser humano e a natureza, este sendo um ser natural que faz parte da natureza e esta é ser humano em seu conhecimento. Sem cair em antropologização absoluta, lembremos do materialismo que põe o universo como ente existente aquém e além do ser humano, além de cognoscível pela praxis. O novo paradigma que surge é aquele que põe o ser humano em relação prática com a natureza, posição que é contraditória e elucidada pelas leis dialéticas. A natureza tem estatuto ontológico antes do ser humano, mas, ao se tornar conhecida, se torna humanizada. Neste contexto, o desenvolvimento da produção da praxis produtiva (aqui entendida no seu contexto de produção científica), não passa de uma crescente humanização da natureza e, por conseguinte, humanização do ser humano.
  
 
===A Ciência como Atividade Humana, George F. Kneller===
 
===A Ciência como Atividade Humana, George F. Kneller===

Edição das 13h16min de 1 de novembro de 2023

Felipe Scalise; 05/04/2023; Santos, SP


Isto é, acima de tudo, um Manifesto!

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Índice

Introdução

Essa página é uma espécie de blog pessoal para a organização da minha leitura marxista e suas possíveis aplicações na intervenção na realidade possibilitadas pela ciência e pela atuação na área de pesquisa e ensino universitário. Em seu fim último, esse é um dos objetivos do marxismo, a práxis (unidade dialética contraditória superada da prática + teoria) pautada numa análise sustentada pelos fatos e pela realidade deduzida de si mesma, conforme observados, ou seja, pelo materialismo determinado pela fenomenotécnica.

Desde sua criação, o marxismo tomou muitos rumos, concretizando-se em acumulativos dias que abalaram o mundo, tanto em seus caminhos revolucionários quanto contra-revolucionários. Também está presente na base do desenvolvimento de outros pensamentos essenciais para a ciência {conhecimento teórico e prático} da revolução e da atuação do homem sobre sua realidade. O alcance da Teoria de Marx é tão amplo que, inevitavelmente, diversas interpretações e correntes apareceram, muitas vezes em desacordo. Aqui, nos limitaremos à crítica teoria, e não entraremos nas diversas práticas militantes que esta conduz (por mais que dialeticamente indevido). Mesmo assim, as opiniões são várias e contraditórias. Felizmente, o próprio marxismo nos dá a solução: Marx tem fé em seu processo por causa da justeza da análise, assim como nós deveríamos, somente após verificarmos, já que estamos tratando de uma ciência!

Assim, qualquer pessoa que quer ser marxista deve ter um dever com a ciência, com a rigorosidade de seus métodos teóricos e com uma análise profunda e justa de idéias contraditórias que escondem verdades cada vez mais profundas, tal é o materialismo dialético. Nem todo cientista é marxista, mas um marxista precisa ser científico!

Digo tudo isso para justificar a existência dessa página, que busca sistematizar e organizar o meu desenvolvimento dentro dessa teoria infinita, como também talvez inspirar alguma alma perdida que se encontra lendo no momento. Lembrarei-vos do que acabou de ser dito. Meu caminho não é o certo, minhas posições não tem validade alguma por si só e tudo é contestável. A interpretação Scaliseana não é a correta, ela é uma projeção (possivelmente falsa), uma faceta de um objeto inconcebível em sua totalidade! Por causa disso, a dialética é a nossa ferramenta de análise, use-a (por favor não de forma hegeliana!)!

Ao mesmo tempo, nada vem do nada, não se pode romper com a ideologia hegemônica sem um salto no escuro, baseado na fé no processo, após considerações sobre a ordem e a estrutura (na concepção Bohmiana). Assim, por mais que relativize a minha e todas posições, essa relativização ainda carrega suas leis que ditam o caminho teórico (e prático) a ser seguido. A história é feita de forma quantizada em indivíduos, carregando a continuidade ruptiva da sociedade e relativizada na subjetivação daquela, encontrada na interação desses dois em concepção e contextualização. Por isso, por meio da eterna análise, caminho, não de forma Browniana, mas de forma viva, ou seja, ordenando e selecionando. A especificidade da minha interpretação é explicitada na próxima seção, com uma breve justificativa de cada elemento que, se levada ao fim, espero livrar-se de dogma ou ideologia {Ver autocrítica 1}.

Aqui, encontram-se as leituras que eu fiz, que eu quero fazer e minhas reflexões sobre elas dentro do campo do marxismo e da produção científica. Espero que possam ser de ajuda para alguém que não sabe por onde começar a estudar o marxismo ou que querem refletir de forma crítica sobre um dos fenômenos mais bizarros da matéria: se conhecer!

Problemática

Aqui, problemática se refere ao conceito de Jaques Martin emprestado (e, portanto, desenvolvido) por Althusser. Este é um uso muito indevido da palavra, que poderia ser trocada facilmente por perspectiva mas o autor precisou incluí-la desta forma.

É necessário deixar explícito de qual lugar teórico parte a minha interação com o marxismo. O Viés é invisível em seu Óbvio. Espero que aqueles que estão fora dele possam ver o que eu não consigo. Enfim:

Eu me considero marxista por causa de seu método praxiomático de pensar o pensamento e sua filosofia política-econômica-social, leninista e trotskista pelas suas contribuições na arte da revolução e nos desenvolvimentos de estratégia e tática (respectivamente) e morenista por suas capacidades organizativas e sua atuação na luta socialista da América Latina.

Atualmente construo o Movimento Esquerda Socialista (MES), uma corrente do PSOL, o partido no qual eu deposito minhas esperanças (no sentido Freireano de esperançar) da construção de luta de classes no Brasil.

Porque ser um Cientista Marxista

Praxis: O conceito de práxis de Marx pode ser entendido como prática articulada à teoria, prática desenvolvida com e através de abstrações do pensamento, como busca de compreensão mais consistente e conseqüente da atividade prática - é prática eivada de teoria

Pautando minha disputa de consciência na capacidade de pensamento crítico e na política subjetiva inerente a todo sujeito, sinto a necessidade de convencer meus iguais o porquê de um cientista preocupar-se com o marxismo e aderir a este em sua intervenção do mundo. Muitos revolucionários (talvez por um "dever" com a revolução, por uma falta de autoconsciência ou, quem sabe, por causa de ego) não veem a necessidade de justificarem sua atuação no mundo e sua disputa de consciência se limita à autoafirmação, cuja "certitude" da linha supostamente trará a adesão de outras pessoas. Isto é insuficiente, e deve fazer parte da nossa contínua autocrítica.

Para mim, existem três razões principais que tornam o marxismo não só não-ignorável, como também necessário para todes os cientistas: razões históricas, razões teóricas e razões políticas.

História – Fato: A Ciência Faz História e É Histórica

{Esta secção foi re-formulada a partir da compreensão de Mosterín de história, fichado abaixo}

História, em amplo senso, é aquilo que se ocupa com o particular. Não precisa ser humano ou temporal, mas simplesmente a descrição de um sistema, uma parte específica e bem delimitada da realidade.

Toda ciência faz história ao coletar e organizar dados da realidade, auxiliada pelas diversas teorias que servem para dar extrapolação e explicação às observações do mundo. Ao mesmo tempo, a ciência é histórica, é em si um fenômeno da realidade que pode ser observada e categorizada e cuja análise requereu o uso de diversas correntes filosóficas tentando explicá-la teoricamente. Desta forma, a ciência é uma parte da realidade muito rica em determinações recíprocas, por tanto lidar com quanto constituir-se de história. Essa particularidade da ciência a abre à análise marxista, especialmente por uma relação simétrica que tem com a sociedade, algo explorado na próxima secção.

Ao mesmo tempo, precisamos ser científicos quando lidamos com a história do marxismo. O impacto do marxismo e suas ideias no mundo é inegável. Revoluções aconteceram e continuam acontecendo na base da interpretação marxista da sociedade em sua infraestrutura, estrutura e superestrutura. A historicidade do marxismo é algo que deve ser considerado critica-profundamente por todes que se dizem cientistas. Conforme compreendemos a ciência em seu contexto social (com sua estrutura centralizada), determinada de formas diversas inter-relacionadas com outros aspectos da sociedade, percebe-se a necessidade de uma Teoria que englobe esses fenômenos e os dê totalidade. Está é a problemática do marxismo – sua utilidade pode ser verificada empiricamente.

Visões simplistas da história muitas vezes tiram o ser humano de seu protagonismo no destino, no processo histórico do qual ele é objeto e que é objeto de sua subjetividade. No entanto, essa relação dialética fica clara com o marxismo e a acurácia desta análise transparece em diversos momentos e recortes da experiência humana. Alguns livros de Marx e de autores de revoluções são exemplos claro disso, o marxismo era o método deles e desvendava, de forma eternamente complexa e contraditória, as leis que carregavam a sociedade de um ponto ao outro. O fluxo cibernético do destino, a determinação mútua do ser humano e sua história. Recomendo a leitura do 18 de Brumário de Luís Bonaparte, por Marx, e A História da Revolução Russa, por Trotski como exemplos claros disso.

Similarmente, o marxismo ainda decorre. Isto é, nós continuamos inseridos numa sociedade alienadora, cujas relações sociais verdadeiras são obscuras e a ideologia ("uma realidade que é deduzida, não de si mesma, mas da idéia" -Engels) reina neste campo. Aderir ao marxismo, se propor entender o mundo em sua ciência, é descobrir este véu e tentar enxergar as verdadeiras leis pelas quais a sociedade segue o rumo que segue. Também é estar ativamente disposto atuar nela, de forma embasada, para construir em direção da libertação do ser humano.

Portanto, a história nos dá dois motivos para sermos marxistas: o passado demonstra a validade do método, com seus soluços como qualquer ciência, mas que já se provou nas inúmeras vezes do que a sociedade buscou se compreender na sua atuação sobre seu futuro. O presente, também nos dá razões, já que vivemos as contradições da contemporaneidade, que jamais podem ser vistas com receio, ou pior, com descaso, mas que devem se abrir ao cientista como a maior oportunidade de entender o mundo, entender-se no mundo, e agir categoricamente sobre este. No futuro, que faz parte da história só idealmente, encontramos razões para sermos otimistas críticos, como diria Paulo Freire, buscando nossa consciência crítica-transitiva, dele tirando, eternamente, nossa poesia.

Teoria – O Que Faz Ciência e O Que a Ciência Faz

Nota: O grande [Pinto] faz um trabalho bem melhor em todos os aspectos deste tópico. Recomendo imensamente a leitura do Ciência e Existência dele para um desenvolvimento dialético da teoria da ciência que eu sou simplesmente incapaz. Enfim, ficam as reflexões ;)

Muitos cientistas passam sua vida sem parar para pensar cientificamente sobre a ciência. Não existe hipocrisia acadêmica maior, pois não há objeto mais necessário de se analisar que a ferramenta pela qual analisamos o mundo. Algumas obviedades são tão capilares que precisam ser explicitadas: a ciência é um fenômeno da matéria, isto é, a matéria se organiza em relação à informação sobre si por meio do pensamento humano. Esse é o ponto mais inédito da vida conhecida atualmente. Portanto, quando pergunto "o que faz a ciência" a resposta é simples externamente e imensamente complexa internamente: a matéria em seu formato humano-social faz ciência. O que isto implica, como qualquer leitor de Marx pode ver, é que o marxismo deve ser a ferramenta conceitual desse desenvolvimento analítico, pois trata-se de uma relação cibernética, contraditória e, dessa forma, altamente dialética e materialista!

( ͡° ͜ʖ ͡°)

A outra pergunta posta no título, "o que a ciência faz" é menos clara e mais difícil de responder. Ao meu ver, está é uma questão ainda muito aberta, com diversas linhas filosóficas e empíricas que disputam a narrativa sobre este fenômeno. Posso dizer, talvez conflituosamente, que o objeto da ciência é a objetividade. A ciência busca verdade e caminha em direção de um conhecimento humano cada vez mais próximo da realidade da natureza, em sua capacidade de transpor para o plano subjetivo o que é real objetivamente. Infelizmente nunca achei resposta mais satisfatória, e isto diz muito, pois se baseia em conceitos improváveis por enquanto, como a existência da realidade ou da nossa capacidade de verdadeiramente observá-la. A leitura materialista, no entanto, pressupõe a existência da natureza a priori, ou seja, a realidade existe antes e para além do homem. Por nossa inteligência e cognição, podemos desvendá-la (será? rs). {Ver autocrítica 2}. Mesmo assim, e aqui está uma das belezas do marxismo, o desenvolvimento de uma teoria melhor está conectada à prática, e vice-versa. Fez-se práxis! Somente descobriremos o que a ciência faz, de verdade, conforme fazemos ciência, e é empírico que a ciência é feita e que nisso existe a autoconsciência desse processo, afinal, aqui estamos! Quando perguntamos "o que a ciência" faz, já há marxismo no momento em que escolhemos a ciência para obter a resposta por ser a melhor ferramenta para o trabalho!

Algum leitor pode sentir falta da filosofia da ciência nessa seção. A relação entre filosofia e ciência é muito central ao marxismo. Marx parte de filósofos como Hegel e Feuerbach para chegar numa ciência da história. Stalin separa (bem porcamente) o materialismo histórico e o materialismo dialético, um conceito de maior valor quando desenvolvido por Althusser ao falar sobre a ciência da história e a filosofia desta ciência, respectivamente. Ainda não está claro, para mim, qual é a resolução dialética dessa unidade complementar entre filosofia e ciência, mas as conexões entre esses dois não poderia ser mais gritante: filosofia da ciência e ciência da filosofia! Marx propõe ambos no seu método, em constante determinação mútua e combinada.

Por fim, ineditamente neste texto, vou trazer os aspectos estruturais a tona: a produção científica está inserida na sociedade capitalista e, portanto, reflete as características desta. O cientista contemporâneo é um trabalhador intelectual, cuja exploração também cria mais-valia e que interage com as contradições do modo de produção vigente. Ao pensarmos um pouco sobre como a ciência é produzida, por quem e para quem, como ela é difundida e socializada (ou não), e quão bem ela alcança todos os seres humanos e a intervenção deles no mundo, o capitalismo se mostra como um câncer tentaculoso que explora, à benefício da burguesia, todos os processos científicos. Até o imperialismo, superando os pesadelos mais macabros de Lenin, aparece, para mostrar suas presas como sempre. Essa exploração se consolida numa limitação da própria autocompreensão científica, como também no desenvolvimento pleno desta prática humana, como acontece com outros aspectos e fenômenos da sociedade. Nota-se que esta conclusão não parte do marxismo, mas que, na verdade, a análise crítica da ciência em seu estado atual aponta diretamente para as contradições que nos levam ao marxismo. A razão teórica para um cientista ser marxista é, também, porque a teoria científica da ciência revela os próprios limites estruturais capitalistas!

"Todo trabalho científico está vinculado à atividade econômica do país. Pode dizer-se que configura um ramo da sua economia, e portanto tem de reger-se pelas concepções, pelas leis que o grupo social que detém o comando da economia impõe como válidas para a obtenção de bens de consumo. Por conseguinte, a mudança na situação da produção da ciência só pode ter lugar pela alteração das condições sociais da produção social. Deste modo, o cientista, o pesquisador, que, sentindo as deficiências do ambiente para a execução de seu trabalho, quiser vencê-las, terá de lutar, em seu campo de pensamento e ação, contra as formas de produção econômica da sociedade a que pertence."


- AVP, Ciência e Existência

Política – Não Existe Carga Neutra Próxima da Barbárie

O ser humano em sociedade faz política. A ciência é inconcebível fora do contexto social que a confere acúmulo, continuidade e, prioritariamente, síntese. Portanto, não se é possível pensar nem ciência sem política, nem política sem ciência (essas palavras de ordem foram usadas pelas turmas 31 e 32 em sua mobilização contra Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, e deram o nome da gestão da qual eu fiz parte do Centro Acadêmico Favo22). Assim, começa nosso importante e árduo trabalho de considerar a ciência dentro do campo político no qual ela se desenvolve. Recomendo uma leitura antes, do texto Ciência e Política por professores do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Por mais que não tão aprofundado quanto eu gostaria em partes de sua tese, esse artigo busca esclarecer as contradições de uma ciência que não é consciente de sua influência política no mundo e da influência do mundo político sobre si.

Contemporaneamente, vivemos na autofágica hegemonia neoliberal que afirma o pior hábito do cientista: a auto-concepção de um ser além do mundo, um observador neutro e completamente sóbrio dos vícios da sociedade, empírico no seu pensamento e completamente objetivo. A cristalização do falso mérito. Nisso, esse cientista-deus ainda comete erros como homem, mas, ao servir seu propósito maior na prática científica, ele supera todo viés, pois há uma verdade maior e, quem sabe, eterna a qual ele se aproxima. Ironizo aqui essa ideologia apodrecida pois contra esses tipos de "fatos" só nos resta o deboche (a forma de discurso mais dialética em sua crítica, mas isso é um desenvolvimento para outro dia).

Já expliquei na última subseção sobre como a ciência está inserida na sociedade, enfaticamente na lógica de produção capitalista. Os efeitos que decorrem dessa insuficiência é uma ciência limitada, que não cumpre seu fim último absoluto – descobri-lo! Trazendo a discussão para o regime hegemônico do neoliberalismo, precisamos falar da posição reacionária sobre a polarização da nossa época, que se encontra no conflito entre a esquerda, comunista ou não, e o ressurgimento da extrema-direita organizada e influente. O que é dito, é que esses extremos são contra produtivos ao desenvolvimento pleno da sociedade, que eles antagonizam e lutam de forma destrutiva, acabando com o livre debate das ideias. Esta é uma posição que só é mantida dentro das relações sociais veladas pela ideologia neoliberal, que busca manter o status-quo de individualização que reproduz, de sua forma inédita, porém com o mesmo conteúdo, a exploração dos trabalhadores pelos donos dos meios de produção. Portanto, precisamos partir de algo mais profundo, buscando a origem e dinâmica da polarização. Ao observar-mos a realidade e enxergar nela a miséria, a exploração, a injustiça e, no limite, a falta de auto-determinação do destino da grande maioria dos sujeitos humanos (todos, na verdade, após a elevação dessa contradição), chegamos na conclusão da luta de classes e suas implicações.

Estas são implicações cruéis, inaceitáveis a qualquer um que considere os seres humanos como iguais em suas diferenças e diferentes em suas igualdades, e não há nada que indique o contrário senão pseudo-ciências eugenistas, elitistas e racistas. A polarização está aí: qual a verdadeira hierarquia da sociedade atual (estrutura) e se defendemos ou combatemos ela (política). Marx, analisando a estrutura econômica que dá a base para essa superestrutura, cujo conteúdo justifica, mesmo que falsamente, a primeira, deduz que o capitalismo é um Sujeito antagônico ao homem e sua liberdade. Portanto, como afirmei no subtítulo, não existe neutralidade perto da barbárie. Devemos lutar contra ela no momento que ela se torna aparente, tanto contra aqueles que desenvolvem linhas políticas de extrema diferenciação entre as pessoas, como os proto-fascistas do século XXI, quanto contra aqueles que usam de todo aparato para fingir um mundo justo que, objetivamente, não somente não é, mas cujas relações de exploração garantem as injustiças. Não só isso, e este é o cerne do combate ao neoliberalismo, fingir não ser influente ou complacente é em si apoiar toda a barbárie que nos cerca. A ciência, inserida de forma vital na reprodução e desenvolvimento de toda sociedade, precisa de uma auto-consciência crítica de seu lugar, papel e dever, e isto se dá pela consciência dos indivíduos que a constroem, os cientistas!

{ História ⊗ Teoria ⊗ Política }

Tendo feito o trabalho de particularizar as manifestações do marxismo relevantes à ciência nesses três tópicos centrais, é importante também realizar a combinação deles numa totalidade. Esse procedimento requer uma mudança de perspectiva conceitual para obter-se uma visão mais ampla do problema que revela os objetos em interação externa que não é nada mais que sua transformação interna aparente na externalidade conceitual (espero que isso fique mais claro a seguir). As razões históricas, teóricas e políticas, nessa mudança de perspectiva, se interiorizam para descrever a razão desses objetos conceituais, aqui entendida como as leis de sua transformação interna! Isso quer dizer que a novo ponto de observação é aquele de processo da realidade, bem descrito por nossa ciência e consciência dela. Assim, essa subseção se ocupa em colocar em movimento o que acabou de ser exposto em sua imediatez, algo que só pode ser feito quando consideramos a interação dialética entre eles (por isso o uso do produto tensorial (símbolos e sua magia)).

Vieira, mencionado acima, nos ensina que expor a dialética requer não pensar nas contradições, mas pensar por contradições. Portanto, postulo aqui que o ponto contraditório requerido para esta exposição é o ser humano: lente reflexiva central que separa o mundo subjetivo e o mundo objetivo, no qual a conceituação acontece e cuja capacidade de fazer trabalho proposital e informado pela reflexão, faz mediação desses dois universos para garantir suas necessidades e expandir suas possibilidades conscientemente. No entanto, isso revelaria somente a teoria e parte da história, o que é insuficiente. Acontece que o ser humano não pode ser entendido em sua totalidade isolado, muito pelo contrário, a existência do ser humano pressupõe seu coletivo: a sociedade. Vale dizer também que a sociedade pressupõe o ser humano (por enquanto hehehe) e assim chegamos na conclusão que o ponto contraditório postulado é duplo e único, o ser humano e sua sociedade em determinação recíproca, ampliando nossa análise ao resto da história e à política, como também conferindo à teoria outro nível de complexidade. Diga-se de passagem que, por mais que essa exposição siga a linearidade, a realidade não é esta. De fato, ideias não são fenômenos individuais, mas um acordo entre mentes pensantes (em movimento), a interação entre diferentes aparelhos cognitivos mediados pelo o que objetivo. É bom lembrar que estas são condições biológicas de reprodução e sobrevivência que chegam em sua superação conforme o ser humano obtém racionalidade (exemplo de dialética objetiva).

Agora, partindo do ser humano-social (ou ser social-humano!) e combinando os particulares numa totalidade abrangente podemos voltar à ciência. Estamos numa etapa específica da humanidade, esta entendida como um processo histórico acompanhada pela forma com a qual o humano entende e interage com o mundo externo teoricamente e como a sociedade se organiza, tanto em sua afirmação de estruturas sociais quanto a negação destas, politicamente. Para fechar a equação, nos resta somente entender que é por meio do trabalho, aqui visto como interação com o mundo intencional e representativa da finalidade da sociedade (ou média ponderada das finalidades dos indivíduos), que o ser humano garante reprodução da existência da humanidade, reciprocamente transformada por seu trabalho no mundo! Trabalho e cultura como mediadores entre o ser humano, suas intenções e o mundo, fechando um circuito humanizador. O ser humano se apropria das leis e do funcionamento da realidade objetiva para garantir suas necessidades de forma continuamente mais efetiva e tornar possível suas vontades. Conforme este processo vai ganhando método e (auto)consciência, a racionalidade que segue lhe confere caráter científico. Ademais, este processo retorna tanto ao sujeito quanto ao objeto, alterando-os: o mundo se torna cada vez mais humanizado, refletindo sua imagem idealizada pelo ser humano, enquanto este também se descobre e se encontra numa realidade cada vez mais modificável. O produzido produtor do que o produz.

Ao considerarmos a etapa que estamos, por mais que seja inédita, é simultaneamente apenas ponto particular da história. Uma de suas particularidades é, de fato, a ciência disponível e existente. Com sua capacidade de criar verdades subjetivas eternamente superadas e sempre presentes, ela se torna necessariamente o informativo do trabalho; o condicional da finalidade! Abre-se a dialética. A transposição do objetivo ao subjetivo é, de fato, sempre incompleta e com contínua auto-superação. Independentemente, considerando a ciência especifica deste momento, podemos chegar à consciência crítica que, ao obter movimento, se torna transitiva também. Isto não é nada mais que se apropriar da superação inerente de qualquer fase científica, o que requer conferir conteúdo histórico, teórico e político ao entendimento dela, fechar a dialética subjetiva. Esta conexão entre o trabalho e a ciência se torna ainda mais relevante ao entender que o trabalho científico é o descobrimento da realidade ao mesmo tempo que é alterado, às vezes qualitativamente, pelo o que é descoberto. A existência em sua forma científica não é somente o que é ou não descoberto, mas sobre o que é 'descobrível': o obscuro faz parte da existência consciente humana, fecha-se a dialética objetiva.

Toda essa baboseira serve para inverter a consciência sobre a ciência ao considerarmos o porquê de um trabalhador científico (cientista) pensar o marxismo. A consciência crítica, cujas considerações levam em conta o ambiente social em sua historicidade, teoria e politica, se enxerga agente do mundo por transformá-lo ao descobrir ele. O cientista, então, pode perceber que não é inconsequente à esta transformação, mas, na verdade, transforma a existência independentemente de sua consciência ao contrário que algumas ideologias pensam. Isso não o confere nada mais que responsabilidades sobre sua atuação, tendo que revelar as particularidades dos três conceitos centrais às subseções para si e agir no mundo de forma categoricamente informada e consequente. Ação que põe seu trabalho no foco: em seu universo particular, grandes empresas de jornais científicos o roubam a liberdade acadêmica colocando sua suposta produtividade em termos capitalistas e os centros intelectuais funcionam ainda nos países imperialistas que estruturalmente exploram o sul global e tem visões sobre a existência limitadas por seu privilégio. Ao considerar que seu trabalho não é isolado, mas altamente dependente de uma estrutura econômica e infraestrutura física e social, encontra-se o universo do trabalho social total, no qual ele está inserido e que se torna, também, seu campo de atuação. A sociedade que o permite fazer a ciência não é algo fixo, mas parte da existência contemporânea dele em movimento que ele descobre ao se tornar crítico e transformador. Isso o inclui no fluxo e totalidade da realidade. Longa vida ao materialismo!

Assim, chegamos ao final do surto. Ser um cientista marxista significa usar da lógica dialética para esclarecer a posição contraditória de trabalhador científico na história e da praxis para tornar o trabalho libertador. Exercício: O que isto significa?

Ah, porque? Cuz its fun!

"Esta determinação, pela sociedade, do processo de trabalho em relação a cada indivíduo não é endereçada ao homem em caráter individual, porém o atinge em função de sua situação de classe, origem e posição no contexto da comunidade. Não é feita intencionalmente mas decorre da estrutura do sistema, que prefigura a distribuição das oportunidades, com isso reduzindo a uma faixa extremamente estreita a área da opção em que a liberdade individual se mostraria capaz de dar a cada homem, mediante o trabalho que escolhesse, o destino que desejasse. No sistema em que vigoram rígidas divisões sociais o nascimento é praticamente uma sentença de vida, e com grande frequência, sobretudo nas regiões subdesenvolvidas, também é uma sentença de morte. O poder de adquirir a cultura [FS](a cultura para si; há controle hegemônico sobre a cultura reconhecida socialmente), que daria ao homem a mobilidade de aplicação de si a um trabalho voluntariamente escolhido, vê-se limitado pela situação de origem do indivíduo. Em tais condições o papel existencial que o trabalho por natureza possui, de ser o princípio da criação de si do homem, está impedido de cumprir-se, porque o indivíduo tem de aceitá-lo passivamente por toda a vida, vindo de uma força exterior que o manieta e contra a qual, não tem possibilidades de reagir. Em vez de contribuir para formar o ser do homem, este se torna destruído no seu ser, isto é, na sua liberdade (de que decorreria o poder de fazer-se a si mesmo), para se tornar o ser produzido pelo trabalho que lhe é imposto. Neste caso, o trabalho inverte o papel que está destinado. Em vez de ser para o homem, este é que é para o trabalho, O atributo converte-se em substância, o instrumento em origem absoluta. Tal é a essência da escravidão, da servitude, da alienação do trabalho"


- AVP, Ciência e Existência

Tradição Socialista na Ciência

Uma breve lista de cientistas que adotaram e desenvolveram as ideias de Marx e do socialismo:

  • Albert Einstein (1879 – 1955)
  • Vladimir Fock (1898 – 1974)
  • Robert Havemann (1910 – 1982)
  • Mario Schenberg (1914 – 1990)
  • David Bohm (1917 – 1992)
  • Yuri Orlov (1924 – 2020)

Mas O Que É Essa Tal de Dialética?

Nessa seção, vou tentar resumir o que cada autor que eu leio fala da dialética. O leitor vai perceber certas discordâncias e contradições. Sem medo! Quem tem medo da verdade? Só porque algo se contradiz, não significa que é falso, largue a lógica formal na porta e abrace Caos, Chronos e Erebus!

Paulo Freire

Paulo Freire enxerga a dialética do processo pedagógico, isto é, o ensino enquanto processo de elevação do ser humano a algo reflexivo, possivelmente de forma crítica (auto-reflexiva) e transitiva (temporal e temporalizada). Este processo requer entender o ponto de partida e a direção contraditória que o confere movimento. O aluno não é um receptáculo vazio no qual conhecimento é posto, mas um ser que pressupõe conhecimento, que tem a capacidade de conhecer, no sentido mais ativo da palavra. Para Freire, o ensino tem que refletir isso, não somente para ser efetivo, mas libertador. Partindo da ideia que o ser humano experimenta a realidade naturalmente, sua pedagogia começa do que a pessoa já conhece para desenvolver este conhecimento em algo mais amplo, acumulado pela sociedade humana e sua história.

Alvaro Vieira Pinto

AVP usa da unidade dialética contraditória {particular e universal} como foco central de suas elucidações sobre a realidade. Ele pressupõe a existência do homem enquanto ser destacado da realidade por sua racionalidade (mas que ainda parte daquela ⇒ materialismo) e que, seguido do destaque, se encontra em uma contradição fundamental com o resto de natureza, procedendo neste desafio de mundo por meio do processo de humanização (de si e da realidade)

É importante dizer que para ele (e eu concordo) fazer dialética não é pensar nas contradições mas pensar por contradições. Isto é um movimento conceitual duplo, partindo do cerne do conceito para os lados de particularidade e totalidade, reencontrando estes dois lados pela abstração contraditória.

Outras considerações importantes se encontram na dinâmica entre o universo subjetivo das ideias e o mundo objetivo que ser humano experiencia e trabalha sobre. Para Álvaro, a reflexão da vida do mundo objetivo, como esta altera sua estrutura para responder aos estímulos exteriores a si, ganha um novo patamar de complexidade no ser humano, que inaugura o mundo das ideias, a subjetividade, com sua própria dinâmica de interação interna, correlação dos conceitos e capacidades de abstração (reflexão complicada) do mundo objetivo. Fazendo o movimento duplo, mencionado acima, estas ideias estão sempre conectadas por um cordão umbilical ao objetivo, afinal é sobre este que refletem, mas também podem superá-lo (aufheben) pela imaginação humana. Ademais, conforme este universo subjetivo evolui, ele é capaz de se aprofundar sobre o mundo objetivo com cada vez mais qualidade.

A finalidade do ser humano se informa pelas ideias que este tem do mundo. Assim, ele exterioriza as ideias em ação, trabalho, produção. Desta forma, há uma relação recíproca contraditória entre o subjetivo e o objetivo, permitindo o movimento da consciência do homem pela sua história.

Um conceito importante para a dialética também se encontra na relação entre o quantitativo e o qualitativo. O acúmulo quantitativo, proporcionado pelas experiências intencionais do ser humano sobre o desafio do mundo chega a um ponto crítico, no qual há uma mudança qualitativa das questões sendo levantadas.

Leandro Konder

Em seu livro, O Que É Dialética, Konder sistematiza todos os conceitos chaves para o começo de uma compreensão dialética materialista.

trabalho enquanto destaque: é no trabalho que o homem se produz a si mesmo; o trabalho é o núcleo a partir do qual podem se compreendidas as formas complicadas da atividade criadora do sujeito humano. No trabalho se acha tanto a resistência do objeto (que nunca pode ser ignorada) como o poder do sujeito, a capacidade que o sujeito tem de encaminhar, com habilidade e persistência, uma superação dessa resistência.

➾ a relação sujeito-objeto só existe pelo trabalho (racional) do homem. Com ele, o ser humano destaca-se da natureza, aplicando suas intenções informadas sobre ela.

superação dialética: é importante a noção to termo alemão aufheben (suspender, em português), que significa simultaneamente {negar, anular, cancelar}, {erguer para proteger} e {elevar a qualidade, promover a passagem para um plano superior}.

➾ a superação dialética é simultaneamente a negação de uma determinada realidade, a conservação do essencial que existe nesta realidade negada e a elevação dela a um nível superior. Tudo isso mediado por contradições.

a totalidade: o conhecimento é totalizante e a atividade humana, em geral, é um processo de totalização

➾ A síntese é a visão de conjunto que permite ao homem descobrir a estrutura significativa da realidade com que se defronta, numa situação dada. E é essa estrutura significativa – que a visão de conjunto proporciona – que é chamada de totalidade.
➾ A totalidade é mais do que a soma das partes que a constituem.
➾ A totalidade é apenas um momento de um processo de totalização (que nunca alcança uma etapa definitiva e acabada).
➾ A modificação do todo só se realiza, de fato, após um acúmulo de mudanças nas partes que o compõe.
➾ Processam-se alterações setoriais, quantitativas, até que se alcança um ponto crítico que assinala a transformação qualitativa da totalidade. ⟹ Lei dialética da transformação da quantidade em qualidade.

Praxis: A teoria é necessária e nos ajuda muito, mas por si só não fornece os critérios suficientes para nós estarmos seguros de agir com acerto - que estamos trabalhando com a totalidade correta

➾ A gente depende, em última análise, da prática – especialmente da prática social – para verificar o maior ou menor acerto do nosso trabalho com os conceitos e com as totalizações.

➾ Por análise, decompõe-se e recompõe-se o conhecimento indicado na expressão (conceito) que se serve de ponto de partida. No fim, realizada a viagem do mais complexo (ainda abstrato) ao mais simples e feito o retorno ao mais complexo (já concreto)

➾ Uma certa compreensão do todo precede a possibilidade de aprofundar o conceito das partes
➾ O concreto é concreto porque é a síntese de várias determinações diferentes, é unidade na diversidade

➾ Para a dialética reconhecer as totalidades em que a realidade está efetivamente articulada, é obrigada a identificar com esforço. gradualmente as contradições concretase as mediações específicas que constituem o 'tecido' de cada totalidade, que dão 'vida' (movimento) a cada totalidade

➾ A dialética não pensa o todo negando as partes nem pensa as partes negando o todo. Ela pensa tanto as contradições entre as partes como a união entre elas.

mediações & contradições: Para ir além das aparências e penetrar na essência dos fenômenos, precisa-se realizar operações de síntese e análise que esclareçam não só a dimensão imediata (domínio da lógica formal) como também, e sobretudo, a dimensão mediata delas.

➾ Em todos os objetos com os quais lidamos existe uma dimensão imediata (que percebe-se imediatamente, seguem as leis formalizadas) e existe uma dimensão mediata (reconstruída aos poucos pela análise pautada na dialética)
➾ Somente levando em conta as mediações é que pode-se avaliar corretamente toda a significação do fato imediato
➾ A contradição é um elemento insuprimível da realidade, pois existem dimensões da realidade humana que não se esgotam na disciplina das leis lógicas.
➾ Aspectos da realidade que não podem ser compreendidos isoladamente – para entendê-los, precisa-se observar a conexão íntima entre eles e aquilo que não são
➾ As conexões íntimas que existem entre realidades diferentes criam unidades contraditórias (dialéticas) (UDCs), nas quais a contradição é essencial.
➾ A contradição, para a dialética é o princípio básico do movimento pelo qual os seres (em sentido amplo, aquilo que é) existem

➾ A (lógica) dialética não se contrapõe à lógica (formal), mas vai além desta, desbravando um espaço que ela não consegue ocupar!

➾ Dispõe-se a trabalhar com determinações recíprocas.

fluidificação dos conceitos: o processo da realidade só pode ser encarado como uma totalidade aberta, através de esquemas que não pretendessem 'reduzir' a infinita riqueza e complexidade da realidade ao conhecimento, mas incorporar isso a este!

➾ Para dar conta do movimento infinitamente rico pelo qual a realidade está sempre assumindo formas novas, os conceitos com os quais o nosso conhecimento trabalha precisam aprender a ser fluídos
➾ ex. fluidificação da natureza humana: "ao atuar sobre a natureza exterior, o homem modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza ⟹ movimento autotransformador da natureza humana que é material (materialismo)
➾ só existe na história num processo global de transformação, que abarca todos os seus aspectos

➾ Marx não reconhece a existência de nenhum aspecto da realidade humana acima ou fora dela, porém alguns aspectos perduram na história

➾ as criações mais significativas do espírito humano e da atividade prática do homem se incorporam ao processo da história da humanidade e continuam vivas.
➾ O movimento da história é marcado por superações dialéticas com as categorias reflexivas mudança e permanência – uma não pode ser pensada sem a outra
➾ Todo aspecto estável da realidade tem que ser situado dentro do processo geral de transformação & toda mudança concreta tem que ser reconhecida como a de um ser provido de certa capacidade de durar

Marília Freitas de Campos Pires

Livros

Nesta seção se encontram o compilado dos livros que eu li que são relevantes para o tópico proposto na discussão. Além de listá-los, também inclui diversos comentários sobre ele, provindos da minha leitura e das minhas reflexões que desenvolveram-se em conjunto. O formato desses comentários é muito livre e depende muito do conteúdo do livro como também meu estado mental na hora da escrita, portanto é caótico. A melhor coisa é ler o livro por conta própria. Eu provavelmente ainda tenho esses livros, então se alguém quiser algum volume emprestado, me encontre ;).

O Capital: Crítica da Economia Política, Karl Marx (incompleto)

Não sou muito aprofundado no O Capital, por falta de tempo e densidade da leitura. Também não me sinto capaz de comentar muito sobre o livro. Portanto, fica o link para o meu fichamento dos capítulos que eu ler. Recomendo que todos fichem O Capital, mas com calma e tempo que essa leitura demanda.

Afterword to the Second German Edition (1873)

Class struggle between capital and labour is forced into the background, politically by the discord between governments and the feudal aristocracy [...]

The peculiar historical development of German society therefore forbids, in that country, all original work in bourgeois economy, but not the criticism of that economy. It can only represent the class whose vocation in history is the overthrow of the capitalist mode of production.

Marx treats the social movements as a process of natural history, governed by laws not only independent of human will, consciousness and intelligence, but rather, on the contrary, determining that will, consciousness and intelligence.

[The European Messenger of St. Petersburg; May Number, 1872; pp. 427-436]


The dialetic method according to Marx:

  1. Method of representation must differ in form from that of inquiry
    • appropriate the material in detail;
    • analyse its different forms of development;
    • trace their inner connection.

      after done:

  2. Actual movement can be adequately described
  3. If done successfully (that is, the life of the subject-matter is ideally reflected as in a mirror), then it may appear as if we had before us a mere a priori construction.
  4. The ideal is nothing else than the material world reflected by the human mind, and translated into forms of thought.
  5. Because it regards every historically developed social form as in fluid movement, it takes into account its transient nature not less than its momentary existence; it lets nothing impose upon it; it is, in its essence, critical & revolutionary.

Livro 1: O Processo de Produção do Capital

Educação Como Prática de Liberdade, Paulo Freire

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Leitura: Dezembro 2022

Seguem minhas anotações

  • a educação é a afirmação da liberdade
    • somente por meio da conscientização das massas populares enquanto sujeitos políticos e construtores culturais que se pode atingir a verdadeira democracia.
  • visão paternalista das elites
    • "a-luno" --> sem luz ⇒ elaboração de uma educação não libertadora
  • "a democracia como a liberdade é um dos temas históricos em debate e sua efetivação vai depender das opções concretas que os homens realizem"

    • esta visão é alheia à ideia de uma mudança de estruturas que transcorre de modo inapelável --> derivação mecanicista do marxismo
  • populismo: a ascensão popular não apenas se realiza por sua via institucional como é frequentemente estimulada através do Estado, a ambiguidade do regime populista entre mobilização democrática e manipulação aparece como característica central
  • homens igualmente livres e críticos
    • aprendem no trabalho comum de uma tomada de consciência da situação que vivem
  • a educação se antecipa a uma verdadeira política popular e lhe sugere novos horizontes.
  • o homem temporaliza-se --> existe no e com o mundo
    • transcendência humana:
      • transitividade de sua consciência
      • reconhecimento de sua condição de ser inacabado
      • descoberta de sua temporalidade
  • desumanização: acomodação ou ajustamento
    • a visão de si mesmo e do mundo não podem absolutizar-se
    • --[contrapõe-se]-> integração resulta da capacidade de ajustar-se à realidade acrescida de transformá-la ⇒ nota fundamental: criticidade
  • minimizado e cerceado, acomodado a ajustamentos que lhe sejam impostos, sem o direito de discuti-los, o homem sacrifica imediatamente sua capacidade criadora
  • a partir das relações do homem com a realidade, resultantes de estar com ela e de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele dinamizando o seu mundo --> vai dominando a realidade --> vai HUMANIZANDO-A
    • o homem é o fazedor da realidade
    • salienta-se a necessidade de uma permanente atitude crítica

[F]: Autoria Minha

(portanto é mais brisa que qualquer coisa útil)

  • "revolução permanente"
    • dada uma época de transição, qual é o papel da vanguarda da esquerda?
  • visões paternalistas de direção supérflua são contrárias ao próprio marxismo
  • uma esquerda que se propõe desenvolver um novo modelo de sociedade não pode ser contrária à conscientização e, portanto, à participação democrática absoluta das massas nos processos revolucionários
  • nas épocas de transição, o regime antigo alonga-se, buscando permanecer enquanto o novo consubstancia-se
    • visões mecanicistas deste processo não são condizentes com a realidade material da mudança
      • o homem em busca de sua liberdade tem que ser sujeito político, não objeto de manobra
  • cabe à vanguarda guiar a política da mudança. No entanto, não pode-se perder em nenhum absolutismo
    • aposta na natureza política inerente do indivíduo e das massas --> mediados pelo mundo
    • desenvolvimento dialético para com o proletariado. Agregado ao método, precisa estar presente o constante diálogo com o povo e suas experiências. Somente assim presenteia-se à esquerda a oportunidade de síntese materialista e metodológica
  • o erro neste processo, seja pela cautela excessiva para não perder o protagonismo da direção, tanto quanto pela cegueira dogmática provinda de um desvio ideológico, ou seja, que tem ideais abstratos como princípio, só acaba em derrota, seja no populismo, oportunismo ou autoritarismo.
    • portanto, afirmo que os valores da vanguarda devem estar pautados nas virtudes de humildade de seu conhecimento e confiança em seu método

o socialismo é

  • construção sintética e coletiva COM AS MASSAS
  • libertador não somente no que promete, mas em suas responsabilidades!

(fim da minha intervenção pessoal)

  • a radicalização, que implica no enraizamento que o homem faz na sua opção que fez, é positiva porque preponderantemente crítica
    • amorosa, humilde e comunicativa
  • o homem radical na sua opção, não nega o direito do outro de optar
  • não pretende impor sua opção
    • dialoga sobre ela
    • está convencido de seu acerto, mas respeita no outro o direito de também julgar-se certo
    • tenta convencer e converter, e não esmagar seu oponente
  • quando o oprimido legitimamente se levanta contra o opressor, é a ele que se chama de violento, de bárbaro, de desumano, de frio
  • a sectarização é uma matriz preponderantemente emocional e acrítica
    • é arrogante, antidialogal --> reacionária
    • o sectário se põe diante da história como seu único fazedor --> como seu proprietário (dogma e a propriedade da verdade)
      • para a esquerda: antecipar a história

[F]: é um dever com a dialética se perceber!

  • a verdadeira esquerda deve, como sujeito, com outros sujeitos, ajudar e acelerar as transformações, na medida que conhece para poder interferir
  • em sociedades alienadas --> incapazes de projetos autônomos de vida buscam nos transplantes inadequados a solução para os problemas do seu contexto
  • utopicamente idealistas <---> pessimistas & desesperançosos
  • a sociedade que se conhece --> sujeito
    • projetos, planos, resultantes de estudos sérios e profundos da realidade
  • otimismo crítico ⇒ esperança
  • a atitude subversiva à libertação do povo é essencialmente comandada por apetites, comandada por apetites, conscientes ou não, de privilégios (ver burocratização do PC)
  • o grande perigo do assistencialismo está na violência de seu antidiálogo
    • impõe ao homem mutismo e passividade

[Simone Weil]: a satisfação desta necessidade (responsabilidade) exige que o homem tenha de tomar a miudo decisões em problemas, grandes ou pequenos, que afetam interesses alheios aos seus próprios, com os quais, porém, se sentem comprometidos.

Anti-economicismo Freireano: "É preciso, na verdade, não confundirmos certas posições, certas atitudes, certos gestos que se processam, em virtude da promoção econômica – posições, gestos, atitudes que se chamam tomada de consciência – com uma posição crítica. A criticidade para nós implica na apropriação crescente pelo homem de sua posição no contexto. Implica na sua inserção, na sua integração, na representação objetiva da realidade. Daí a conscientização ser o desenvolvimento da tomada de consciência. Não será, por isso mesmo, algo apenas resultante das modificações econômicas, por grandes e importantes que sejam. {F: as modificações econômicas não são somente 'grandes' ou 'importantes, como diz Freire, mas necessárias. A forma da produção determina as superestruturas possíveis, é a realidade que abrange as possibilidades do homem em sua criação, auto-descobrimento e relação para-com o mundo. Mesmo assim, ainda é válida a critica, pois a estrutura não é a ciência da mudança} A criticidade, como a entendemos, há de resultar de trabalho pedagógico crítico, apoiado em condições históricas propícias."

Formações Econômicas Pré-Capitalistas, Karl Marx

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Introdução de Eric Hobsbawnm

Editora Paz e Terra S/A, 1977

Título original: Pre-Capitalist Economic Formations (1964)

Leitura: Janeiro 2023

Doido doido doido doido

Sociologia da Ciência, múltiplos autores

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Editora da Fundação Getulio Vargas, 1975

Título original: Sociology of Science (1970)

Leitura: Janeiro 2023

Esse compilado de artigos vem de diversos autores e foi promovido pela UNESCO. Todos os artigos seguem uma visão positivista da sociologia da ciência, o que me pareceu como cientistas sociais considerando as dinâmicas internas da ciência, sem parar para olhar de forma crítica o contexto que as determinava e a implicação desses, salvo um. Ladislav Tondl salva este livro ao nos introduzir ao seu artigo: Situações de Conflito em Comunidades Científicas. Será nesta obra, 24 páginas das 190 que eu vou focar a minha reflexão. Não é como se os outros artigos (listados abaixo) não fossem bons, ou úteis, mas somente Tondl nos interessa por sua análise e síntese do processus científico, seu flerte com a cibernética e sua visão totalizadora de um cientista completo, ou seja, inserido e ator na sociedade democratica. Veja:

"Para conseguir resultados satisfatórios, os próprios cientistas precisam estar envolvidos amplamente nas condições políticas e sociais. Isto não significa, esencialmente, aceitar 'empregos', 'honrarias', ou 'altos encargos do Estado', mas representar parte ativa e direta na investigação de todos os problemas sociais importantes, como membro da intelectualidade científica e, naturalmente, o direito (grifo meu) de tomar iniciativas, mobilizar a opinião pública, etc."

O que torna a parte de Tondl essencial, no entanto, é como ele coloca a ciência diretamente contra o dogma e o monopólio do poder. Ladislav, conforme constrói sua visão científica, vai contrapondo esta com os vícios de ideologias que se afirmam na manutenção de seu controle e poder. O autor nos mostra que essa prática humana, cada vez mais complexificada, carrega dentro de si a resposta para os desvios do caminho revolucionário genuíno. Lembrai-mos que o marxismo é científico, que ele parte do materialismo para criticar a e atuar sobre a realidade, no entanto, ao ser feito por homens, como qualquer ciência, ele é falível. Da mesma forma, os mecanismos que garantem o progresso científico podem ser o que salvam esse rumo, ou seja, a pluralidade de opiniões, o embate aberto de ideias (não no sentido liberal, mas ideias de homens livres de opressão e que não implicam, jamais, em exploração) e a comprovação empírica de hipóteses. O marxismo morre conforme verdades eternas nascem, não deixemos falecer!

La formación de los cuadros, Vladimir Lenin

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Reconpilación de articulos y discursos

Editorial Progreso, 1975

Leitura: Janeiro/Fevereiro 2023

Este livro é uma coletânea de discursos, cartas e escritas feitas por Lenin de 1914 até o fim de sua vida, conforme o estado operário se consolidava. Desta forma, temos em nossas mãos uma verdadeira fotografia documental, que permite a análise própria dos posicionamentos dessa figura central ao desenvolvimento teórico marxista, da ciência e arte revolucionária e tão amplamente apropriado pelos diversos donos da verdade. O tópico específico desta obra, carregado de variantes formas por cada texto, é sobre a formação de quadros, ou seja, das pessoas que tem a capacidade e formação de direção das massas, que constroem o partido enquanto também disputam a consciência da base. Lenin sabia da importância dessas pessoas e, portanto, sua formação, por serem a ponte entre a teoria marxista e a prática revolucionária. Hoje em dia estamos rodeados por partidos comunistas cuja distância das pessoas comuns, presas em suas rotinas trabalhais, não poderia ser mais gritante. A práxis é o critério da verdade, e o nosso dever é manter ela assim.

Gosto muito da definição do centralismo democrático trazida na introdução do livro. Ela é muito bem sintetizada, sem carregar os vieses clandestinos ou exagerados necessários pela conjuntura de sua aplicação na época, mas que hoje formam a base de muitas práticas desmedidas de comunistas estéticos. Enfim, define-se

El centralismo democrático presupone la preparación y adopción colectivas de decisiones, con libertad de crítica y de discusión de las medidas que traza el partido. Todas las cuestiones relacionadas con la dirección del partido son resueltas por mayoria de votos. Además, el cumplimiento de los acuerdos adoptados por los congressos del partido es obligatorio para los comunistas. De esta forma se aseguran la unidad de acción, la unidad de voluntad y la educación de los militantes en espíritu de rigurosa disciplina de partido. La importancia de la democracia consiste en que ofrece a cada comunista la possibilidad de participar activamente en todos los asuntos del partido y formarse como un guía auténtico de las massas.

É importante ressaltar que Lenin acreditava que o partido deveria ter estrutura democrática de baixo para cima, que fica claro ao consideramos o dever deste partido: guiar a classe à sua missão histórica. Somente uma visão paternalista removeria as massas, representadas pelos quadros atuantes em suas respectivas esferas, dessa sua missão ou sua capacidade de (re)conhecê-la. Para mim, a verdadeira relação dialética entre o partido e as massas é que, enquanto o partido traça o caminho revolucionário pautado em sua estratégia e teoria, ele é determinado democraticamente pelos quadros das massas, organizados pela direção do partido. Isto é, as massas se dirigem (obviamente de forma secundária, para não cairmos nos vícios anarquistas) por meio da interpretação e análise conjuntural, centralizada no partido. Desvios dessa relação tem implicações materiais nas revoluções, que tomam direção contrária, uma doença dos comunismos (portanto a necessidade da leitura de Freire por quadros e direções!).

Dialética Sem Dogma, Robert Havemann

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Zahar Editores, 1967

Título original: Naturwissenschaftliche Aspekte philosophischer Probleme (palestra); Dialetik Ohne Dogma? – Naturwissenschaft und Weltschauung

Leitura: Fevereiro/Março 2023

Robert Havemann não é muito conhecido nos círculos que seu conhecimento brilha. Químico de formação, ele escreveu esse livro sendo abertamente comunista, para tratar da filosofia da ciência e a dialética ali encontrada, da sua visão de 'moral socialista', e comentar sobre a situação com o socialismo de sua época, anos 60. Alemão, comunista, quase preso por nazistas, liberado pelo Exercito Vermelho, comunista de novo, dessa vez no governo, e, depois sofre tortura psicológica e perseguição política pela produção desse texto (num governo socialista). Importante dizer que esse livro é inicialmente publicado como uma coleção de palestras, chamadas Aspectos Científicos de Problemas Filosóficos. Talvez ele tenha falado sobre a dialética de forma contra-revolucionária...

Metade desse livro trata de problemas científicos, a outra, de problemas socialistas. Obviamente essa é uma divisão burra e simplista minha, pois as coisas se conversam: no método. Havemann tem um talento imenso em sua redução de problemas em Unidades Dialéticas Contraditórias, que eu, carinhosamente, chamo de UDCs. Por esse meio, ele toca seus alunos como um maestro, que, além de assistir, aparecem no final na transcrição de seus seminários. Havemann é verdadeiramente muito bom em trazer as diversas contradições relevantes para a decomposição dialética de diversos problemas e questões que ele apresenta. Ele argumenta que a dialética tem um potencial grande em seu uso nas ciências da natureza (Naturwissenschaft) além de caracterizar um pouco essa visão. O livro menciona diversas vezes o livro de Engels, "Dialetics of Nature", que eu ainda não li, mas que eu já vi sendo criticado em alguns textos e espaços. Mesmo assim, este serve somente como uma inspiração primordial, que ele supera, trazendo a tona diversos fenômenos, tanto científicos quanto sociais contemporâneos a ele.

A física quântica é o material central de seu desenvolvimento científico, sobre a qual ele busca encontrar uma solução filosófica para a teoria que foge tanto de sua significação, até hoje. Dentro do universo de Marx, onde a filosofia e a ciência se conversam e o materialismo reina, não há nada mais temível que uma ciência sem filosofia, que redefine em incerteza nossa capacidade de determinar nossos conceitos teóricos para com a realidade. Como descreve o físico Elio Conte (que só fala brisa, mas aborda este conceito de forma interessante):

"There are stages of our reality in which we no more can separate the logic (and thus cognition and thus conceptual entity) from the features of “matter per se”. In quantum mechanics the logic, and thus the cognition and thus the conceptual entity-cognitive performance, assume the same importance as the features of what is being described. We are at levels of reality in which the truths of logical statements about dynamic variables become dynamic variables themselves so that a profound link is established from its starting in this theory between physics and conceptual entities."

Mas não precisamos temer, ele também nos dá esperança no processo, ou melhor, transformação dialética:

"Finally, in this approach there is not an absolute definition of logical truths. Transformations , and thus … “redefinitions”…. of truth values are permitted in such scheme as well as the well established invariance principles, clearly indicate"

De forma parecida, Havemann nos dá esperança da superação das limitações conceituais e da exaustão de algumas teorias por meio da dialética, sem dogma, óbvio! Já no começo ele posta a seguinte questão: A Filosofia Tem Ajudado as Ciências Naturais Modernas na Solução de Seus Problemas?

Análise Crítica Da Teoria Marxista, Louis Althusser

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Zahar Editores, 1967

Título original: Pour Marx (1965)

Leitura: Março/Junho 2023

Nota: Mesmo durante a leitura, como também depois dela, senti uma certa tendência no Althusser que não me agradava. O autor claramente demonstra conhecimentos avançados e profundos sobre o marxismo, mas sua síntese teórica, política e lógica deixa a desejar muito (lembrando que esta é uma obra de sua juventude acadêmica). Com o tempo fui acumulando críticas de outros autores marxistas sobre ele e consigo formular melhor meu entendimento contraditório de Althusser. Enfim, isso é dito para contextualizar os comentários abaixo, que variam entre concordância e discordância mas sem algum fio lógico rigoroso de fato. Por isso, desculpem a confusão e os erros que seguem :)

De acordo com o meu dirigente, eu deveria ler alguns livros do Marx e do Lenin antes de ler esse. Por mais que eu tenha acordo, e provavelmente volte para esse livro depois dessas leituras mencionadas, o autor me prendeu fortemente com sua forma de pensar o marxismo, e por isso escolhi continuar. Althusser foi um dos primeiros pensadores que eu vi abertamente tentando esclarecer o entendimento do marxismo em si, tanto para Marx, que ele separa em Jovem e Maduro, quanto para os alunos do mestre, como ele foi e como nós possivelmente somos. A compreensão de Marx requer esforço crítico, pautado na história e no contexto ideológico no qual os pensadores estão inseridos. Isto informa a problemática deles, a dinâmica do que e como o pensamento 'problematiza', quais questões ele levanta e como seus objetos internos estão organizados, colocados opostos um ao outro e desenvolvem a razão do autor – para o marxismo, percebemos rapidamente que os objetos se contradizem e que a razão, portanto, é dialética. Althusser escreve esse livro no século 60, um momento de muito abalo para os marxistas, seguindo o 'culto de personalidade' e a morte de Stalin, o dirigente que, ao meu ver, contribuiu para a prisão do desenvolvimento teórico marxista numa dialética mecanicista estatal, aparelhada para a manutenção do poder burocrata e contra-revolucionário. Em contra-partida, a interpretação humanista sobre Marx, apoiada sobre seus textos antigos (ou seja, jovens) que começaram a aparecer também são parte da crítica do autor, como vestígios Feuerbachianos que o marxismo supera somente quando ele se torna algo independente da Ideologia Alemã – ele está buscando algo mais embasado em seu desenvolvimento marxista. Ainda há esperança, em 30 anos cai o muro de Berlin (olhe o código e quem policia a polícia).

Althusser supera esse dilema ao afirmar que o marxismo tem que ser estudado de forma marxista, ou seja, apliquemos a teoria marxista para desenvolver nossa compreensão dela. A cibernética desse processo não está perdida na concepção do autor, muito pelo contrário. Ele cria esta tese entendendo muito bem como esse é um processo praxiomático que exponencialmente ganha potência. Para dar algum ponto de partida e permitir uma análise filosófica de Marx, ele utiliza dos conceitos de problemática para "designar a unidade específica de uma formação teórica" e cesura epistemológica, para "pensar a mutação da problemática teórica da fundação de uma disciplina científica". Nos é muito útil que o autor decide tão explicitamente e cedo no livro falar sobre as ferramentas centrais à sua análise, além de seu objeto: o desenvolvimento do marxismo marxiano e suas implicações no desenvolvimento do marxismo marxista. É um tópico muito importante, pois dá ao teórico marxista uma base firme ao olhar de maneira critica a própria história do pensamento. Com o método explicitado, podemos também questionar algumas suposições do autor, que, na minha opinião, por mais que faça contribuições inquestionáveis, inéditas e essenciais para a compreensão da Teoria, ainda caí em suposições ideológicas e carece em dialética em algumas de suas conclusões. Nota-se que Althusser retoma criticamente muitas de suas posições em seu livro 'Crítica e Auto-Crítica, além de ser muito comentado por outros teóricos marxistas como Ruy Fausto (Marx: Lógica e Política - Tomo I) e Adolfo Sánchez Vázquez (Ciência e Revolução).

Resumindo os conteúdos do livro, podemos chegar à seguinte lista:

  • Um método marxista para aprender o marxismo, com ênfase nos conceitos de problemática e cesura epistemológica
  • A divisão dos trabalhos de Marx de acordo com sua problemática filosófica e a implicação disto na leitura moderna marxista
  • Contraposição da dialética hegeliana com a dialética marxista e o conceito autoral de sobredeterminação
  • A dialética materialista e as contradições na estrutura com dominante
  • Apresentação de um humanismo socialista

Prefácio

No prefácio, está posto tudo mencionado acima, além de um contexto histórico e de necessidade prática dos desenvolvimentos que o autor traz. Esta prática de situar-se num dado contexto social e econômico é essencial para qualquer autor que queira lidar com as contradições inerentes ao seu posicionamento. Mesmo assim, Althusser muitas vezes é ideológico sobre sua crítica à ideologia (principalmente àquelas que precedem Marx e o formam como pensador enquanto ele as supera, por mais que o autor discordasse do uso desse termo (Aufhebung)). O que o autor faz muito bem, contudo, é descrever como Marx pensa sua filosofia enquanto desenvolve sua ciência sobre a história. Considerando o conhecimento como pré-condição da formulação científica das idéias, isto é, de forma que elas se apropriem da objetividade da realidade, nota-se que este pré-condicionamento é uma função do tempo conforme descobrimos e desvendamos mais (da história da humanidade, por exemplo) e também uma função da própria ciência sendo formulada, já que novos métodos de análise e pesquisa surgem e com eles verdades mais profundas. Assim, ao reconhecer isto no desenvolvimento metodológico e filosófico de Marx, Althusser identifica uma cesura na vida de Marx, contextualizando toda sua obra em torno desta:

"Foi ao fundar a teoria da história (materialismo histórico) que Marx, com um só e único movimento, rompeu com a sua consciência filosófica ideológica anterior e fundou uma nova filosofia (materialismo dialético)"

Ele ainda adverte que essa cesura dupla e única implica numa possível confusão entre a ciência e a filosofia, que causam muitos "materialistas" a declararem a morte da última em glorificação da segunda, um problema que Althusser reconhece e critica. Disto e com algum detalhamento das obras de Marx e sua posição na história do pensamento marxiano, Althusser busca trazer seu ponto final:

"que a leitura de Marx tenha, portanto, por condição prévia uma teoria marxista da natureza diferencial das formações teóricas e de sua história, isto é uma teoria da história epistemológico, que é a própria filosofia marxista".

Isto é um círculo dialético onde o próprio marxismo é o objeto do marxismo, uma teoria que ineditamente se define dialeticamente – não apenas como ciência da história, mas também como filosofia, capaz de dar conta de si! É por isso que a dialética serve de lógica para o método marxista, não é algo explicativo como muitos marxistas pensam, mas o próprio desenvolvimento do pensamento. Portanto, não basta utilizar dela para entender o marxismo, mas para desenvolver o entendimento e a própria teoria. É tudo dinâmico no pensamento dialético, pois a compreensão está em movimento.

I - O "Manifestos Filosóficos" De Feuerbach

O primeiro capítulo do livro busca divorciar Marx da problemática humanística inconsciente de Feuerbach. Não me aprofundarei muito, mas é importante dizer que Althusser considera A Ideologia Alemã como a ruptura consciente e definitiva de Marx com a filosofia e a influência de Feuerbach e, por extensão, de Hegel. O autor consegue contextualizar muito bem Marx como um pensador de seu tempo, isto é, atravessado pelas ideologias então presentes e dominantes, que ele tão bem combate depois para conscientemente superá-las. Althusser também expõe os limites ontológicos de Marx antes de sua ruptura, como ele apenas aplicava um método de problemática limitada e inconsciente sobre si (ética à inteligência da história humana). Mesmo assim, e aqui começa minha crítica, ao dizer que Marx "não fazia mais que aplicar a teoria de alienação [...] antes de estendê-la" e depois que, ao aderir à uma nova problemática, que "pode muito bem integrar certo número de conceitos da antiga, mas em um todo confere uma significação radicalmente nova.", Althusser divide a história num antes e depois conceitual e, portanto, inexistente. Não acho que ele faz errado, pois as conclusões teóricas tiradas disso são essenciais para a interpretação da vasta obra acumulada de Marx, porém o cerne dialético da questão está na ruptura e o que essa cisão implica no novo. Ou seja, a problemática de Marx é criada no contexto de insuficiência ideológica das ferramentas presentes ao Jovem Marx teórico. Com elas, ele pôde analisar o mundo e desenvolver-se tanto como hegeliano quanto feuerbachiano, por si só, contraditoriamente. Ao contrapor-se com essa contradição, a necessidade de uma problemática que se conheça torna-se aparente, e assim começa a morte da ideologia. Este processo no entanto, não é desconexo, muito pelo contrário. Ao vermos formas que transformam-se incompreensivelmente, procuremos supra-dimensões que as revelam não místicas, mas científicas! No campo teórico, foi o que Marx fez, superando (por mais que Althusser questione isto) a ideologia de seu tempo para, partindo de princípios científicos para criar a teoria que permite a inteligência de sua própria gênese.

O que Althusser carece, ao meu parecer, é verdadeiramente conseguir enxergar o pensamento marxiano e o desenvolvimento deste enquanto movimento dialético. Isto é, a discretização de Marx requer reunificação dialética com a continuidade histórica dos materialismos. O marxismo é deduzido de forma marxista por Marx também, não neguemos seus desenvolvimentos abstratamente.

II - Sobre o Jovem Marx

Neste capítulo, Althusser busca expor certos problemas (políticos, teóricos e históricos) de certas linhas marxistas do seu tempo, que ele considera humanistas e revisionistas. Por mais que ele faça críticas certeiras àqueles que buscam conferir validade teórica absoluta aos manuscritos que precedem a própria cisão de Marx com a filosofia ideológica nas quais ele foi formado, o autor parece não conseguir aplicar uma análise verdadeiramente processual do desenvolvimento do materialismo histórico e do materialismo dialético. No seu foco de ruptura, Althusser esquece que há continuidade. Ele faz muito bem em dizer que o futuro não valida o passado, ou seja, que não pode-se olhar para Marx validando suas posições passadas por causa da validade de suas posições futuras - a integridade de Marx é um ideal hegeliano. Ainda sim, o passado é validado em seu processo de tornar-se futuro: as ideias que permitiram o surgimento do Marx maduro eram dele Jovem.

Althusser traz uma frase de Hoeppner que vale a contemplação:

"Não se deve olhar a história da frente para trás, e procurar do alto do saber marxista germes ideais no passado. É necessário seguir a evolução do pensamento filosófico a partir da evolução real da sociedade"

O que eu acredito, é que só podemos olhar a história de frente para trás e que qualquer tentativa de inversão disso há de ser dialética. Desta forma, temos a capacidade de enxergar o processo dos objetos que estamos analisando, seja esta a história ou o pensamento filosófico de Marx. Para mim, Althusser somente nega o Jovem Marx abstratamente para salvar o marxismo do humanismo, mas neste ato, nega o próprio processo de entendimento dialético do marxismo. Ruy Fausto faz essa critica melhor, trazendo a ideia da interversão do anti-humanismo em humanismo e também do homem, até hoje, estar somente suposto.

Algumas anotações minhas no livro

➻ Althusser está certo que o futuro não valida o passado (∴ integridade teórica de Marx é um ideal hegeliano), MAS o passado é validado em seu processo de tornar-se futuro! Não há futuro sem passado, e só existe o presente!

➻ Não é possível achar Marx no Jovem Marx, mas é possível encontrar o Jovem Marx no Marx. Esta determinação não é aproveitada dialeticamente por Althusser.

➻ A transformação parte do jovem!

➻ Althusser critica a leitura com elementos discriminados como entidades significantes por si mesmas como uma leitura orientada, e, ainda sim, faz isso ao dividir Marx em seus elementos históricos. O cerne da questão é a autoconsciência analítica e a dialética presente na relação autor-história & leitor-conceitos.

➻ O Marx "acabado" se determina

➻ O materialismo de Feuerbach para Marx não existe mais, somente como sombra do processo que levou a Marx transcendê-lo.

➻ Como evoluiu a consciência de Marx sobre sua obra? ➝ rupturas contínuas? ("consciência à tendência")

➻ "Princípios marxistas de uma teoria da evolução ideológica" ➝ a dinâmica e o fluxo de ideias!

i) Cada ideologia considerada como um todo real, unificado interiormente por sua própria problemática
É bom pensar o pensamento como interação entre ideologias (sustentadas por relações sociais e vice-versa) com as quais o pensador interage. Um todo composto de partes, um processo em fluxo!
ii) O sentido não depende de sua relação com uma verdade diferente dela, mas de sua relação com o campo ideológico existente e com os problemas e estrutura social que a sustentam e se refletem nela.
iii) O princípio motor do desenvolvimento de uma ideologia reside no aquém da ideologia singular.

➻ Teoria que permite a inteligência de sua própria gênese ⥀

➻ Fechar o circulo dialético da contradição suprema

➻ materialismo na análise do pensamento → contexto superestrutural → pré-condicão do novo

➻ tal qual a história, as ideias seguem o MDH

➻ Relação da unidade interna de um pensamento singular

➻ a 'unidade' é um dos lados da relação dialética entre as partes e o todo → uma ideologia é inteira porém composta de subunidades
➻ essas são subunidades conceituais, temporais, locais, pessoais, intepretacionais, ...
➻ só pode ser compreendida em sua integridade, só pode ser analisada em suas partes
problemática: unifica "sistema e referência interna objetivo de seus próprios temas

➻ "Todas as suas questões surgiram no terreno de um sistema filosófico determinado, o hegelianismo. Não apenas nas sias respostas, mas já nas suas questões, havia uma mistificação" (Ideologia Alemã)

➻ as questões são determinadas ideológicamente → reflexão sobre o objeto é mistificada
➻ UDC: particularidade e totalidade
➻ existem conceitos que só são compreendidos por sua totalidade, porém são observados particularmente
➻ a totalidade é a particularidade de um sistema específico!

➻ "Pode-se considerar que uma ideologia (no sentido marxista estrito do termo – no sentido que o marxismo não é uma ideologia) se caracteriza precisamente pelo fato que a sua própria problemática não é consciente de si.

➻ no pensamento de Marx, a problemática se conhece, se reflete, tem consciência de si! → confere à análise mais justeza!

➻ O verdadeiro materialismo tem problemática materialista

➻ isto é, o pensamento conhece-se enquanto pensamento enraizado nesta realidade
➻ "pensamentos esclarecidos" → a dinâmica de um pensamento autoconsciente!

➻ Ideias se desenvolvem para com/contra outras ideias → reflexão sobre si por meio do outro

➻ <o homem concreto e a história real que os produziu> → tal qual somos e objeto desta nossa análise

➻ inversão formal vs. inversão dialética

➻ princípios (pressupostos) se negam ao afirmar o novo

➻ As ideias que Marx herda não contém verdades veladas que são descobertas, mas são o cerne de uma rotação conceitual dialética que concretiza o desenvolvimento do novo e inédito: uma problemática autoconsciente e um método eterno de análise autosuperativa!

➻ Marx transende seus antepassados não só no que pensa, mas na recursão infinita que abre ao pensar o pensamento conscientemente

➻ Alemanha como espectador da história real → essa impotência obrigou os pensadores alemães a "pensar o que os outros tinham feito"

➻ AVP: pensar sobre si e para si
➻ como ter independência praxiomática?

"O subdesenvolvimento histórico da Alemanha teve por contrapartida um superdesenvolvimento ideológico e teórico → conceber o que podia e o que devia ser a condição fundamental da libertação

➻ contradições como précondição do desenvolvimento do pensamento crítico

➻ "uma superação da ilusão (aparência) para a realidade (objetiva)" → é uma dissipação da ilusão e uma volta para trás, da ilusão dissipada para a realidade

➻ a superação da ilusão só pode ser sua dissipação → isto fica claro a partir de Marx, mas não torna seu processo menos dialético
➻ grande crítica a Althusser por abandonar o Aufhebung

➻ A descoberta direta de Marx da realidade só foi possível pelas contradições da aparência fenomenal expostas pela análise crítica da ideologia e sua superação/supressão

➻ Marx parte da análise dos mesmos elementos de Hegel, porém consciente das limitações ideais hegelianas

➻ Há uma "deformação dos problemas históricos reais em problemas filosóficos" ← problemática Alemã do século XIX

➻ os limites da problemática alemã esclarecem sua superação

➻ Althusser nega o uso de superação como descrição da ruptura de Marx com a ideologia alemã. No entanto, o esclarecimento de Marx sobre a estrutura do pensamento e sua vulgarização em ideologias, nas quais as problemáticas não são conscientes de si, são possíveis somente devido ao contexto ideológico no qual ele está inserido. Ao 'voltar para trás' (termo que Althusser usa para repor o Aufhebung), não se tem um Marx virgem de ideias, nem um Marx ideologicamente enviezado ideologicamente, mas um Marx que busca a superação de seus antigos tutores na própria história. Ele volta para trás munido da determinação de encontrar um método de revelação que faltou aos ideólogos alemães (ex. materialismo). Desta forma há Aufhebung conforme está superação é concebida em sua totalidade, a ruptura problemática. Este processo jamais estaria livre de superações pois a gênese parte de algo – pensar no devir.

➻ encontramos a UDC: superação e invenção ⇐ como surge o inédito?

➻ "Se o 'caminho de Marx' é exemplar, não o é por suas origens nem pelo seu detalhe, mas por sua vontade selvagem de se libertar dos mitos que se apresentavam como a verdade, e pelo papel da experiência da história real, que pesou e varreu esses mitos.

➻ determinação da superação!

➻ Virtude de Marx: ter adquirido o senso e a prática da abstração, indispensável à constituição de tôda teoria científica, o senso e a prática da síntese teórica e da lógica de um processo do qual a dialética hegeliana lhe oferecia um modelo abstrato e puro.

➻ Marx conseguiu simultaneamente criticar toda a sua ideologia para atingir a citerioridade dos seus mitos, e pelo treinamento, que lhe deu em manejar as estruturas abstratas dos seus sistemas.

Ciência e Existência, Álvaro Vieira Pinto

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problemas filosóficos da pesquisa científica

Editora Paz e Terra S/A, 1985

Leitura: Junho 2023/Setembro 2023

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Meditações deste livro: a exigência de formação da consciência do pesquisador, o conhecimento como fator histórico, as ideias como bens de produção e bens de consumo, a dialética na natureza e no espírito, a importância do conceito de totalidade, a finalidade social da linguagem, a contradição fundamental do processo de hominização, a historicidade intrínseca da ciência, a ingenuidade das concepções metafísicas, a função da sociedade na teoria do conhecimento, a cultura como produto do processo-produtivo, o problema histórico da evolução da cultura, determinismo e finalidade, os grupos sociais que detêm o poder de ditar as finalidades da pesquisa científica, a finalidade como propriedade das elites, condições que impõe a exigência do raciocínio formal ao dialético, a lógica formal como lógica da ciência clássica, caráter existencial do pensamento dialético e a necessidade de comunicação, a superação da contradição entre lógica formal e dialética pelo critério da política existencial, o papel social da prática que se torna critério de verdade científica, a importância das relações de trabalho, a alienação do trabalho, caráter existencial da relação entre homem e máquina, a fase atual da automatização, o caso especial da realidade subdesenvolvida, a natureza dos instrumentos culturais, pesquisa e liberdade, o aspecto ético da criação científica, o cientista como trabalhador assalariado, caráter ideológico do conhecimento científico, o conceito de totalidade e a relação da consciência do país atrasado com a das áreas metropolitanas, a necessidade de rejeitar o pensamento econômico ou político alienado, relações entre a consciência e o método, definição da consciência crítica, o trabalho alienado como obstáculo à realização da liberdade do homem, relação entre o particular e o universal, o homem como ser submetido ao desafio do mundo, o desenvolvimento das ideias como reflexo da situação existencial, o significado humano da situação, a finalidade última do homem, etc., etc.

O meu texto estará organizado da seguinte forma:

palavras chave que servirão de nódulos conceituais serão apresentados como seções seguidos de

--> comentários do autor, indicados por setas

  • anotações minhas em cima do que é trazido por Vieira

É importante notar que no livro, por ser altamente dialético em sua análise e síntese, esses conceitos não só se conversam, mas estão em determinação recíproca contraditória, um entendimento central!

Conhecimento enquanto Processo

➥ O conceito de totalidade [...] é a expressão do processo na integridade do seu desenvolvimento [...]. Embora uma pesquisa realizada neste instante faça avançar o processo e [...] sob este ângulo apareça como relativamente a criadora do processo [...] é o todo que domina logicamente as partes componentes. O processo [...] é o do conhecimento.

  • processo: conhecimento
    • estrutura e ordem? (sim, também) ⇒ conceito Bohmiano.

➥ [...] em face do problema gnosiológico somos levados a tomar um atitude lógica [...] de caráter dialético.

➥ Uma coisa é o conhecimento como ato vivo de apreensão de um conteúdo da realidade, outra é a sua formulação mental depois verbal.

  • lógicas dialética e formal ⇒ perspectivas diferentes da realidade: limiar e interna!

➥ O conhecimento existe desde que a organização da matéria começa a tomar o caráter que a difenciará, enquanto sistema vivo, do restante da natureza, que permanecerá inerte. [...] parte dela (da matéria) se diferencia num processo particular.

  • Essa diferenciação é a vida, um sistema reprodutivo de si, que se altera com o tempo e se adapta ao desafio do mundo.
  • O conhecimento como propriedade emergente da matéria biológica

➥ O cogito autentico, se quisermos conservar esta tradicional formulação, depurando-a dos seus elementos metafísicos ilusórios, nos é dado pelo cogitamus, porque esta expressão inclui tanto o aspecto cogito, eu penso, como o aspecto cogitor, eu sou pensado

➥ Como filósofo, posso ignorar o processo histórico [...] mas o processo histórico não me ignora

  • Problemática determinada de totalidade: a forma com a qual eu lido com o mundo para análizá-lo me coloca também dentro do problema. O ser humano está inserido no fluxo da realidade e do pensamento, e sujeito e objeto, é a lente reflexiva do universo, contraditório e particular totalizante!
  • materialismo: a reprodução que acaba no indivíduo que contempla (busca conhecer) implica na pré-condição principal: história
    • Esta pode ser lida como realidade em transformação contínua e unificada.

➥ [...] conhecimento se revela uma propriedade geral da matéria viva: a de ser capaz de sensibilizar-se pelas condições do ambiente e reagir a ele com respostas que tendem a ser mais apropriadas, s mais eficazes para contornar a ação possivelmente prejudicial de algum elemento do meio.

  • a adaptabilidade poder ser vista pela perspectiva da informação do ser sobre si no mundo. Essa capacidade permite ação proposital e informada, isto é, um investimento energético inteligente, muitas vezes coletivo, para garantir a reprodução. Não é uma necessidade, nem direcionado à "perfeição", como diz Álvaro, mas, se não encontra nenhuma barreira anuladora, pode obter muito sucesso por ser conhecimento desenvolvente; a eficiência da eficiência; termodinâmica para si.

➥ A repetição da experiência de superar um dado obstáculo leva à formação de hábitos de resposta a tais situações, os quais com o correr do tempo, se incorporam por via de transmissão hereditária ao patrimônio de comportamentos de uma espécie, e irão definir o grau de conhecimento a que chegou.

  • conhecimento cultural ↺ conhecimento genético

➥ [...] o conhecimento é o reflexo da realidade adquirido pela capacidade perceptiva que o ser vivo, segundo sua possibilidade de organização vital, está habilitado a fazer dessa realidade.

➥ [...] abrange a totalidade da escala dos seres vivos, que precisamente se definem como tais por possuírem esta capacidade de reagir cognoscitivamente ao meio.

  • reflexo da realidade e nossa capacidade de alterá-la de forma 'possível'

➥ [...] o conhecimento é sempre social, no sentido em que se encontra no mesmo grau médio de desenvolvimento nos indivíduos

➥ [...] quer [...] se torne patente a necessidade do concurso do conjunto social para a consecução da operação cognoscitiva.

  • caráter social do conhecimento:
    • 1º - mesmo grau entre indivíduos que não necessariamente interagem.
    • 2º - concurso do conjunto social que permite estruturação mais complexa do conhecimento.

➥ Sendo uma propriedade geral da matéria viva, o conhecimento acompanha o processo evolutivo desta.

  • evolução da complexidade
  • o materialismo coloca as propriedades da matéria com o fluxo da matéria, ou seja, conferem o caráter processual desta àquelas.

➥ A teoria crítica do conhecimento deve portanto admitir estas duas premissas fundamentais:

i) o conhecimento é uma propriedade geral da matéria organizada nas condições de matéria viva;

  • reprodução implícita em sua estrutura ⊕ homeostase para aproveitamento energético
    • ⟹ a complexidade 'se justifica'

ii) se trata sempre de uma reação da matéria viva em face do mundo circunstantes

➥ Isto supõe que num primeiro momento há percepção da situação objetiva, e em seguida a reação a essa situação.

  • praxis materialista!

➥ A matéria viva organiza-se por um movimento "contra a corrente", num sentido que aparentemente contradiz o segundo princípio da termodinâmica, embora na verdade obedeça a ele, mas, de toda maneira, aparece em forma de um movimento que parte de um estado de menor complexidade para outro mais complexo [...]. Se o conhecimento está sempre representado pela capacidade de refletir o mundo, portanto consiste em reflexos, a gama de complexidade destes é imensurável.

  • termodinâmica em si ➯ termodinâmica para si

➥ O conhecimento, ao surgir, inaugura um novo campo de leis da realidade, que se superpõe às de ordem mecânica, física e química, e destas se vale sem as derrogar, mas incorporando-as para os fins específicos dessa atividade superior.

  • Novo campo de leis da realidade: sistemas cibernéticos vivos!
    • homeostasis; reprodução; evolução.
  • Fenômenos emergentes ainda tem suas leis pautadas naqueles dos quais emergem, porém funcionam de forma especifica, de qualidade diferente daquilo de onde emergem. Tem que se pensar na estrutura e como ela afeta o comportamento do sistema.

➥ A matéria viva, ao apreender o mundo [...] apossa-se dele [...].

  • O ser vivo se apropria do mundo ⇒ matéria + informação

➥ A matéria viva, ao contrário (da matéria inerte), continuando a pertencer ao mundo pela sua realidade fundamental (materialismo), torna-se capaz, sob certo aspecto – e nisto consiste precisamente o conhecimento – de fazer o mundo ser dela.

➥ [...] o que sempre caracteriza (a matéria viva) é de alguma maneira dominar o mundo, inverter, mediando o conhecimento, a relação de pertencimento, tomar o mundo por objeto da sua ação, isto é, estabelecer a diferenciação ontológica, posteriormente transferida para o terreno lógico, entre a condição de objeto e de sujeito.

  • "A vida estabelece a diferenciação ontológica entre condição de sujeito e objeto" ⟹ materialismo ontológico do ser e não-ser
    • Ciência da existência
  • O ser humano pertence ao que lhe pertence!

➥ A diferenciação entre a condição de objeto e a de sujeito tem, pois, fundamento biológico (isto é, material) e se irá manifestar quando os organismos recém-aparecidos começarem a ser capazes de produzir em si o reflexo da realidade (cada vez mais detalhado e complexificado), tornando-se habilitados de conhecer o mundo.

  • O conhecimento do homem está, assim, fundamentalmente vinculado à sua existência física, química, biológica, porém, conforme ditam as dialéticas, não de forma limitante e sim superando-as (Aufhebung).

➥ Na origem [...] encontramos o grau absolutamente elementar do conhecimento, representação totalmente inconsciente da realidade, reduzida apenas a reações que se revelam úteis ao ser vivo, em resposta a estímulos primários. É a fase dos tropismos [...].

  • Tropismos simples são a base da complexidade posterior ⟹ Bohm

➥ As reações que a matéria viva apresenta (no tropismo) indicam já ser capaz de perceber influências do meio ou as modificações que nela ocorrem, e de responder a elas, mas ainda por respostas totalmente incondicionadas.

➥ Há claramente (nos animais) certa acumulação da experiência vivida na existência individual, o que se revela pelo aparecimento das formas mais simples de reflexos condicionados.

  • Possivelmente os reflexos anteriores se tornam estas pre-condições
  • A vida se complexifica sobre si.
  • Este processo acumulativo vai seguindo até que haja uma mudança de qualidade no reflexo da vida sobre o mundo externo, é disto que surge a consciência.

➥ Instala-se agora (conforme o reflexo sobre o mundo externo se complexifica) definitivamente a consciência, porém com caráter não reflexivo. A complexidade do sistema nervoso cerebral permite a formação de representações a que se deve conceder a nota de subjetivas, mas estas não alcançam a idealidade, a abstratividade que as torne independentes das coisas a que se referem e capazes de subsistir por si, na condição de ideia.

  • Representações subjetivas ainda altamente atreladas ao objeto material ⟹ não são ideias stricto sensu.

➥ Não há ainda a possibilidade da representação destacar-se da coisa individual, presente aqui e agoa, e adquirir o estado de ideia abstrata, universal, válida como expressão da totalidade de seres semelhantes, de uma classe de objetos.

  • Superação do conhecimento para se tornar ideia ⟹ desvincula-se da imediatez da realidade para se tornar mediada pela consciência

➥ Apenas existe a possibilidade de um reflexo subjetivo ligado inseparavelmente ao objeto que no momento o produz, e que portanto forma com ele uma só unidade gnosiológica.

  • Unidade gnosiológica do objeto e seu reflexo subjetivo ⟹ contraditório ∴ superável!

O mecanismo de ideação: isto significa que em presença de uma situação concreta, o homem primitivo está dotado de suficiente capacidade abstrativa para produzir ideias gerais, que transcendem a situação, não estando mais ligadas materialmente ao objeto particular que as desperta.

  • Antes: a abstração era contida no objeto
  • Com a complexificação & generalização, o objeto está contido na abstração ⟹ o mundo é composto de ideias (em sua concepção)
  • Grande força motriz do pensamento materialista: tensão entre o objeto e seu reflexo no pensamento
    • ontológica (inalcançável) ⇔↻⇔ epistemológica (insuficiente)

➥ A representação torna-se mais complexa, não apenas porque se abstratiza, se destaca da conexão direta com o objeto singular existente no momento no campo perceptivo, mas porque surge a possibilidade da vinculação das ideias umas às outras, de modo a criar um "universo do juízo"; totalmente subjetivo onde as ideias estabelecem relações definidas entre si, que serão depois, quando aparecer a consciência de fato, os elos lógicos que o pensamento discursivo irá utilizar.

  • Propriedade emergente da estrutura
    • Ideias transcendem os objetos que inicialmente as continham
  • Assume uma certa ordem do desenvolvimento que não é argumentado; consciência é um objeto de análise complicado, nada claro; mesmo assim não perde generalidade.

➥ [...] o que dá à ideia um caráter distinto do que tinha até então, deixando de ser simples sinal subjetivo da coisa atualmente presente para se tornar estímulo interior capaz de engendrar, ou fazer lembrar, outra ideia.

  • cibernética

➥ A partir desta fase, a ideia passa a um degrau mais alto no seu processo [...]. Este trânsito estabelece um tipo qualitativamente novo de capacidade representativa da realidade. [...] Ao mesmo tempo operam-se as modificações orgânicas concomitantes a este desenvolvimento hominídeo [...].

  • Na análise das particularidades não podemos perder de vista o sistema universal
    • O desenvolvimento é combinado

➥ Todo esse conjunto de transformações orgânicas e psíquicas mostra o animal humano está se preparando para passar ao estado reflexivo, por efeito da complexidade crescente da organização do córtex cerebral.

  • Mostram, na verdade, que os passos ínfimos em direção da reflexão são adaptações favoráveis.


A (Auto)Consciência

➥ A consciência aparece [...] quando o animal humano começa a trabalhar sobre a natureza, em um ato de conjugação social de esforços. [...] permanecerá longo tempo vinculada ao mundo (não destacada!), no grau de circuito fechado, de caráter mecânico, de estímulo-resposta, no estado de simples reflexos incondicionados que [...] se vão complicando e transformando em reflexos condicionados, os quais [...] iniciarão um processo próprio de diferenciação por complexidade crescente.

  • É importante notar a dialética implícita na descrição do surgimento da consciência.
    • Partimos do destaque, que é o trabalho (racional), a capacidade do animal humano se diferenciar do que lhe produz (a natureza), e começar, em passos ínfimos, a se produzir, tornar-se sujeito à frente do que antes era si, mas agora é o outro: o objeto (natureza). A característica de sujeito confere ao ser humano a consciência, mas de que forma?
    • Notamos que esse destaque permite um acúmulo quantitativo de reflexos sobre a realidade, o conhecimento como propriedade do sujeito destacado, que vai alterando em qualidade ao acumular complexidade até o ponto de uma mudança qualitativa. Esta é a consciência! Não um reflexo específico, ou conjunto de reflexos, nem a complexidade crescente destes conhecimentos, mas o salto qualitativo que emerge da matéria conforme ela se especializa como sujeito, conforme ela se diferencia.
    • Não há nada de transcendental, a matéria está somente seguindo o caminho que faz sentido para seu "propósito" (aqui entendido como determinação estrutural da matéria e as implicações disto - leia-se pré-condições determinísticas). No caso do ser humano, este é um animal que busca sobreviver e tem as ferramentas de adaptabilidade ao seu alcance, tanto genéticas, como evoluiu até o ponto de humano, como, cada vez mais, as reflexões subjetivas sobre o mundo objetivo (por ter se destacado racionalmente).

➥ O que importa é compreender que a consciência humana, que irá ser fonte e o agente da criação científica, inclui-se na continuidade de um processo natural, participa dos traços essenciais que o definem, apenas se distinguindo pela complexidade que atingiu, sem necessitar reconhecer nenhuma origem transcendental, estranha às forças que impulsionam a série das transformações dos seres vivos.

  • As leis do surgimento do sujeito racional consciente não são transcendentais, mas seguem o processo do surgimento do ser, chegando a uma ruptura qualitativa, mas jamais negando abstratamente a qualidade que é sua gênese!

➥ [...] concomitante com o processo de domínio cada vez maior da natureza, o homem vai criando a si próprio, acelera o seu desenvolvimento como espécie biológica, cuja característica é o poder de produzir os bens que necessita. O homem se hominiza ao humanizar, pelo domínio, a natureza.

  • Auto-reflexo: perceptivo + criativo

➥ [...] pode ser chamada (outra fase do conhecimento) de saber, e se caracteriza pelo conhecimento reflexivo. [...]. Defini-se pelo surgimento da autoconsciência. O homem toma consciência de sua racionalidade, reconhece nela um traço distintivo, que o institui na qualidade de um ser [...] cultiva-a intencionalmente em si, na sua formação individual, e na espécie, ao estabelecer os modos de transmissão voluntária, socialmente organizada, educacional do conhecimento.

  • Auto-reflexo do auto-reflexo ⇋ Consciência da consciência
  • O auto-conhecimento permite que o homem empreenda-se em desenvolver e expandir suas competências gnosiológicas.

➥ O saber do homem se transmite pela educação e por isso é uma transmissão de caráter social.

  • Nota-se que a determinação mútua entre cultura & biologia tem grandes implicações
    • Um sistema nervoso plástico e adaptativo + tecnologia de transmissão e acúmulo!

➥ [...] apesar de existir já a autoconsciência do saber, é a fase em que o homem apenas sabe que sabe, mas não sabe ainda como chegou a saber. [...] o que supõe o caráter coletivo, social do conhecimento, agora constituído por progressiva acumulação histórica.

  • Saber a partir do que sabem

➥ Em toda sociedade, o momento do saber precede logicamente o do conhecimento científico, mas se entrelaça também com ele, de modo que mesmo nas condições sociais cultas atuais os dois se interpenetram [...].

  • Salienta-se o fenômeno do ser humano em sociedade se apropriae do conhecimento acumulado, isto é, "saber" sem saber
    • Meio de alienação capitalista
    • Não necessariamente negativo (pois a sociedade sabe por ele), porém necessário

➥ [...] organização metódica. [...] cria as primeiras explicações racionais do mundo.

  • Crença como forma da razão ⟹ conjunto de ferramenta lógico-conceituais ritualísticas e interpretativas da realidade ⟹ não necessariamente atreladas à realidade
  • A razão tem que ser pensada em função do tempo e auto-determinada

O Trabalho

➥ [...] a condição indispensável para realizar o domínio da natureza, que todo ser vivo tem de exercer sob a pena de deixar de existir, seja individualmente, seja como espécie, é que o ser vivo conheça o mundo, [...] no sentido latíssimo [...].

  • Existe uma tensão contínua na existência do ser vivo, isto é, a matéria destacada em sistema metabólico e reprodutivo. Para se manter funcionando e poder se replicar, o sistema tem que ir 'contra a corrente' entrópica, utilizando da termodinâmica para si, diferenciando-se do mundo, complexificando seu funcionamento conforme ganha maior controle de sua existência. Esta tensão proporciona a força motriz do desenvolvimento do conhecimento e trabalho sobre o mundo.

➥ De agora em diante será possível dizer que o ser humano adquire a sobrevivência pela ação deliberada sobre o mundo, em função da representação cada vez mais clara que dele vai adquirindo, ou seja, que se mostra competente para trabalhar. Interfere no processo e estabelece modos de atuação sobre o mundo que importam em produzir, embora em estágio inicial, os meios de subsistência de que necessita.

➥ Em vez de simplesmente utilizar os recursos que acha à mão, começa a tomar medidas para fazê-los intencionalmente aparecer [...]. Assistimos ao nascimento da economia. A capacidade de reagir ao mundo avança mais e manifesta-se na produção intencional de instrumentos, que se desenvolvem num processo próprio, [...], na direção hominizadora. [...] o homem começa a operar instrumentalmente sobre o mundo. [...] com o processo de domínio cada vez maior da natureza, o homem vai criando a si próprio [...].

  • Uma ação deliberada sobre o mundo pressupõe a compreensão avançada deste, como também da causalidade
    • Apropriar-se disso é tornar-se sujeito.

➥ Assistimos ao nascimento da economia. A capacidade de reagir ao mundo avança e manifesta-se na produção intencional de instrumentos [...]. [...] o homem começa a operar instrumentalmente sobre o mundo.

  • Tecnologia

➥ [...] constituirão o mundo material da cultura.

  • o acúmulo cultural requer tempo ⟹ ponto crítico: o ser humano pode superar-se ☞ nova fase!

A Ciência

Pesquisa Ciêntífica e suas Implicações

➥ A pesquisa tem de ser interpretada [...] com o emprego do conceito de totalidade, pois somente a partir da compreensão lógica oferecida por esta categoria se chegará a criar a teoria que explica com todos os aspectos a atividade investigadora do mundo.

  • O conceito de totalidade se refere ao uso da dialética para esclarecer o processo da realidade, em específico o conhecimento humano. A pesquisa só pode ser entendida utilizando da totalidade de como o conhecer aparece no universo, como ele funda um universo subjetivo de representações (ideias), e como se relaciona com o mundo objetivo que existe para além de si, porém o incluindo (materialismo).

Dialética e Lógica Dialética

➥ Vista por este segundo ângulo (o do investigador individual), é a parte que determina o todo.

  • Exemplo de determinismo contraditório, pois o todo determina a parte também.

➥ O pensamento dialético explica-nos que [...] não tem sentido perguntar pelo que logicamente vem primeiro, se o todo ou a parte, mas apenas indagar qual dessas categorias, na análise epistemológica, e sob que ângulo particular, tem primazia.

  • Desenvolvimento sobre a dialética ⇒ UDC: totalidade & unidade (universal & particular)
  • A análise epistemológica nos dá a noção de qual ângulo partir para a melhor análise, mas jamais pode ser enviezado ou dar preferência entre os conceitos de parte e todo, eles são abstrações da realidade total, um todo formado de partes e partes formando um todo, recíprocos e contraditórios.

➥ [...] ela (a lógica formal) se reconhece uma modalidade de conhecimento, ou seja o conhecimento das operações intelectuais que produzem conhecimento.

  • A lógica formal é necessária e produtora, porém limitada e determinada pela dialética, isto é, a dialética é generalizadora, por isso o uso da lógica dialética.
  • dialética: ferramenta de desfazer "nós lógicos"
    • cibernética e auto-determinação

"nos pensamos": a entrada no caminho da dialética , e o abandono das especulações metafísicas.

  • Entender o pensar como processo biológico, psicológico e social.

Marx: Lógica e Política. Tomo I, II e III, Ruy Fausto (leitura atual)

Investigações para uma reconstituição do sentido da dialética

Editora brasiliense, 1983 (Tomo I); 1987 (Tomo II)

Editora 34, 2002 (Tomo III)

Leitura: Julho 2023/Setembro 2023 (pausada)

Introdução

A) Dialética marxista, humanismo, anti-humanismo, historicismo, antihistoricismo

B) A apresentação marxista da história

O Que É Dialética, Leandro Konder

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Editora brasiliense, 1981

Leitura: Agosto 2023

Este pequeno volume é um resumo muito valioso, não somente das ideias que compõe a dialética como também na elucidação de uma visão marxista sobre a realidade material. Recomendo-o imensamente para qualquer um que queira começar este tipo de leitura, tanto teórica quanto prática.

Os conceitos expostos neste livro serão organizados na seção Mas O Que É Essa Tal de Dialética acima!

Materialismo e Empirocriticismo, Vladimir Ilitch Ulianov

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Editorial Estampa, 1971

Título original: Materialisme et Empiriocriticisme (1908)

Leitura: Setembro – Outubro 2023

Este é um livro-polêmica no qual Lenine ataca certas ideias filosóficas de sua época, especificamente as de Mach e seus discipulos. Trata-se, em última instância, numa defesa do materialismo, e vou focar aqui em fazer um fichamento que colecione os posicionamentos sobre este último. É importante entendermos o que significa ser materialista e as implicações deste posicionamento filosófico quando tratamos do marxismo.

Existem diversas críticas a Lenine sobre este texto, como, por exemplo, que ele não é justo com os autores que ele critica. Além disso, é um texto bem debochado. Mesmo assim, podemos abstrair os problemas e colher os frutos úteis.

«» : significa citações diretas dos autores mencionados no texto

O Materialismo

➟ Constitui o materialismo filosófico: as sensações são «símbolos» das coisas (seria mais exacto dizer: imagens ou reflexos

➟ o materialista Friedrich Engels fala constantemente das coisas e das suas reproduções ou reflexos no pensamento:

«Mas donde é que o pensamento pode deduzir estes princípios? De si mesmo? Não... às formas do ser... estas formas de si mesmo, mas, precisamente e apenas do mundo exterior... Os princípios não são o ponto de partida da investigação mas o seu resultado final; não são aplicados à natureza e à história dos homens, mas abstracções destes; não é a natureza ou a humanidade que se condicionam aos princípios, pois os princípios só são verdadeiros na medida em que concordam com a natureza e com a História.»

➟O materialismo, de pleno acordo com as ciências naturais, considera a matéria como o dado primeiro, e a consciência, o pensamento, a sensação, como o dado segundo, porque a sensação não está ligada, na sua forma mais acabada senão às formas superiores da matéria (à matéria orgânica), e só pode supor, nas fundações do próprio edifício da matéria, a existência de uma propriedade análoga à sensação

Ernest Haeckel, Lloyd Morgan (biólogo), Diderot são mencionados

➟ O materialismo põe claramente esta questão ainda sem solução (sobre a existência de elementos que constituem os fenômenos), incitando, por isso mesmo à sua solução e novas investigações experimentais

Nota: é possível esse posicionamento sem reducionismo!

➟ Pensar a transformação da energia da excitação exterior num facto da consciência

Nota: dinâmica da existência

➟ A realidade existe fora do homem e independentemente dele. É esta a concepção materialista: a matéria suscita a sensação, agindo sobre os nossos órgãos dos sentidos. A matéria é o primordial. A sensibilidade, o pensamento, a consciência são os produtos mais elevados da matéria organizada de certa maneira.

➟ A tendência materialista consiste em atingir as sensações pelo universo exterior

Nota: acredito que uma posição emergentista é mais fértil nessa tarefa intelectual

➟ Realismo como termo empregado em oposição ao termo idealismo. O termo «realismo» foi adoptado pelos positivistas e também por outros confusionistas oscilantes entre o materialismo e idealismo.

Forma de explicar a reviravolta de certos filósofos contemporâneos de Lenine

➟ O que o materialismo afirma: que a natureza, o mundo exterior são independentes da consciência e das sensações do homem

➟ A matéria é primordial: o pensamento, a consciência, a sensibilidade são os produtos de uma evolução muito avançada. Tal é a teoria materialista do conhecimento.

➟ Reconhecer que o mundo exterior, refletido na nossa consciência, existe independentemente dela. Só esta solução materialista coincide efectivamente com os dados das ciências naturais e afasta a solução idealista da questão da causalidade.

➟ Materialismo de Feuerbach: «A natureza, que não é o objeto do homem ou da consciência é, bem entendido, para a filosofia especulativa, ou pelo menos, para o idealismo, uma coisa em sim no sentido que este termo tem em Kant, uma abstração desprovida de toda a realidade; mas é justamente a natureza que leva ao fracasso do idealismo. As ciências naturais, pelo menos no seu estado actual, conduzem-nos necessariamente a um ponto em que as condições para a natureza humana ainda não existam, em que a natureza, isto é, a Terra, ainda não era objeto de observação dos olhos e da inteligência humanos; sendo a natureza, por conseguinte, um ser absoluto estranho ao humano. A isto, o idealismo pode replicar: Mas esta natureza é uma natureza concebida por ti! Certamente, mas isso não significa que ela não tenha existido no tempo, como não significa que Sócrates e Platão, porque não existem para mim e só porque posso pensar neles não tenham tido uma existência real no seu tempo, sem mim».

➟ Materialismo de Engels + Feuerbach: «O pensamento e a consciência, diz Engels no Anti-Dühring, são produtos do cérebro humano». Encontramos no Ludwig Feuerbach a seguinte exposição das opiniões de Feuerbach e Engels: «O mundo material perceptível pelos sentidos e ao qual nós próprios pertencemos, é a única realidade», «a nossa consciência e o nosso pensamento, por muito transcendentes que pareçam, não são mais do que produtos de um órgão material, corporal, o cérebro. A matéria não é um produto do espírito, pois o próprio espírito não é senão o produto superior da matéria. Isto é, sem sombra de dúvida, puro materialismo».

➟ A eliminação do «dualismo do espírito e do corpo» pelo materialismo (ou seja, o monismo materialista) consiste em que o espírito, não tendo existência independente do corpo, é um fator secundário, uma função do cérebro, a imagem do mundo exterior.

➟ Engels declara, no seu Ludwig Feuerbach, que o materialismo e o idealismo são as correntes filosóficas fundamentais. O materialismo tem a natureza pelo fator primeiro e o espírito pelo fator segundo; o ser está no primeiro plano e o pensamento no segundo. O idealismo faz o contrário. «A questão fundamental de toda a filosofia», «a grande questão fundamental de toda a filosofia e, especialmente, da filosofia moderna» diz Engels, é a «relação do pensamento com o ser, do espírito com a natureza». Engels indica que esta questão filosófica fundamental «tem ainda um outro aspecto»: «que relação existirá entre nossas ideias acerca do mundo e o próprio mundo? O nosso pensamento estará em estado de conhecer o mundo real? Poderemos, nas nossas representações e concepções do mundo real, reproduzir uma imagem fiel da realidade?»

➟ Engels diz, clara e distintamente, que refuta a coisa em si inacessível de Kant. Engels diz, clara e distintamente, que se contrapõe ao mesmo tempo a Hume e Kant. Que há, pois, de comum entre esses dois filósofos? É que eles separam em princípio os «fenômenos» e as coisas representadas pelos fenômenos, a sensação e a coisa sentida, a coisa para nós e a «coisa em si».

Hume, aliás, não quer saber para nada da «coisa em si», considerando, de resto, a própria ideia como inadmissível em filosofia, pertencente à «metafísica».
Kant, ao contrário, admite a existência da «coisa em si», mas declara-a «incognoscível», diferente, em princípio, do fenômeno, respeitante a outro domínio, ao domínio do «além», inacessível ao saber, mas revelado pela fé.

➟ Impõe-se desde logo três importantes conclusões gnoseológicas:

1. As coisas existem independentemente da nossa consciência, independentemente das nossas sensações, fora de nós
2. Não há, nem pode haver diferença de princípio entre o fenômeno e a coisa em si. Não há diferença senão entre o que é conhecido e aquilo que não é ainda.
3. Na teoria do conhecimento, como em todos os outros domínios da ciência, é importante argumentar dialeticamente, isto é, não supor a nossa consciência imutável e completa, mas analisar como o conhecimento nasce da ignorância, como o conhecimento incompleto, impreciso se torna mais completo e mais preciso.
Nota: processo do conhecimento de AVP

➟ A única conclusão que daí tiram, inevitavelmente, todos os homens, na vida prática, e que o materialismo põe conscientemente na base de sua gnoseologia, é que existem fora de nós e independentemente de nós objetos, coisas, corpos e que as nossas sensações são imagens do mundo exterior.

➟ Segunda tese de Marx sobre Feuerbach:

«A questão de saber se o pensamento humano pode ter como resultado uma verdade objetiva, não é uma questão teórica, mas sim uma questão prática. É na prática, de resto, que o homem tem necessidade de provar a verdade, isto é, a realidade, o poder, o citerior do seu pensamento. A discussão travada sobre a realidade ou irrealidade do pensamento, isolada da prática, é puramente escolástica.»

➟ Todos os materialistas admitem a possibilidade de conhecer as coisas em si.

➟ Tese fundamental do materialismo: admissão dos objetos reais que existem fora de nós, aos quais «correspondem» as nossas representações. Assim, o materialista afirma a existência das coisas em si e a possibilidade de as conhecer.

➟ Desde o momento que utilizamos para nosso uso os objetos segundo as qualidades que percebemos neles, submetemos a uma prova infalível a exactidão ou a inexactidão das nossas percepções sensoriais. Se estas percepções são falsas, o uso do objeto que elas nos sugerem é falso, por conseguinte a nossa tentativa tem de fracassar. Mas se conseguimos atingir o nosso fim, e verificamos que o objeto corresponde à ideia que temos dele, adquirimos a prova positiva de que nossas percepções do objeto e das suas qualidades correspondem à realidade existente fora de nós.

➟ A teoria materialista, a teoria da reflexão dos objetos no pensamento, está aqui exposta com toda sua clareza: as coisas existem independentemente de nós. As nossas percepções e as nossas representações são as imagens. A verificação destas imagens, a distinção entre as imagens exatas e as imagens errôneas, é-nos fornecida pela prática. Seguindo Engels:

«... Quando fracassamos não estamos longe, regra geral, de descobrir a causa do nosso fracasso: verificamos que a percepção que servia de base à nossa tentativa era incompleta ou superficial ou estava ligada aos resultados de outras percepções de um modo que o estado de coisas não justifica. Assim como, frequentemente, temos o cuidado de educar e utilizar corretamente os nossos sentidos e restringir a nossa ação aos limites prescritos pelas nossas percepções corretamente obtidas e corretamente utilizadas, assim, frequentemente, concluiremos que o resultado da nossa ação mostra a conformidade das nossas percepções com a natureza objetiva dos objetos percebidos. Até o presente, não há um só exemplo, de que as nossas percepções sensoriais, cientificamente verificadas, engendrem no nosso espírito ideias acerca do mundo exterior que pela sua própria natureza em contradição com a realidade, ou que haja incompatibilidade imanente entre o mundo exterior e as percepções sensoriais que nos venham dele»

➟ A sensação é uma imagem subjetiva do mundo objetivo, do mundo an und für sich.

➟ A existência do que é refletido independentemente de quem reflete (a existência do mundo exterior da consciência) é o princípio fundamental do materialismo

➟ Certamente que a oposição entre a matéria e a consciência só tem significado absoluto em limites muito restritos: na conjuntura, unicamente nos da questão gnoseológica fundamental: Qual é aqui o primeiro e qual o segundo? Para além destes limites, a relatividade desta oposição não oferece qualquer dúvida.

➟ O materialismo é o reconhecimento das leis objetivas da natureza e do reflexo aproximadamente exato destas leis no cérebro do homem.

➟ A questão, verdadeiramente importante, da teoria do conhecimento, que divide as correntes filosóficas está em saber se a fonte do nosso conhecimento destas relações está nas leis objetivas da natureza ou nas propriedades do nosso espírito, na sua faculdade de conhecer determinadas verdades a priori, etc.

➟ Admitir a necessidade da natureza e concluir daí a necessidade do pensamento, é professar o materialismo.

➟ É o materialismo, é o reconhecimento da realidade objetiva do mundo exterior e das leis da natureza exterior, sendo este mundo e estas leis perfeitamente acessíveis ao conhecimento humano, mas sem poderem nunca ser conhecidos definitivamente.

➟ O materialismo diz que «a experiência socialmente organizada dos seres vivos» é um derivado da natureza física, o resultado dum longo desenvolvimento da natureza, desenvolvimento que começou numa época em que não havia e nem podia haver sociedade, nem organização, nem experiência, nem seres vivos.

➟ a única «propriedade» da matéria, que o materialismo filosófico admite, é a de ser uma realidade objetiva a de existir fora da nossa consciência.

➟ O que o materialismo afirma como imutável: na consciência humana (quando ela existe) reflete-se o mundo exterior existente e se desenvolve fora dela. Nenhuma outra «imutabilidade», nenhuma outra «essência», nenhuma «substância absoluta» existem para Marx e Engels. A «essência» das coisas oi a «substância» são também relativas; exprimem apenas o conhecimento humano cada vez mais profundos dos objetos, e, se ontem ainda este conhecimento não ia além do átomo e não ultrapassa, hoje, o eletrão ou o éter, o materialismo dialético insiste no caráter transitório, relativo, aproximativo, de todos estas balizas do conhecimento da natureza pela ciência humana que progride cada vez mais.

➟ O aspecto fundamental do materialismo é que toma por ponto de partida a objetividade da ciência, o reconhecimento da verdade objetiva refletida pela ciência.

«»

O Conhecimento, A Verdade, A Realidade

➟ Para Feuerbach, a «coisa em si» é uma «abstração provida de realidade»; quer dizer, é o mundo que existe fora de nós, perfeitamente conhecível e não diferindo, de maneira nenhuma, em princípio, do «fenômeno».

«Certamente que os produtos da imaginação são também produtos da natureza, porque o poder da imaginação, semelhante às outras forças humanas, é, em última análise, pela sua própria essência e origens, uma força da natureza;».«As representações que o homem faz de tudo que é da natureza são, portanto, também produtos da natureza, mas outros produtos que diferem dos objetos que representam».
Os objetos das nossas representações diferem destas representações, a coisa em si difere da coisa para nós, não sendo esta mais que uma parte ou um aspecto da primeira, como o ser humano não é mais que uma parcela refletida nas representações

➟ «O homem é o único objeto em que se realiza, «a identidade do sujeito e do objeto»; porque o homem é o objeto cuja igualdade e unidade com o meu ser não suscitam qualquer duvida»

➟ A transformação da «coisa em si» em fenômeno, em «coisa para nós» é justamente o conhecimento

➟ Duas questões (que Bogdanov confunde, de acordo com Lenine): 1. Existirá uma verdade objetiva, quer dizer: as representações humanas poderão ter um conteúdo independente do homem e da humanidade? 2. Se sim, as representações humanas que exprimem verdade objetiva poderão logo exprimi-la integralmente, sem restrições, absolutamente, ou apenas de maneira aproximada, relativa. Esta segunda questão é a da correlação entre a verdade absoluta e a verdade relativa.

➟ O ponto de vista do materialismo reconhece essencialmente a verdade objetiva

➟ Para o materialismo a matéria é, como tal, a realidade verdadeiramente objetiva

➟ Nós, materialistas, admitimos a realidade objetiva que nos é dada pela experiência, porque admitimos que as nossas sensações têm uma fonte objetiva independente do homem.

➟ Para o materialista, o mundo é mais rico, mais vivo e mais variado do que parece, sempre em progresso através da ciência que lhe vai descobrindo novos aspectos. Para o materialista, as nossas sensações são as imagens da única e última realidade objetiva.

➟ A matéria é uma categoria filosófica que serve para designar a realidade objetiva dada ao homem nas suas sensações, que a copiam, a fotografam, a refletem, e que existe independentemente das sensações.

➟ O materialismo toma por ponto de partida o mundo sensível, que ele considera como a última (ausgemachte) verdade objetiva

➟ Aplicar a dialética às relações entre a verdade absoluta e a verdade relativa

«A soberania do pensamento concretiza-se numa série de homens cujo pensamento é extremamente pouco soberano; o conhecimento que exerce um direito absoluto sobre a verdade, numa série de erros relativos; nem um nem outro» (nem o conhecimento absolutamente verdadeiro, nem o pensamento soberano) «podem ser realizados completamente senão através de um lapso de tempo infinito da vida da humanidade»
«Encontramos aqui, como já tínhamos encontrado atrás, a mesma contradição entre o caráter representado necessariamente como absoluto do pensamento humano e a sua actualização apenas nos indivíduos cujo pensamento é limitado, contradição que só se pode resolver pelo progresso infinito, pela sucessão praticamente ilimitada, das gerações humanas. Neste sentido, o pensamento humano tanto é soberano como não soberano e sua faculdade de conhecimento tanto é ilimitada quanto limitada. Soberano e ilimitado pela sua natureza (ou pela sua estrutura, Anlage), pela sua vocação, pelas suas possibilidades e pelo seu fim histórico final; não soberano e limitado pela sua execução individual e sua realidade singular»
«A verdade e o erro, como todas as determinações do pensamento que se movimentam em contradições polares, só tem valor absoluto para um campo extremamente limitado»

➟ Deste modo, o pensamento humano é, por sua natureza, capaz de nos dar e dá-nos efetivamente a verdade absoluta, que é afinal uma soma das verdades relativas. Cada fase do desenvolvimento das ciências integra novas parcelas desta soma de verdade absoluta, mas os limites da verdade de qualquer proposição científica são relativos, ora ampliados, ora restringidos, à medida que as ciências progridem.

➟ Não há, para o materialismo dialético, uma linha de demarcação insuperável entre a verdade relativa e a verdade absoluta. Do ponto de vista do materialismo moderno, os limites da aproximação dos nossos conhecimentos em relação à verdade objetiva, absoluta, são historicamente relativos, mas a própria existência desta verdade é certa como é certo que nos aproximamos dela. O que é certo é que qualquer descoberta é um progresso do «conhecimento objetivo absoluto».

➟ Não é uma questão da natureza imutável das coisas nem de uma consciência imutável, mas da correspondência entre a consciência que reflete a natureza e a natureza refletida pela consciência.

➟ Vimos Marx, em 1845, e Engels, em 1888 e 1892, fundar a teoria materialista do conhecimento no critério da prática.

«O resultado da nossa ação demonstra a correspondência (Übereinstimmung) das nossas percepções com a natureza objetiva dos objetos percebidos.»

➟ O ponto de vista da vida, da prática, deve ser o ponto de vista primeiro, fundamental, da teoria do conhecimento.

É evidente que não se deve esquecer que o critério da prática nunca pode, no fundo, confirmar ou refutar completamente uma representação humana, qualquer que seja. Este critério é, de igual modo, bastante «vago» para não permitir que os conhecimentos do homem se tornem um «absoluto»; é, por outro lado, bastante determinado para permitir uma luta implacável contra todas as variedades do idealismo e do agnosticismo.

➟ O universo é um movimento da matéria, regido por leis, e o nosso conhecimento, como produto superior da natureza, pode tão somente refletir estas leis.

➟ O pensamento do homem é «econômico» quando reflete exatamente a verdade objetiva: a prática, a experiência, a indústria fornecem então o critério da sua exatidão.

➟ «A unidade real do mundo consiste na sua materialidade, e isto prova-se não com alguns passes de prestigiador, mas por um longo e laborioso desenvolvimento da filosofia e da ciência da natureza» (Engels)

➟ Reconhecendo a existência da realidade objetiva, isto é, da matéria em movimento, independentemente da nossa consciência, o materialismo é inevitavelmente levado a reconhecer também a realidade objetiva do espaço e do tempo.

«O espaço e o tempo, diz Feuerbach, não são simples formas dos fenômenos, mas condições essenciais... da existência»
O espaço e o tempo são formas objetivas e reais da existência, e não simples formas dos fenômenos. O universo não é senão matéria em movimento, e esta matéria em movimento não pode movimentar-se senão no espaço e no tempo. As ideias humanas acerca do espaço e do tempo são relativas, mas a soma destas ideias relativas dão a verdade absoluta: estas ideias relativas tendem, no seu desenvolvimento, para a verdade absoluta e aproximam-se dela.

➟ Não se trata de fazer negar a Engels a necessidade e o alcance científico das pesquisas sobre as modificações e a evolução dos nossos conceitos de tempo e de espaço; trata-se de resolver, com espírito consequente, o problema gnoseológico, isto é, o das fontes e do valor de todo conhecimento humano em geral.

as nossas concepções de tempo e de espaço refletem, no curso do seu desenvolvimento, o tempo e o espaço objetivamente reais, aproximando-se aqui, como em geral, da verdade objetiva.

➟ Se as sensações de tempo e de espaço podem dar ao homem uma orientação biologicamente útil, é exclusivamente na condição de refletirem a realidade objetiva exterior ao homem: o homem não se poderia adaptar biologicamente ao meio, se suas sensações não lhe dessem uma representação objetivamente exata.

➟ Porque os materialistas, vendo no mundo real, na matéria que percebemos, uma realidade objetiva, têm o direito de concluir que, quaisquer que sejam as fantasias humanas e os fins que procuram são irreais se saem dos limites do espaço e do tempo.

➟ Dissociar a doutrina de Engels sobre a realidade objetiva do tempo e do espaço da sua teoria da transformação das «coisas em si» em «coisas para nós», do seu reconhecimento da verdade objetiva e absoluta, ou, mais precisamente, na realidade objetiva que nos é dada na sensação – dissociá-la do seu reconhecimento das leis naturais, da causalidade e da necessidade objetivas, é fazer um picado de uma filosofia que é uma só peça.

➟ Isto não quer dizer que as nossas representações de tempo e de espaço não se modifiquem em cem anos, que uma quantidade enorme de fatos novos não sejam recolhidos sobre o desenvolvimento destas representações.

A nossa «experiência» e o nosso conhecimento adaptam-se cada vez mais ao espaço e ao tempo objetivos, refletindo-os cada vez com mais exatidão e profundidade.

➟ Embora não conheçamos esta necessidade sabemos que ela existe. Donde nos vem, pois, este conhecimento? Vem precisamente donde nos vem o conhecimento das coisas que existem fora da nossa consciência e independentemente desta, quer dizer: da evolução dos nossos conhecimentos, que mostrou milhões de vezes ao homem que a ignorância dá lugar ao saber quando o objeto age sobre os órgãos dos sentidos, ao contrário, a ciência torna-se ignorância quando a possibilidade desta ação é afastada.

➟ Em Engels, a vida prática do homem irrompe na própria teoria do conhecimento, fornecendo um critério objetivo da verdade: enquanto ignoramos uma lei da natureza, esta lei, que existe e age sem se saber, fora do nosso conhecimento, faz de nós escravos da «necessidade cega». Mas, desde que a conheçamos, esta lei, que age independentemente da nossa vontade e da nossa consciência, torna-nos senhores da natureza. O domínio da natureza, realizado na prática humana, é o resultado de uma representação objetivamente fiel, no espírito humano, dos fenômenos e dos processos naturais; e é esta a melhor prova que tal representação (nos limites que nos ensina a prática) é uma verdade eterna, objetiva e absoluta.

➟ «A teoria materialista do conhecimento, diz J. Dietzgen, leva a verificar que o órgão humano do conhecimento não emite nenhuma luz metafísica, mas é uma parcela da natureza que reflete outras parcelas da natureza». «A faculdade de conhecer não é uma fonte sobrenatural da verdade, mas um instrumento-espelho que reflete os objetos do mundo ou a natureza».

➟ o materialismo dialético insiste sobre o caráter aproximativo, relativo, de qualquer proposição científica concernente à estrutura da matéria e às suas propriedades; sobre a ausência, na natureza, de linhas de demarcação absolutas.

➟ Que a verdade absoluta resulta da soma das verdades relativas em vias de desenvolvimento; que as verdades relativas sejam reflexos de um objeto independente da humanidade; que estes reflexos se tornem cada vez mais exatos; que cada verdade científica contenha, apesar da sua relatividade, um elemento de verdade absoluta.

«»

Dialética e UDCs

| causalidade & necessidade

➟ A dialética integra como um dos seus momentos, o relativismo, a negação, o cepticismo, mas não se adapta ao relativismo. A dialética materialista de Marx e de Engels inclui, sem dúvida, o relativismo, mas só até certo ponto; isto é, admite a relatividade de todos os nossos conhecimentos, não absolutamente no sentido da negação da verdade objetiva, mas no sentido da relatividade histórica dos limites da aproximação dos nossos conhecimentos em relação a esta verdade.

➟ A teoria materialista do conhecimento acerca a questão da causalidade

Feuerbach admite, na natureza, as leis objetivas, a causalidade objetiva, que não se reflete nas ideias humanas sobre a ordem, as leis, etc., senão com uma exatidão aproximada. O reconhecimento das leis objetivas da natureza está, para Feuerbach, indissoluvelmente ligada ao reconhecimento da realidade objetiva do mundo exterior, dos objetos, dos corpos, das coisas refletidas pela nossa consciência. --> Materialismo consequente.
«A ordem, o objetivo, a lei são apenas palavras com o auxílio das quais o homem traduz, na sua linguagem, para compreender, as coisas da natureza; estas palavras não são destituídas nem de sentido nem de conteúdo objetivo; devemos inclusivamente distinguir entre o original e a tradução. A ordem, o objetivo, a lei são, no sentido humano, expressões de qualquer coisa de arbitrário.
«O teísmo conclui diretamente do caráter fortuito da ordem, do objetivo e das leis da natureza a sua origem arbitrária, a existência de um ser diferente da natureza, que traz ordem, o objetivo e a lei à natureza caótica em si mesma, estranha a qualquer determinação. O espírito dos teístas divide a natureza em dois seres, um material e outro formal ou espiritual.»
Engels não admitia qualquer dúvida sobre a existência das leis da causalidade e da necessidade objetivas da natureza
«Para conhecer estes pormenores» (ou as particularidades do quadro de conjunto dos fenômenos universais),«somos obrigados a desligá-los do seu encadeamento natural ou histórico e estudá-los separadamente, nas suas qualidades, suas causas e seus efeitos particulares»
Engels sublinha particularmente a concepção dialética da causa e do efeito:
«Causa e efeito são representações que não valem, como tais, senão aplicadas a um caso particular, mas, desde que consideramos este caso particular na sua conexão geral com o conjunto do mundo, estas representações baseiam-se e resolvem-se e vista da interdependência universal, onde causas e efeitos variam continuamente, onde o que era efeito agora ou aqui se torna causa noutro lado ou depois, e vice-versa»
Assim, o conceito humano da causa e do efeito simplifica sempre um pouco as relações objetivas dos fenômenos da natureza, que reflete tão-somente por aproximação, isolando artificialmente tal ou tal aspecto de um processo universal único.
Lemos também no seu Ludwig Feuerbach:
As «leis gerais do movimento, tanto do mundo exterior como do pensamento humano», são «idênticas no fundo, mas diferentes na sua expressão no sentido em que o cérebro humano pode aplicá-las conscientemente, enquanto que, na natureza, e até agora, frequentemente, na história humana, abrem inconscientemente o seu caminho. sob a forma de necessidades exteriores no seio de uma série infinita de acasos aparentes»
O reconhecimento das leis da causalidade e da necessidade objetivas na natureza é muito claramente expressa por Engels, que, aliás, sublinha o caráter relativo dos nossos reflexos humanos, aproximados, destas leis em tais ou tais noções.
A concepção materialista do mundo, exposta por J. Dietzgen, afirma que as «relações de causalidade» estão contidas «nas próprias coisas».
«As ciências naturais investigam as causas, não fora dos fenômenos, nem além dos fenômenos, mas neles ou por eles».
«As causas são produtos de uma faculdade de pensar. Mas não são produtos puros: nascem da união desta faculdade com os materiais fornecidos pela sensibilidade que dão à causa assim engendrada uma existência objetiva. Do mesmo modo que exigimos que a verdade corresponda a um fenomeno objetivo, também exigimos que a causa seja real, que seja a causa do efeito objetivamente dado».
«A causa de uma coisa é a sua relação».

| liberdade & necessidade

➟ O alcance gnoseológico da argumentação de Engels sobre a liberdade e a necessidade

Engels diz: «Hegel foi o primeiro a representar exatamente a relação da liberdade e da necessidade. Para ele a liberdade é a intelecção da necessidade. «A necessidade só é cega na medida em que não é compreendida». A liberdade não está numa independência ilusória em relação às leis da natureza, mas no conhecimento destas leis e na possibilidade dada por aquela em pô-las a funcionar metodicamente para fins determinados. Isto não é tão verdade para as leis da natureza exterior como para as que regem a existência física e psíquica do próprio homem, – duas classes de leis que podemos separar quando muito na representação, mas não na realidade. A liberdade da vontade não significa, portanto, outra coisa senão a faculdade de decidir com o conhecimento de causa. Deste modo, quanto mais o julgamento de um homem é livre acerca duma questão determinada, maior é a necessidade que determina o conteúdo desse julgamento... A liberdade consiste, por exterior, fundado no conhecimento das necessidades naturais...»
Engels reconhece, desde o início as leis da natureza, as leis do mundo exterior, a necessidade da natureza.
Engels considera o conhecimento e a vontade do homem, por um lado, as leis necessárias da natureza, pelo outro, e, abstendo-se de qualquer definição, verifica simplesmente que as leis necessárias da natureza constituem o elemento primordial, a vontade e o conhecimento humanos o elemento secundário.
Engels não duvida da existência da «necessidade cega». Admite a existência da necessidade não conhecida pelo homem. A identidade completa da argumentação de Engels sobre o conhecimento da natureza objetiva das coisas e sobre a transformação da «coisa em si» em «coisa para nós», por um lado, e da sua argumentação sobre a necessidade cega, não ainda conhecida, pelo outro. O desenvolvimento da consciência e o dos conhecimentos coletivos da humanidade mostram-nos, a cada passo, a «coisa em si», desconhecida, que se transforma depois em «coisa para nós», conhecida, e a necessidade cega, desconhecida, a «necessidade em si», transformando-se em «necessidade para nós», conhecida.

➟ Marx e Engels dedicaram, portanto, muito naturalmente, uma atenção lata, não à repetição do que já tinha sido dito, mas ao desenvolvimento teórico sério do materialismo à sua aplicação à História, isto é, ao acabamento até à cumieira do edifício da filosofia materialista. Limitaram-se, muito naturalmente, no domínio da gnoseologia, a corrigir os erros de Feuerbach, a ridicularizar as banalidades do materialista Dühring, a criticar os erros de Büchner, a sublinhar que o que faltava, sobretudo, aos escritores mais populares e mais escutados pelos meios operários, era a dialética. «»

A Estrutura das Revoluções Científicas, Thomas S. Kuhn

EstrRevCien.jpg

Editora Perspectiva, 1989

Título original: The Structure of Scientific Revolutions

Leitura: Setembro/Outubro 2023

Neste livro, o autor apresentará uma outra forma de enxergar a história da ciência, que quebra com a tradição que o precedia. O autor busca criar uma visão filosófica da ciência que leva em conta certos paradigmas e revoluções científicas. Ele busca uma história que é mais que uma cronologia, ou seja, uma ordenação de descobertas e avanços acumulativos, buscando entende cada momento da ciência em sua totalidade racional contextualizada pela cultura científica então presente. Seu argumento sobre esse novo entendimento é que os sistemas de crença passados surgem dos mesmos processos cognitivos e intelectuais que aparecem na ciência contemporânea: uma tentativa de dar uma imagem racional ao mundo e seus fenômenos.

Isto requer uma nova perspectiva historiográfica e filosófica nos estudos das ciências, algo empreendido de diversas formas por diversos autores: Kuhn, Popper, Labatos, Lauden, Feyerabend, Chang, Toulunin. Este empenho passa por diversos níveis da produção científica como a estrutura de teorias, dinâmica de teorias, explicação científica, concepções do progresso científico, concepções de racionalidade científica, mecanismos de justificação epistêmica e relações interteóricas, por exemplo.


Introdução: Um Papel Para a História

Kuhn nos diz que "historiadores estão encontrando mais e mais dificuldades para preencher as funções que lhes são prescritas pelo conceito de desenvolvimento por acumulação", reconhecendo que um processo quantitativo não serve para explicar os processos qualitativos, ou de mudança qualitativa, dentro da ciência. Há uma necessidade de mudança de problemática: "Cada vez mais alguns deles suspeitam que esses simplesmente não são os tipos de questões a serem levantadas".

Dando continuidade para a prática científica, chegamos a diferenças similares e similaridades diferentes entre as ciências de épocas distintas, no entanto "Se essas crenças obsoletas devem ser chamadas de mitos, então os mitos podem ser produzidos pelos mesmos tipos de método e mantidos pelas mesmas razões que hoje conduzem ao conhecimento científico.

Esse estudo propõe contribuir à uma revolução historiográfica em andamento, a que "Em vez de procurar as contribuições permanentes de uma ciência mais antiga para nossa perspectiva privilegiada (ver anacronismo), eles procuram apresentar a integridade histórica daquela ciência, a partir de sua própria época.


1. A ROTA PARA A CIÊNCIA NORMAL

Ciência normal é "a pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas". Isto é, a ciência em sua história, já posta e com seus fundamentos estabelecidos, pelo menos temporariamente. O autor não utiliza dos conceitos dialéticos que auxiliariam com esta exposição. De qualquer forma, Kuhn mostra diversos exemplos de trabalhos que foram capazes de "definir implicitamente os problemas e métodos legítimos de um campo de pesquisa para as gerações posteriores de praticantes de ciência". A forma com a qual isto ocorre é porque "Suas realizações foram suficientemente sem precedentes para atrair um grupo duradouro de partidários afastando-os de outras formas de atividade científica dissimilares. Simultaneamente, suas realizações eram suficientemente abertas para deixar toda espécie de problemas para serem resolvidos pelo grupo redefinido de praticantes da ciência".

Essas duas características acima são o que definem os paradigmas. Estes tem a capacidade dupla de serem núcleos de concentração do esforço científico em volta de uma interpretação específica dos fenômenos, enquanto ainda proporcionam a capacidade de avanços e descobertas científicas. Os paradigmas estão intimamente relacionados com as ditas 'ciências normais'. O aluno que busca entrar no e atribuir ao estudo de uma dessas ciências, inicialmente estuda o paradigma, o que lhe prepara para ser membro de uma comunidade acadêmica específica. Uma vez que este se torna atuante nessa área de pesquisa, raramente existem desacordos nos pontos fundamentais, pois trata-se de pessoas que "aprenderam as bases de deu campo de estudos a partir dos mesmos modelos concretos".


2. A NATUREZA DA CIÊNCIA NORMAL

Neste capítulo, Kuhn irá elucidar seus conceitos de ciência normal, o que necessita também da caracterização do que a particulariza: o paradigma. Primeiro, faz-se a distinção entre o que poderia se entender como um paradigma absoluto quando, na verdade, ele é sempre limitado na sua aplicação, ou seja, ele requer e permite avanço da ciência normal que 'paragmetiza'. Mesmo assim, ele é útil aos cientistas, com os quais adquire status, porque é de outra qualidade que as outras ideias competidoras. O paradigma é mais bem sucedido na resolução de alguns problemas que o grupo de cientistas reconhece como grave. Sob análise faustiana com seu reflexo de sujeito, pode-se dizer que o sucesso é... paradigma. Neste caso, o paradigma aparece como pressuposto refletido no sujeito. No entanto, como dito por Kuhn, ele ainda resolve problemas, ou seja, seu sucesso é posto e ele põe-se como ciência normal. Em prática, entender a realidade da forma que o paradigma dita, a sua problemática ou forma de problematizar o mundo, se mostra fértil cientificamente. O paradigma apresenta-se relevante, e demonstra ter verdade em sua essência. A verdade em si é uma função epistêmica, relativa aos cientistas que se deparam com a ciência de sua época. De qualquer maneira, aceita e desenvolvida por estes. A ciência normal, fruto do paradigma que permite o sucesso cientifico, é estabelecida.

Nota-se que o paradigma, em si limitado pela seu surgimento histórico e permissivo de avanços, também oferece limites por sua vez. Os cientistas engajados numa ciencia normal ocupa-se com operações de limpeza, de forçar a natureza a encaixar-se dentro dos limites preestabelecidos e relativamente inflexíveis. Conforme o conceito de Vieira de intencionalidade, a ciência está inerte, sem o objetivo de descobrir novos fenômenos da matéria mas dirigida ao estudo dos fenômenos previstos pelo paradigma e suas teorias fornecidas. Seguindo Vieira ainda, a ciência se torna contraditória ao negar a essência de sua própria gênese. O paradigma, que inicialmente aparece como novo e bem sucedido, impõe limites ao descobrimento do novo e à análise de fenômenos inéditos. Kuhn define isto como um possível defeito, quando na verdade, é somente o movimento de gênese e estabelecimento de uma nova ciência normal. Ele nos lembra, essencialmente, que o paradigma permite a concentração de esforços sob uma parcela de natureza com profundidade e detalhe imprescindível para o progresso científico. Ao mesmo tempo, passando pela pré-história e história da ciência normal rapidamente, ele chega no começo de sua pós-história: a ciência normal possuí um relaxamento interno das restrições que limitam a pesquisa. Seu sucesso é posto e depois negado, durante o intervalo no qual foi bem sucedido, ele proporcionou soluções aos problemas relevantes e, ao se tornar negável, pelo menos partes dessas realizações sempre demonstra-se permanente. A ciência é negada porém permanece afirmada. A ciencia inerte pode entrar em crise, contextualizada pelo suposto sucesso medido na métrica de sua época. Há Aufhebung.

Servindo de pivot conceitual, o paradigma exerce sua influência sobre os problemas da ciência normal, isto é, com o que a ciência se ocupa. Kuhn prevê três focos centrais. Existem as atividades de coleta de fatos da ciência normal, composta do aprofundamento nas classes relevantes ao paradigma, da confirmação dos fenômenos previstos pelo paradigma, e do trabalho empírico para articular a teoria do paradigma. Outra parte do trabalho teórico normal usa a teoria existente para prever informações fatuais de trabalho intrínseco na produção baseada na ciência. Tal qual os outros focos, são manipulações da teoria que podem ser verificadas diretamente na prática ao serem encontradas nos pontos de contato entre a teoria e a natureza. Eles se tornam, assim, a possibilidade de confirmação epistêmica e teste da teoria para com a realidade. Para Kuhl, também existem problemas teóricos relacionados com a articulação do paradigma, nos quais a forma do paradigma pode ser rearticulada para servir melhor sua função. É necessário entender o mecanismo pelo qual isso ocorre: as cientistas que concebem as experiencias para distinguir as teorias são as mesmas que elaboram as versões a serem comparadas. A teoria se testa por meio da cientista. O paradigma se revela também como objeto da ciência normal que define.


3. A CIÊNCIA NORMAL COMO RESOLUÇÃO DE QUEBRA-CABEÇAS

Kuhn nos diz que há um reduzido interesse em produzir grandes novidades, tanto em conceitos quanto em fenômenos. Existe uma margem estreita de resultados esperados que, quando não obtidos, são considerados um fracasso do cientista e não um fenômeno inédito da natureza a ser integrado ao paradigma. Dentro da lógica posta pelo paradigma, aquilo que foge do esperado são simples fatos, sem relação e conexão com o progresso contínuo da pesquisa – eles fazem parte do progresso descontínuo da ciência. Até mesmo o projeto cujo objetivo é a articulação de um paradigma não visa produzir uma novidade inesperada. Na realidade, a pesquisa normal produz resultados que são úteis pois contribuem para aumentar o alcance e a precisão com os quais o paradigma pode ser aplicado. Resolver um problema da pesquisa normal é alcançar o antecipado de uma nova maneira. Dentro de um paradigma, a maneira de alcançar resultados antecipados permanece problemática e a atividade da ciência normal é elucidar essas particularidades incongruentes paradigmáticas. Isso requer a solução de todo tipo de complexos quebra-cabeças instrumentais, conceituais e matemáticos.

Quebra-cabeça indica aquela categoria particular de problemas que servem para testar nossa engenhosidade ou habilidade de resolução de problemas. O desafio apresentado pelo quebra-cabeça constitui uma parte importante da motivação do cientista para o trabalho. O critério para um quebra-cabeça é a certeza que este possuí solução. Para Kuhn, a ciência normal se ocupa com problemas solucionáveis, cujos resultados não precisam ser intrinsicamente importantes ou interessantes. Conforme uma comunidade científica adquire um paradigma, esta adquire também um critério de escolha de problemas dorados de uma solução possível enquanto este paradigma reinar sobre a pesquisa. Esses serão os problemas sobre os quais haverão esforços de resolução enquanto os problemas não problematizados pelo paradigma serão rejeitados como metafísicos ou como sendo parte de outra disciplina. Os praticantes da ciência normal, de acordo com o autor, se concentram sobre problemas que somente a sua falta de engenho pode impedir de resolver, o que explica o progresso tão rápido – o foco. Ao buscar o que atraí a pessoa à ciência, Kuhn chega às razões de desejar ser útil, da excitação advinda da exploração de um novo território, da esperança de encontrar ordem e do impulso para testar o conhecimento estabelecido. São essas motivações que auxiliam a determinação de problemas particulares.

Quebra-cabeças, além de terem uma solução, devem também obedecer regras que limitam as soluções aceitáveis e os passos para obtê-las, um paralelismo importante para Kuhn entre eles e os problemas da ciência normal. Aqui, "regra" tem que ser entendida amplamente como um "ponto de vista estabelecido" ou "concepção prévia", desta forma os problemas acessíveis a uma determinada tradição de pesquisa apresentam características similares às dos quebra-cabeças, seguindo regras que governam a solução. Nota-se como isso se dá na observação: aquilo observado tem que ter uma significação – a teoria precede o experimento. Antes de se tornarem medida de alguma coisa, é necessário relacionar o dado a uma teoria que prediga o comportamento do sistema. Depois que essa relação é estabelecida, o equipamento é reorganizado para que os resultados experimentais possam ser correlacionados sem equívocos com a teoria. Restrições semelhantes ligam as soluções admissíveis aos problemas teóricos.

O estudo das tradições da ciência normal revela outras regras adicionais que proporcionam informações a respeito dos compromissos que os cientistas derivam de seus paradigmas, por exemplo os enunciados explícitos das leis, conceitos e teorias científicos. Esses formam o limite da problemática de um certo paradigma: auxiliam na formulação de quebra cabeças e suas soluções aceitáveis. Num nível inferior, o compromisso com certos tipos de instrumentos e como usá-los constitui compromissos relativos que também proporcionam regras do jogo para o cientista. Existem também compromissos de nível mais elevados (quase metafísico), como a ontologia e seu efeito na explicação, isto é, que espécies de entidades o Universo contém e não contém, indicando, no plano metodológico, como devem ser as leis definitivas e as explicações fundamentais. Também existem os compromissos que caracterizam o cientista enquanto tal. Aqui, Kuhn idealiza o espírito cientista.

A existência dessa rede de compromissos é o que relaciona a ciência normal à resolução de quebra cabeças: os problemas propostos e as soluções pensáveis – a problemática do paradigma. Esses compromissos proporcionam regras que lhe revelam a natureza do mundo e de sua ciência. A metaciência da ciência normal, para Kuhn está nos quebra-cabeças e regras que esclarecem a prática científica paradigmatizada. É bom lembrar que os paradigmas podem dirigir a pesquisa mesmo na ausência de regras – visão científica do mundo.


4. A PRIORIDADE DOS PARADIGMAS

Este capítulo se ocupa com a relação existente entre regras, paradigmas e a ciência normal, especificamente no trabalho do historiador que isola pontos específicos de compromissos descritos no capítulo anterior. A investigação histórica de uma determinada especialidade num determinado momento revela um conjunto de ilustrações recorrentes de diferentes teorias nas suas aplicações conceituais, instrumentais e na observação – essas são os paradigmas da comunidade.

Conceptos y teorías en la ciencia, Jesus Mosterín (Cap 8 e 10)

Capítulo 8: História Y Teoria Abstracta

O autor começa distinguindo entre história e teoria. Para ele, toda teoria é matemática e a história toma um sentido mais amplo, que não precisa ser humana ou temporal. Esses conceitos estão presentes na ciência: toda ciência tem um componente histórico e outro teórico. Cada um desses conceitos distintos estão ocupados de partes distintas caracterizadoras da ciência, A história lida com sistemas, ou um conjunto bem delimitado de objetos junto com suas propriedades, posições e interrelações bem definidas entre si. Já a teoria lida com estruturas, aqui referindo-se à certas características comuns a diversos sistemas - padrões entre diferentes sistemas. Uma estrutura é assim mais abstrato que um sistema, podendo se dizer que a estrutura é a forma dos sistemas, com um mesmo sistema podendo ter várias estruturas, a depender de quais características são relevantes à divisão.

A história é aquilo que se ocupa com o particular. Esta ampla noção é empregada para dizer que qualquer dado ou informação de um sistema contribuí à sua história. A história total de um sistema seria uma descrição total do sistema. Em toda ciência há o estudo de particulares, assim, se estabelece que toda ciência lida com sua história. O autor adiciona que a maior parte do trabalho do cientista pode ser resumido a estabelecer a história de um sistema, de recolher dados históricos e enunciar hipóteses históricas enquanto este trata de descrever a realidade. Já a teoria trata daquilo que é geral, a descrição de uma estrutura abstrata. São com estas abstrações que pode se definir algo com independência de qualquer realidade.

A realidade, total por natureza, tem que ser delimitada por nós para ser compreensível. É assim que obtemos os sistemas específicos com os quais a ciência lida. Para se definir um sistema, indica-se o conjunto de coisas das quais se vai falar (que constituem o universo do sistema) assim como também as relações entre essas coisas. Ao fazer essa delimitação, o autor está permitindo a descrição de uma parcela da realidade, pois somente assim ela pode ser estudada, articulando ela de alguma maneira e decidindo quais aspectos do total são relevantes e serão considerados. Nota-se que é possível definir sobre um mesmo universo (um mesmo conjunto das mesmas coisas) diferentes sistemas ao se considerar diferentes relações entre os elementos como relevante. É por isso que se pode ter uma descrição biológica, física e química de um mesmo corpo, por exemplo. O sistema pode ser homogêneo ou heterogêneo, caso seja composto por um ou mais universos, respectivamente. Falando na linguagem de conjuntos, um sistema homogêneo tem somente uma classe de objetos e suas relações, enquanto um sistema heterogêneo tem diversas classes e interações entre si. No entanto, nota-se que com a operação de união, pode-se tornar um sistema heterogêneo num sistema homogêneo, afinal, fazer com que uma parcela da realidade constitua um sistema homogêneo ou heterogêneo não depende da realidade, mas de nosso modo convencional de descrevê-la.

Mosterín aciona seu conceito de história ao propor que a totalidade de ideias verdadeiras sobre um sistema constitui a verdadeira e completa história desse sistema, isto é, tudo que poderíamos descrever dos objetos e relações relevantes de uma certa parcela da realidade. Contudo, nosso acesso a essa história é sempre limitada, e temos, na verdade, uma historia parcial. Além disso e com frequência, não temos certeza da veracidade de todas nossas ideias sobre um sistema, e portanto a história se torna hipotética e parcial. Uma vez delimitado o sistema, o pedaço de realidade considerado a partir de uma perspectiva específica, a veracidade da história depende deste, pois é ciência com vocação de verdade objetiva. A história pode utilizar de ideias complexas, fazer generalizações desde que se trate de ideias construídas a partir de conceitos correspondentes aos universos e entidades distinguidas do sistema em questão – a história não pode fugir de si mesma.

Tratar de teoria e estruturas significa um salto qualitativo de análise, que leva em conta teoremas e conceptores (neologismo) ao invés de ideias e conceitos, respectivamente. Para caracterizar uma estrutura realizada em sistemas distintos, o autor argumenta que é necessário um procedimento que descreva a estrutura independentemente dos sistemas que supostamente a realizam. Isso requer a abstração de sistemas diferentes numa estrutura com o uso de conceptores, ou núcleos que de algum modo permitem pensar diversos conceitos que unificam sistemas em algo comum: sua estrutura. A combinação destes conceptores criam teoremas. Quando substituímos os conceptores por conceitos concretos de algum sistema e os teoremas se tornam ideias, a teoria se transforma em história. Neste caso, a confirmação é histórica, ela pode ser verdadeiramente representada pela teoria, pela forma que foi abstraída, e podemos dizer que o sistema tem uma certa estrutura.

O autor propõe que, se um sistema é um modelo de uma teoria, isto é, se realiza a estrutura correspondente, podemos obter ideias verdadeiras sobre o sistema a partir de sua estrutura. Desta forma, é possível definir uma estrutura em abstrato, sem precisar especificar todos os sistemas que a realizam, mas ainda voltar ao material e descrever a realidade histórica. Esta afirmação, que um certo sistema empírico possuí una certa estrutura é sempre uma hipótese histórica, susceptível à refutação, ao contrário da teoria, cuja validez é completamente definida pela relação lógica de seus axiomas que constituem a definição da estrutura.

Toda teoria é matemática. Mosterín diz que definir uma estrutura é o mesmo que formular sua teoria. Isto é independentemente da realidade empírica do mundo, depende somente dos conceptores e teoremas, é matemático pois a matemática pode ser definida como a ciência das estruturas e neste sentido toda teoria é matemática. A ciência empírica se ocupa com sistemas reais do mundo que nos rodeiam, estudados pela história. Podemos crer que esses sistemas são modelos de alguma teoria, mas se descobre-se que não são, precisamos mudar de estrutura para descrever aquela parcela da realidade. A teoria se demonstra como somente um instrumento para iluminar a história. O que nos interessa em primeiro lugar é o mundo perceptivo que nos rodeia e, em segundo lugar, nossa descrição simbólica deste, sua história parcial e hipotética. Nunca poderemos estar completamente certos que um certo sistema tem uma estrutura específica, porém só podemos fazer teorias de estruturas e só podemos estar certos das estruturas. Esta interrelação define muito bem a relação do ser humano com a ciência e seu objeto, a realidade. Precisamos criar estruturas para interpretar teóricamente o outro lado do trabalho científico, a produção da história dos sistemas sendo estudados. No entanto, essa história é sempre parcial e hipotética e sua correspondência com uma estrutura pode se demonstrar falsa. As estruturas são somente esquemas projetivos nas nossas cabeças, somente a história lida com a realidade e portanto é tão insegura.

Mosterín finaliza dizendo que graças às teorias conseguimos introduzir ordem conceitual no caos do mundo confuso e sem forma. Fornecemos à história instrumentos de extrapolação e explicação, entendemos e dominamos o mundo, mesmo que com um entendimento e um domínio sempre inseguro e problemático.

Capítulo 10: Sobre el Concepto de Modelo

Neste capítulo, o autor clarifica a ideia de modelo. Podemos considerar a analogia feita por Ferrater e expandida por Mosterín entre pinturas e modelos: o pintor x pinta a pintura y que representa o modelo z, isto é, existe uma diferença entre a pintura e o modelo que neste caso se assemelha mais ao objeto que está sendo pintado. As teorias podem ser entendidas nesses termos como uma pintura sem similaridade pictórica, mas ainda representativa. O cientista, ainda na analogia, é o pintor que constrói a teoria que descreve uma determinada parcela da realidade. Assim, podemos partir para a análise do conceito de modelo de uma teoria.

O objeto de investigação científica não é um indivíduo, mas sim um sistema. Aqui sistema leva o significado proposto por Mosterín acima, um conjunto de coisas e suas relações entre si, elucidadas pela história deste sistema. O sistema é uma entidade completa formada por diversos elementos e as funções entre esses elementos. O estudo científico de um modelo busca elaborar uma teoria do sistema, esquemas que permitam a descrição o funcionamento desse sistema assim como sua evolução no tempo. Quando o sistema funciona conforme sua descrição teórica, diz-se que esse sistema é um modelo ou realização da teoria. O autor ainda desenvolve que teorias variam em alcance, e pode-se ter até uma teoria que lida com classes de sistemas. De qualquer forma, procuramos as aplicações desses sistemas. É importante notar que Mosterín não descreve em detalhes a ideia de aplicabilidade, que vem sempre acompanhada de um nível de precisão aceitável.

O autor nota que uma teoria elaborada para um sistema específico, pode ter também outros modelos. Isto é, a teoria é aplicável a diferentes modelos, existe o descobrimento de outros sistemas em que ela se cumpre. Trazendo o conceito de ciência normal de Kuhn, podemos observar que uma das tarefas da comunidade científica formada em torno de uma teoria que serve como paradigma é a busca de aplicações em outros sistemas, para além de seus modelos paradigmáticos. Entre si, esses modelos tem uma estrutura em comum que é caracterizada pela teoria. A estrutura, também definida acima pelo autor, pode ser considerada intencionalmente como aquilo em comum entre os modelos de uma teoria, como também extencionalmente como a classe e todos os modelos da teoria.

Passando para a teoria de modelos, podemos usar as ideias de similaridade e isomorfismo. Dois sistemas são similares se tiverem o mesmo número de relações e se cada relação em um sistema é correspondente à outra relação no outro sistema com a mesma paridade. Dois sistemas similares são isomorfos se seus universos tem a mesma quantidade de indivíduos com as mesmas relações entre si. Dada uma teoria com certos predicados, podemos relacioná-los às relações de um sistema. Especificamente, um teorema pode ser interpretado sobre um sistema supondo-se que as variáveis se referem aos elementos deste sistema e que os predicados do teorema se referem às relações do sistema. Se todos os teoremas da teoria se aplicam a um sistema, dizemos que este sistema é um modelo dessa teoria, enquanto se algum teorema se demonstra falso, o sistema não é um modelo. Percebe-se que sistemas isomorfos são modelos das mesmas teorias – o isomorfismo serve para estabelecer a diferença entre teorias categóricas (cujos modelos são isomorfos entre si) e teorias polimorfas (que tem modelos que não são isomorfos). Desta forma, e aqui aparece a dialética, uma teoria determina a classe de seus modelos e um sistema determina a classe de todas as teorias de qual é um modelo.

Mosterín adverte na necessidade de especificar o que significa modelo. De acordo com ele, a palavra toma significados opostos na linguagem comum. Quando opomos modelos às teorias, isto é, modelo enquanto um sistema em que se cumpre o que é posto pela teoria, obtemos uma significação melhor determinada e aquela estudada pela teoria de modelos. O que se entende como um 'modelo de um sistema', quer dizer, na verdade, a teoria que tem como um modelo aquele sistema, no sentido explicado acima.

Por fim, lidamos com a situação de querer construir uma teoria para um sistema complicado e pouco conhecido. Podemos tomar um caminho indireto de descrição teórica e focar num sistema mais simples e melhor conhecido que tenha características similares e que intuitivamente nos pareçam relevantes. Assim, podemos construir uma teoria que seja efetiva na descrição do sistema simples para depois aplicá-la ao sistema complexo. Se obtivermos sucesso, dizemos que o sistema simples serve como modelo do sistema complexo. Neste caso, ambos sistemas são modelos da mesma teoria e possuem propriedades estruturais em comum. Nota-se que servir de modelo de é diferente de ser modelo de.

Um Discurso Sobre As Ciências, Boaventura de Sousa Santos

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Edições Afrontamento, 1987

Leitura: Outubro 2023

A tese principal do autor é que o paradigma dominante, ou modelo de racionalidade, das ciências passa por um período de transição no fim do século XX em direção de um novo paradigma. Pessoalmente, eu discordo do que ele traz como paradigma emergente ou novo, mas sua caracterização do paradigma hegemônico e da crise deste são de enorme uso para um cientista. Quarenta anos após sua escrita, percebemos que o desenvolvimento da ciência não segue os caminhos de negação abstrata pós-moderna, conforme Santos pensava, mas sim os moldes neoliberais de produção progressista rasa. Desta forma, a crise pontuada neste livro segue vigente, estendida nas contradições de uma ciência sem autoconsciência que não se supera (aufhebung) de fato, mas coexiste com os problemas que supostamente deveria ser utilizada para resolver. Assim, este livro é muito útil para termos uma visão crítica da ciência contemporânea, porém pouco útil na resolução de suas crises que são, em última instância, sociais, isto é, estruturais.

Começamos, então, pela forma com a qual Santos trata o fim do século XX. Diversas contradições são trazidas: os avanços inéditos recentes (últimos 30 anos) são contrapostos com suas origens científicas num passado distante (século XVIII - primeiras décadas do século XX); o século XXI, por causa de avanços tecnológicos, começa antes de começar, mas ao mesmo tempo, catástrofes também põe o perigo que termine antes de começar. É nesse contexto que podemos falar de um período de transição, "síncrone com muita coisa que está além ou aquém dele, mas descompassado em relação a tudo que o habita". O autor então traz uma reflexão rousseauniana, feita também no início desta fase (aqui parafraseadas): qual a contribuição das ciências? Qual a relação do saber científico e o fosso entre teoria e prática? Essas perguntas eram centrais num período de transição do esoterismo da prática científica (suposto) e sua centralização como nódulo de transformação técnica e social. Em um novo período de transição, de um paradigma a outro, surgem essas perguntas novamente.

Podemos agora falar de um paradigma científico dominante, que começa a se estabelecer com a revolução científica do século XVI. É importante notar que este modelo é totalitário, isto é, policia o caráter racional de todas as formas de conhecimento, partindo de seus pressupostos epistemológicos e regras metodológicas. Santos traça a consciência filosófica deste modelo global de racionalidade científica a Bacon e Descartes. As suas principais características são a luta contra todas as formas de dogmatismo e autoridade, a desconfiança sistemática da experiência imediata, a total separação entre a natureza e o ser humano e o objetivo de conhecer a natureza para dominá-la. Desta forma, o conhecimento científico avança pela observação sistemática e rigorosa dos fenômenos naturais. Dentro do contexto desses pressupostos, as ideias que presidem à observação são claras e simples e, a partir delas, pode-se ascender um conhecimento mais profundo e rigoroso da natureza.

A matemática também um lugar central nas ciências modernas, nas quais conhecer significa quantificar. Desta forma, critica o autor, as qualidades intrínsecas do objeto são desqualificadas. O método científico também se assenta na redução da complexidade. Conhecer significa dividir e classificar para depois poder determinar relações sistemáticas entre o que foi separado. A divisão primordial é aquela entre 'condições iniciais' e 'leis da natureza', sobre a qual se assenta toda a ciência moderna. Assim, obtemos um conhecimento causal que aspira à formulação de leis com vista a prever o comportamento futuro dos fenômenos. A invariância destas leis é outro aspecto central, isto é, posição absoluta e tempo absoluto nunca são condições relevantes. Santos nota que o conceito de causalidade é uma forma privilegiada da causa formal aristotélica que foca em como as coisas funcionam em detrimento de qual o agente ou qual o fim das coisas, havendo uma expulsão da intenção.

O pressuposto metateórico da ciência moderna é, portanto, a ordem e a estabilidade do mundo. O mundo é visto como uma máquina cujas operações são inteligíveis por meio das leis e condições iniciais. Chegamos então na hipótese universal do mecanicismo. O determinismo mecanicista é o horizonte certo de uma forma de conhecimento que se pretende utilitário e funcional, reconhecido pela sua capacidade de dominar e transformar o mundo. Lembre-mos que essas ideias, que constituem o conceito de progresso, surgem a partir do século XVIII e que é o grande sinal da ascensão da burguesia. A ordem e estabilidade do mundo são a pré-condição da transformação tecnológica do real. Esse horizonte cognitivo também se vira ao plano social, pautando o estudo da sociedade.

Falemos agora dos sinais de crise que aparecem sobre o paradigma. O próprio aprofundamento alcançado pelas ciências modernas ditam seu fim, pois demonstram a fragilidade dos pilares nos quais ela se funda.

Crítica

Enquanto Santos caracteriza bem o conteúdo das ciências modernas, desenvolvendo uma caricatura válida do paradigma regente, este é o fim da profundidade do texto. Contrapondo à imagem do cientista do paradigma emergente que o autor propõe, podemos trazer AVP e a dialética. Os caminhos da ciência moderna a levam a sua própria superação (Aufhebung) ao proporcionarem as teorias e coleção histórica que demonstram cientificamente a aparência da realidade. Desta forma, o paradigma dominante, que é mecanicista, quantitativo, e sistematizador, chega em sua negação dialética. Procurando o novo paradigma que se ergue, precisamos entender a realidade em seu movimento, o que requer a dialética. AVP demonstra que o conhecimento percorre o movimento dialético de desenvolvimento e podemos estender estas noções à epistemologia.

Entendamos a autoconsciência proporcionada pela análise científica da ciência. A ciência progride de forma metodológica, criticamente lidando com os limites de seus próprios métodos e procurando maior aprofundamento na realidade. Ao mesmo tempo seu objeto é alterado com sua própria análise – o inquérito científico sobre algo proporciona novos dados e informações que podem transfigurar o objeto estudado radicalmente. Isto fica claro conforme refletimos sobre o progresso das noções ontológicas e funcionais do universo. The proof is in the pudding. Disso, se torna importante notar que é por meio da prática que as questões científicas são comprovadas. Seja em experimentos ou, mais generalizadamente, na praxis do ser humano sobre o mundo, percebe-se maior controle e previsões aproximadas dos fenômenos. Lembremos que a praxis está embutida na ciência, a pesquisa metodológica sobre a realidade que usa da realidade como régua verídica. Assim, por meio de praxis para com a realidade, a ciência se transforma continuamente, chegando ao fim a utilidade dos paradigmas formais e rígidos herdados da revolução científica. Podemos também dizer que nesse momento de crise de paradigma, surge a autoconsciência científica.

Refletindo sobre si, sobre o conhecimento ou estatuto gnoseológico do pensamento, a ciência supera seus limites mais uma vez, desta vez epistemologicamente. O observador absoluto é colocado em xeque, o determinismo é questionado, as partes não parecem compor um todo. Relativiza-se estes conceitos chaves de forma que a ciência precisa se entender como investigadora do mundo e as contradições presentes nesta posição. É necessário superar a imagem comum e enxergar a realidade como ela é: contraditória. Daqui, podemos pautar um paradigma verdadeiramente emergente. Todo conhecimento é um conhecimento humano. Mesmo nas ciências naturais, que tem como seu objeto a natureza, seu determinante é o conhecimento que o ser humano tem, sempre partindo do conhecido para avançar sobre o conhecível, eternamente reduzindo o não-conhecido. Esse é o movimento de humanização da natureza e da produção do ser humano de si mesmo dentro de um universo dado a priori. Trazendo a discussão para Marx (via Vázquez), podemos enxergar a unificação das ciências naturais e das ciências humanas, no sentido dialético. Há unidade entre o ser humano e a natureza, este sendo um ser natural que faz parte da natureza e esta é ser humano em seu conhecimento. Sem cair em antropologização absoluta, lembremos do materialismo que põe o universo como ente existente aquém e além do ser humano, além de cognoscível pela praxis. O novo paradigma que surge é aquele que põe o ser humano em relação prática com a natureza, posição que é contraditória e elucidada pelas leis dialéticas. A natureza tem estatuto ontológico antes do ser humano, mas, ao se tornar conhecida, se torna humanizada. Neste contexto, o desenvolvimento da produção da praxis produtiva (aqui entendida no seu contexto de produção científica), não passa de uma crescente humanização da natureza e, por conseguinte, humanização do ser humano.

A Ciência como Atividade Humana, George F. Kneller

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Zahar Editores, 1980

Título original: Science as a Human Endeavor (1978)

Leitura: Outubro 2023

Esse é um livro meio perdido, que busca dar totalidade para a ciência sem considerar criticamente a ideia de totalidade e particularidade, ou seja, sem a lógica dialética. Mesmo assim, serve como exposição de certas considerações importantes para elucidar a consciência crítica-transitiva do cientista sobre a ciência.

O autor traz as reflexões de diversos filósofos da ciência (quasi-)contemporâneos para examinar suas posições, como Popper, Kuhn, Lakatos, Feyerabend, Maxwell e Gutting.

Para mim, a frase mais importante do livro é:

A Ciência, diz Maxwell, é guiada pela pressuposição metafísica que o universo é inteligível

Discursaremos um pouco sobre o significado, implicações e contrapontos a esta proposição.

Artigos

Lenin without dogmatism, Joe Pateman

2019

https://doi.org/10.1007/s11212-019-09325-6

O dogma é a morte do pensamento crítico, é a crença cega e o culto. O dogmatismo é a sistematização do dogma, do qual fazem parte a censura, verdades absolutas e que resultam no mecanicismo e no culto de personalidade quando consideramos essa doença no comunismo, conforme a história nos mostrou. Pelo fim dos grandes homens, cuja adoração para além de suas contribuições desvalorizam o verdadeiro processo coletivo e plural que é o socialismo (UDC: unidade & totalidade).

Space, Time and the Quantum Theory Understood in Terms of Discrete Structural Processes, David Bohm

1966

http://www7.bbk.ac.uk/tpru/DavidBohm/PS15_DB_Space_time_Kyoto.pdf

A Genealogical Perspective on the Problematic: From Jacques Martin to Louis Althusser, Jean-Baptiste Vuillerod

Livro: Thinking The Problematic

2020

https://doi.org/10.1515/9783839446409-005

O Materialismo Histórico-Dialético e a Educação, Marília Freitas de Campos Pires

1997

https://doi.org/10.1590/S1414-32831997000200006

On Contradiction, Mao Tse-tung

1937

https://www.marxists.org/reference/archive/mao/selected-works/volume-1/mswv1_17.htm

Algumas Reflexões Sobre a Historiografia Contemporânea da Ciência, Shozo Motoyama

1975

https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/133167/129267

Modelling the History of Ideas, Arianna Betti & Hein van den Berg

2014

Os autores apresentam nesse texto um método da história das ideias para combater as críticas apresentadas às versões prévias.

https://doi.org/10.1080/09608788.2014.949217

As Etapas da Cosmologia Científica, Alexandre Koyré

em Estudos de história do pensamento científico, pp. 80-90

Nesse texto, Koyré expõe a evolução do pensamento humano sobre o cosmos, em específico a relação entre astronomia e física. Koyré começa dizendo que na ciência, existe uma posição de oposição ente o homem no mundo e o mundo em que ele vive, isto é, o homem se destaca da natureza para analisá-la. Essa separação ente o homem e o cosmos, por exemplo, é o que delimita a pré-história e história da cosmologia científica, notando aquelas noções que ainda não faziam a desumanização do cosmo por não serem independentes de noções filosóficas, mágicas e religiosas. Esse ponto é importante, pois, para o autor, Ptolomeu, Copérnico, Kepler e Newton criaram teorias que não eram independentes destas noções. Por isso, ele toma cosmologias científicas num tom mais amplo que possa englobar essas doutrinas, a de oposição do homem ao cosmo, surgida na Grécia Antiga. Esta oposição não foi levadas às últimas consequências, e, recorrentemente, surgem ideias de harmonia, ordem, perfeição, o reino de proporção, questões que mantém certa unidade entre o cósmico e o social ou humano – são concepções que sempre unificam o ser humano ao cosmos.

De qualquer forma, é na Grécia que surge o estudo de fenômenos cósmicos como tais, o cosmo como objeto de pesquisa científica. Koyré salienta esse ponto, demarcando a insuficiência dos babilônicos em se desembaraçar da astrobiologia e pela falta do trabalho teórico em sua "ciência" sobre o cosmos. Esse ponto é crucial. Numa visão ultrapositivista e ultrapragmatista de ciência, a Babilônia fazia ciência sobre o cosmos ao observarem os céus metodologicamente, mas, ao não terem um trabalho teórico de fato sobre estas observações, falhavam em fazer ciência de fato. Foram os gregos que, ao preservarem os fenômenos em suas análises e buscarem uma teoria explicativa do observável, deram início à cosmologia científica. Essa exigência do saber teórico é o que determina a ciência em si para o autor. A ciência revela a essência da realidade aparente, elucidando da desordem do dado imnediato, uma unidade real, ordenada e inteligível. Trata-se de descobrir uma realidade mais profunda e que forneça a explicação.

A Desarrazoada Efetividade da Matemática nas Ciências Naturais, Eugene Wigner

1960

[1. Apresentação] Os dois pontos principais do texto são o surgimento de conceitos matemáticos que surgem em conexões inesperadas (físicas) e que permitem uma descrição acurada de fenômenos presentes nessas conexões, e, por não compreendemos as razões desta utilidade, não se sabe se uma teoria formulada é única. Em específico, o autor traz a ideia que o inverso da teoria, ou a teoria de objeto inverso, possivelmente seria capaz de explicar o mesmo número de fenômenos que a teoria atual. Portanto, tratamos da unicidade e identidade da teoria.

[2. O Que é a Matemática] Wigner usa da definição de Dubislav que "a filosofia é o uso incorreto de uma terminologia que foi inventada justamente para este propósito" para fazer um paralelo com a matemática ao dizer que "a matemática é a ciência das operações habilidosas com conceitos e regras inventados justamente para este propósito". Ele não se esquece, contudo, que os conceitos mais básicos da matemática são sugeridos pelo mundo real, ou seja, que a matemática é formulada a partir do mundo real, mas que seus conceitos mais avançados, em aparência, não são. Quando consideramos esta disciplina como uma ciência completamente formal, na definição de Álvaro Vieira Pinto (AVP), percebemos que os conceitos que surgem dela são desenvolvimentos da lógica formal em cima das ideias sugeridas pelo mundo, em direção à uma "estética formal", com a qual o matemático pode demonstrar sua engenhosidade e seu senso de beleza formal.

De fato, o matemático explora o domínio de raciocínio permissível, o raciocínio de identidade não contraditório, evitando o que não é permitido e se aprofundando nas implicações dos axiomas inventados, com a criação de conceitos crescentemente mais complexos para auxiliar no desenvolvimento. Wigner diz que esta é uma atitude que surpreendentemente não nos leva num emaranhado de contradições, mas a identidade forçada pela lógica formal-matemática é somente um emaranhado de contradições que delimitam o que é explorável ao matemático. Ele também nota uma certa "perfeição" no nosso raciocínio, necessária para chegar neste ponto do conhecimento matemático, no entanto, essa ideia de perfeição surge somente da autoconsciência do processo de conhecimento, e não é um ponto terminal de conhecer, mas somente uma de suas etapas. A perfeição é um processo de progresso de enraizamento do raciocínio sobre o mundo. Na matemática, em específico, existe um apelo formal de desenvolvimento: conceitos são definidos tendo em vista permitir operações lógicas engenhosas que satisfaçam nosso senso estético. O autor supervaloriza a ideia de estética quando descreve a matemática, quando na verdade o progresso da lógica formal é auto-impulsionada.

[3. O Que é a Física] A física é, no texto, o conjunto das leis da natureza inanimada, mas o autor não específica o que torna a natureza inanimada. Mesmo assim, prossegue dizendo que o mundo é imprevisível em sua complexidade, mesmo que certas regularidades podem ser descobertas. As leis da natureza referem-se a tais regularidades. Essa regularidade é independente de certas particularidades, determinadas pela própria teoria, isto é, existe uma irrelevância de diversas circunstâncias que poderiam desempenhar um papel no fenômeno observado, chamado de invariância. Esta pode ser entendida como uma simetria conceitual: certos aspectos da realidade (divisão imposta pela teoria) são inconsequentes à lei sendo descrita. Esta invariância é um pressuposto científico e sua presença absoluta separa a matemática e a física – a matemática é completamente invariante, enquanto a física somente aparenta ser, como será explorado a seguir. Porém, esta invariância aparente é uma precondição e fator determinante da física, se não houvesse fenômenos que são independentes de quase todas as condições, salvo um pequeno conjunto de condições controláveis (que confere objetividade e empirismo à teoria), a física seria impossível.

Wigner nota que não é dado que existam leis da natureza ou que elas sejam desvendáveis. Como demonstra AVP, a reflexão da matéria viva sobre a realidade é de fato um fenômeno inédito e emergente na vida. Wigner ecoa o pensamento de AVP também, ao chamar atenção à sucessão de leis com cada vez mais generalidade e abrangência, como se estivéssemos penetrando cada vez mais em camadas mais profundas da realidade. No caso, o conhecimento novo se torna a base de sua própria superação no movimento contínuo de descobrimento da realidade. Ele também nota o conhecimento como algo particular, pois somente parte do conhecimento total é aplicado por uma teoria, a teoria também sendo definida por aquilo que nega considerar. Este é o limite formal da lógica utilizada pelo autor, que não reconhece que o pensar geral do conhecimento acumulado pertence à dialética.

Voltando à invariância, ao pensarmos nas máquinas científicas, o físico cria uma situação na qual todas as coordenadas relevantes são conhecidas, de forma que o comportamento da máquina possa ser previsto. O que a máquina científica faz é aplicar a teoria à realidade, um processo de determinação recíproca de reflexão sobre a realidade. Isto salienta à nossa compreensão de invariância que as leis da natureza são todas enunciados condicionais, por mais que sejam relativamente "mais gerais", sempre se comportam condicionalmente, não chegam a generalidade absoluta de fato. Além disso, mesmo os enunciados condicionais podem não ser precisos. Existe uma limitação adicional do escopo das leis da natureza que segue de sua natureza probabilística.

[4. O Papel da Matemática nas Teorias Físicas] Na física, de acordo com o autor, usamos a matemática para aplicar os enunciados condicinais às condições particulares, ou seja, o uso da matemática é aplicar a teoria conceitualmente. Neste caso, a matemática aplicada está servindo apenas como instrumento, no entanto, ela tem um papel ainda mais importante.


In Defence of Dialetical Materialism: A Response to T. Jayaraman, K. K. Theckedath

2014

Aims to show that dialetical materials stands on its its own – needs no outside support.

Consciousness is a Reflection of the Material World

The concept of reflection is introduced by Lenin in Materialism and Empirocriticism (MEc) to attempt to give an account of the development of matter in its evolution into consciousness:

“Consciousness has no meaning beyond nervous systems akin to our own; it is illogical to assert that all matter is conscious [but it is logical to assert that all matter possesses a property which is essentially akin to sensation, the property of reflection], still more that consciousness or will can exist outside matter”.

(what is inside square brackets is Lenin's words, quoting from Pearson)

The property of reflection is a basic property of all matter: when one material object acts on another, the latter changes in such a way as to reproduce certain characteristics of the former. Going back to Lenin:

"Matter is primary, and thought, consciousness, sensation are products of a very high development. Such is the materialist theory of knowledge, to which natural science instinctively subscribes."

When we consider evolution, we know all living organisms are in a continuous interchange of material (and information) with its surrounding, and this organism's chances of survival is affected by its capacity to react to external influences. The capacity of living bodies to survive is linked to the property of reflection. Living matter transforms this reflection into internal processes to effect a response essential to self preservation. With the development of the central nervous system, highly organized animals have the capacity to anticipate external phenomena. These anticipatory reflections are transmitted, stored, processed and retrieved as information, which does not only circulate within a living organism but is hereditary, both genetically as well as culturally.

Labour, Language and Thought

Engels says that "labour created man himself". The development of labour necessarily helped bring the members of society closer together by increasing cases of mutual support and joint activity. Primitive humans had to act jointly and circulate information of ever greater variety and scope to achieve their goals (such as hunting hard prey). This need of sharing information creates the necessity for a language of signals – not a sensuous image, but a concept, a general idea; the signal itself is a word by which the idea is expressed.

Abstraction and reasoning also play a key role in this development. Humans are able to generalize reality into concepts through abstraction. With the concepts available to a person, they are able to go through a process of reasoning, connecting and developing these ideas into new ones, connecting action and result. The development of thinking and reasoning in humans is seen as the evolution of the matter, without the admixture of any foreign element.

The relation between the actual world and the world of thought has been described by Marx and Engels as a relation mediated by language. In The German Ideology, they say:

“One of the most difficult tasks confronting philosophers is to descend from the world of thought to the actual world. Language is the immediate actuality of thought. Just as philosophers have given thought an independent existence, so they were bound to make language into an independent realm. This is the secret of philosophical language, in which thoughts in the form of words have their own content. The problem of descending from the world of thoughts to the actual world is turned into the problem of descending from language to life.”

The development of consciousness also goes through the evolution of relationships like the subject-object relationship. In the process of labour, humans master some connections of the external world, and some connections between his own and other worker's efforts. Being able to discriminate between the reflections of the environment and of oneself, a person is able to detach themselves from this environment to social relations that develop the process of labour.

Matter and Mind

Lenin gives the definition of matter

"Matter is a philosophical category denoting the objective reality which is given to man by his sensations, and which is copied, photographed and reflected by our sensations, while existing independently of them."

There are two parts of this definition. First, objective reality, which is all that has existed in the real world, that exists and of necessity will exist in the future – it is the entire universe in its mutual transitions and transformations which exist independently of consciousness. Second, it defines the relation between matter and consciousness, asserting that the world is cognizable.

Dialetical materialism holds that the world is cognizable. This cognitive act includes (1) the object of cognition (matter existing beyond consciousness), (2) experimentation (action by humans) on the object with the aid of instruments, and (3) knowledge as a reflection of the object's qualities and distinctive properties discovered during this act. Dialetical materialism approaches the problem of cognition shifting the emphasis to the material basis and objective yardstick of knowledge.

Categories of dialectical materialism

The ultimate concepts of philosophy are called categories. To a materialist, these categories are taken out of nature, categories are stages of distinguishing – of cognizing the world – as humans distinguish themselves from nature. Reasoning and the forms of logic have a similar process, arising from human's evolution over time, over thousands of years and social practice. The laws of thought are said to correspond with the laws of nature. In fact, Engels says in Anti-Dühring

"the products of the human brain, being in the last analysis also products of nature, do not contradict the rest of nature's interconnections"

The Laws of Dialectical Materialism

As enunciated by Engels:

➫ The law of transition of Quantity into Quality
➫ The law of Negation of Negation
➫ The law of Unity and Conflict of Opposites

Dialectics as the science of universal interconnection. Main laws: transformation of quantity and quality – mutual penetration of polar opposites and transformation into each other when carried to extremes, the development through contradiction or negation of the negation – spiral form of development.

As Konder says, it is difficult to make explicit the laws of dialectics, but these should serve as a good base to understand dialectical thought. Dialectics is a developing science.

Lenin emphasizes this third law as the definitive law of dialectics:

"dialectics can be defined ad the doctrine of the unity of opposites"

He also adds the law of reflection as an essential property of all matter.

"The 'essence' of things, or 'substance', is also relative; it expresses only the degree of profundity of man's knowledge of objects: and while yesterday the profundity of this knowledge did not go beyond the atom, and today does not go beyond the electron and ether, dialectical materialism insists on the temporary, relative, approximate character of all these milestones in the knowledge of nature gained by the progressing science of man. The electron is as inexhaustible as the atom, nature is infinite but it infinitely exists. And it is this sole categorical, this sole unconditional recognition of nature's existence outside the mind and perception of man that distinguishes dialectical materialism from relativist agnosticism and idealism."

Philosophy of Scientific Realism and Quantum Theory

Dialetical Contradiction in the Sciences, K. K. Theckedath

1983

The world exists independently of the consciousness of man and it is knowable.

The Abstract And The Concrete in the Definition of Space and Time, K. K. Theckedath

On Historical Materialism, Friedrich Engels

Citações Úteis

"O pensamento consiste tanto em decompor analiticamente os objetos representados na consciência em seus elementos como em unir os elementos conexos numa unidade. Sem análise não há síntese"

– Friedrich Engels

“We have busied ourselves and contented ourselves long enough with speaking and writing; now at last we demand that the word become flesh, the spirit matter; we are as sick of political as we are of philosophical idealism; we are determined to become political materialists.”

– Ludwig Feuerbach

“Seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica.”

– Paulo Freire

"Para Marx, o progresso é algo objetivamente definível, que indica, ao mesmo tempo o que é desejável. A força da crença marxista no triunfo do livre desenvolvimento de todos os homens não depende do vigor das esperanças de Marx neste sentido, mas na pretendida justeza da análise, segundo a qual é neste rumo que o desenvolvimento histórico finalmente conduzirá a humanidade."

– Eric Hobsbawm

"por dura que seja, no entanto, uma derrota é apenas uma derrota; não é a morte. E as derrotas das dialéticas podem sempre vir a ser, dialeticamente, aproveitadas pelos dialéticos"

– Leandro Konder

"El camarada Stalin, llegado a Secretario General, ha concentrado en sus manos un poder inmenso, y no estoy seguro de que siempre sepa utilizarlo con la suficiente prudencia. Por otra parte, el camarada Trotski, según demuestra su lucha contra el CC [Comitê Central (nota de Scalise)], con motivo del problema del Comisariado del Pueblo de Vias de Comunicación, no se distingue unicamente por dotes relevantes. Personalmente, quizá sea el hombre más capaz del actual CC, pero está demasiado ensoberbecido y deja llevar demasiado por el aspecto puramente administrativo de los asuntos"

"Do not debase our revolutionary science to the level of mere book dogma, do not vulgarise it"

– Vladimir Lenin

"A lógica desempenha, pois, o papel de mediação entre o sistema de filosofia, concebido na máxima generalidade, e a teoria da ciência e da pesquisa científica."

"A ciência é uma criação do homem, que descobre a possibilidade de transpor para o plano subjetivo o que é real objetivamente. O homem ao criar a ciência descobre que a cria, ou seja toma consciência da unidade destes aspectos contrários: sua penetração no âmago da realidade, pela praxis da pesquisa, e a simultânea transposição em conceitos universais, em proposições e teorias, dos conhecimentos particulares que vai adquirindo um a um. A lei, enquanto expressão formal, é um produto do pensamento, mas reflete, tal como esse pensamento em geral, a apenas a regularidade entre eles, mas a regularidade entre eles, mas a própria possibilidade de um pensamento, que se desenvolve historicamente até o ponto de se tornar capaz de constituir-se em consciência e conhecimento metódico dos fatos."

– Alvaro Vieira Pinto

"Bolshevism had absolutely no taint of any aristocratic scorn for the independent experience of the masses. On the contrary, the Bolsheviks took this for their point of departure and built upon it. That was one of their great points of superiority."

– Leon Trotski


Lista de Leitura Futura

Esta subseção serve somente para eu me organizar com os livros que eu quero ler. É um plano para o futuro!

Formalize o plano de ação!

Bloco 1: Ciência ± Filosofia

  1. Materialismo e Empirocriticismo; Lenin
  2. A Estrutura das Revoluções Científicas; Kuhn
  3. Um Discurso Sobre as Ciências; Santos
  4. A Ciência como Atividade Humana, Kneller
  5. Ciencia y Revolución; Vázquez
  6. Filosofia da Praxis; Vázquez
  7. Consciência e Realidade Nacional (I + II); Vieira

➾ expectativa: 6 - 8 meses

Bloco 2: coleção bases com agregade

  1. Oposição Operária (26); Kollontai
  2. Reforma Social ou Revolução (48); Luxemburgo
  3. A Libertação da Mulher (15); Multiplas Autoras
  4. Como Fizemos A Revolução (7); Trotski
  5. Centralismo Democrático; Trotski + Lenin + Moreno

➾ expectativa: 2 - 4 meses

Bloco 3: Política & Política-aplicada

  1. A Ditadura Revolucionária do Proletariado; Moreno
  2. O Partido e a Revolução; Moreno
  3. Lógica Marxista e Ciências Modernas; Moreno
  4. La revolucíon permanente; Trotski
  5. El programa de transición (para la revolucíon socialista); Trotski
  6. Actualización del programa de transicion; Moreno
  7. Racismo Estrutural; de Oliveira
  8. As Veias Abertas da América Latina; Galeano
  9. Por uma outra globalização; Santos

➾ expectativa: 4 - 8 meses

Bloco 4: Dialética

  1. Dialética do Concreto; Kosik
  2. Dialectical Logic; Ilyenkov
  3. A Dialética Como Lógica e Teoria do Conhecimento; Kopnin
  4. Lógica Formal / Lógica Dialética; Lefebvre
  5. Introdução à Dialética; Adorno
  6. Dialética do Esclarecimento; Adorno
  7. Dialética Teoria Práxis; Bornheim
  8. A Dialética Materialista; Cheptulin
  9. Filosofia Dialética Moderna; Röd
  10. The Dialectics of the Abstract and the Concrete in Marx's Capital; Ilyenkov

➾ expectativa: 8 - 12 meses


Bloco 5: T-t-t-teoria MARXISTA! (receita nova, com ainda mais dialética!)

  1. Concepção Dialética da História; Gramsci
  2. A Contribution to the Critique of Political Economy; Marx
  3. Os Intelectuais e a Organização da Cultura; Gramsci
  4. A Sagrada Família, Marx & Engels
  5. A Ideologia Alemã; Marx
  6. Science of Logic; Hegel 🜏
  7. Das Kapital; Marx (se eu não tiver aprendido alemão até aqui, posso ler em português :( )

➾ expectativa: ∞

Crítica e Auto-crítica

Caso alguém encontre alguma utilidade desta página, mesmo com suas limitações já mencionadas, eu gostaria que esta pessoa tivesse a oportunidade de interagir e criticar. Contestar, refletir e sintetizar é o que nos permite crescer em nossas concepções. Fica aqui, portanto, este espaço, onde pode ocorrer essas discussões e o diálogo de posições contrárias que ditam o rumo dialético das ideias.

Crítica

  1. Do filme, Captain Fantastic:
Ben: Ask her what she thinks of the working people creating an armed revolution against the exploiting classes and their state structures ?
C.F. Well, Marxists can be just as genocidal as capitalists.
Ben: Or whether or not she's a dialectical materialist and accords primacy to the class struggle ?
C.F. Avoid Marxism. Or telling her you're a Trotskyite.
Ben: Trotskyist. Only a Stalinist would call a Trotskyist a Trotskyite. And I'm not a Trotskyist anymore. I'm a Maoist.

Auto-crítica

  1. Inicialmente, a contextualização da minha visão marxista tinha somente caráter negativo, porém, após conhecer a leitura de Žižek sobre Lenin, percebi a necessidade de também ser afirmativo.
  2. Após leitura sobre o materialismo, que continua em andamento, percebi certas tendências idealistas que precisavam ser contraditas. Meu lado cientista me ensina a interpretar o mundo de forma eternamente relativa em conexão com os modelos e limites do alcance do conhecimento em qualquer etapa da consideração sobre o mundo, enquanto meu lado materialista, emprestado de Lenin, principalmente, indica que não pode-se cair nos limites empirocríticos, de reduzir o reflexo da matéria em si, e não de entendê-los na totalidade da matéria. Quando lembramos que estamos internos da totalidade da realidade, que somos parte do fenômeno que observamos, que observar é um fenômeno em si, cria-se a necessidade da existência da matéria e, portanto, do materialismo. Assim, as reflexões trazidas sobre a existência da realidade e sobre nossa capacidade de observá-la, se tornam dialéticas. Vivam as contradições da matéria pensante, das lentes que conceituam e a dinâmica da informação!



[ EM {eterna} CONSTRUÇÃO ]